MST reúne 30 educandos no 4º Curso de Comunicação, no Paraná
Por Fernanda Almeida e Paulo Rogério
Da Página do MST
“Lutar, comunicar, construir o poder popular”! A palavra de ordem utilizada pelo Setor Comunicação do MST resume o objetivo dos cerca de 30 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que participaram da 4ª edição do Curso de Comunicação Popular Ulisses Manaças, entre os dias 8 e 19 de junho.
A atividade foi realizada no Espaço Marielle Vive de Formação e Cultura, que faz parte da Vigília Lula Livre, localizada ao lado da Superintendência da Polícia Federal onde o ex-presidente Lula é mantido preso político. O curso leva o nome do comunicador popular Ulisses Manaças, falecido em agosto de 2018. Ele viveu na região amazônica e foi um dos criadores do Setor de Comunicação Nacional do MST.
Entre os conteúdos do curso estava a formação em audiovisual, rádio, fotografia, redes sociais, produção de texto, análise de mídia, história da comunicação, debate sobre a igualdade de gêneros, segurança de redes, conjuntura e a disputa da hegemonia.
Para o MST, a comunicação tem um papel estratégico na disputa da hegemonia e na narrativa sobre a realidade. É o que relata Ednubia Ghisi, integrante da Coordenação Político Pedagógica (CPP) do curso: “A comunicação é um dos instrumentos de luta necessários para enfrentar o latifúndio e construir uma nova sociedade. Os cursos têm o papel de multiplicar a pratica e a compreensão da comunicação popular nas bases do movimento”.
“O curso de comunicação é fundamental para nosso pensamento crítico. A gente consegue ter uma análise social e política do que acontece em nosso país e globalmente e como a mídia manipula a classe trabalhadora”, afirma Gustavo Gonçalves, morador do acampamento José Lutzenberger, de Antonina, e educando do curso.
Além das atividades do curso, os educandos participaram de programações externas e práticas de cobertura. A noite do 9 foi emocionante para a maioria da turma, pois para muitos foi a oportunidade de assistir pela primeira vez um filme no cinema. O grupo participou do lançamento do documentário “Chão”, que conta a história de um acampamento do MST de Goiás, exibido no 8º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. O filme é dirigido por Camila Freitas e ganhou dois prêmios no Festival.
Como prática do curso, os educandos e educandas foram a campo para a cobertura da Greve Geral de 14 de junho contra a reforma da previdência e cortes na educação, que foi considerada uma das maiores mobilizações da classe trabalhadora brasileira neste primeiro semestre de 2019.
Para a educanda Raquel Viana, moradora do acampamento Dom Tomas Balduíno, de Quedas do Iguaçu, uma das principais atividades do curso foi a cobertura da greve: “Colocamos em prática o que aprendemos na teoria. Foi uma cobertura que alcançou vários públicos”.
Todos os educandos receberam o certificado de conclusão do curso com a carga horária 98 horas. Agora retornam para suas bases com a importantíssimo trabalho de dar continuidade à construção do Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR.
Mão na massa
A partir das práticas do curso, parte da turma continuou no mesmo ritmo e viajou até a Lapa para fazer a cobertura da festa da colheita, que reuniu mais de mil pessoas para comemorar os 20 anos do assentamento Contestado, no dia 22.
Outro desafio assumido pelos comunicadores foi a produção de conteúdos sobre as mobilizações pela liberdade do ex-presidente Lula nos dias 24 e 25 de junho, na Vigília Lula Livre. Mais de 400 militantes do MST, de todas as regiões do Paraná, estiveram em Curitiba na expectativa de que o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) pudesse colocar Lula em liberdade.
Frutos da Vigília
Desde que a Vigília Lula Livre começou, em abril de 2018, a passagem da militância do MST no espaço tem avançado em intencionalidade, com formação, organização e luta permanente. Exemplo disso é a realização das quatro edições do Curso de Comunicação Popular, nos meses de outubro novembro abril e junho.
“Fazer o curso numa cidade igual a Curitiba e ao lado da Vigília Lula Livre é um diferencial para nós, pois geralmente os cursos são realizados nas bases”, afirmou Juliana Barbosa, integrante da CPP do curso.
Além dos cursos de Comunicação, o Espaço Marielle Vive já recebeu Cursos Básicos de Formação de Formadores, Curso Chê, Curso de Música, além de dezenas de formações, plenárias e exibições de filmes em que a militância do Movimento participou.
Greve Geral em poesia: “Um dia para nos salvar”
Ariulino Alves Morais, conhecido com Seu Chocolate, é agricultor e vive no assentamento Guanabara, localizado no município de Imbaú, no Paraná, e participou da turma do 4º Curso de Comunicação. Seu Chocolate é militante do MST desde o início dos anos 1980, e além de cultivar alimentos agroecológicos, conta em em versos a vida no campo e a luta pela transformação. O poeta lançou o livro “Vida, Luta e poesia” em 2018, durante a 17ª Jornada de Agroecologia.
Aos 75 anos e com muita disposição, seu Chocolate participou intensamente das ações da Greve Geral em Curitiba e Região Metropolitana, no dia 14, e resumiu o que viveu em uma poesia:
Na poesia a seguir, seu Ariulino mostra o seu olhar sobre a Greve:
Por Areulino Alves Morais (Chocolate)
“O movimento Sem Terra pensou
É preciso ir além da terra
É necessário entrar nesta guerra
Não é de foice nem facão
Olhar para outra dimensão
Enfrentar o modelo dominante
Uma forma que nos garante
Libertando das falsas comunicações
O setor de comunicação
Aproveitou nossa vigia
Criando esta maravilha
Um espaço para estudar
Forma de se preparar
Para o dia da grande vitória
Fazer a nossa memoria
Melhorando a forma de lutar
Doze dias estudando
E um dia para se manifestar
Ir para a greve para reforçar
Lutar junto com os companheiros
Indignação dos brasileiros
Contra um governo incompetente
A vergonha da nossa gente
Virou um pais dos traiçoeiros
O estudo de Comunicação
Para transmitir a verdade
Comunicar – se com serenidade
Buscando nossa independência
Audiovisual com transparência
Transmitindo amor e dedicação
Enfrentar os meios de comunicações
Que afeta a nossa consciência
Nosso curso também se mostrou
O que a grande mídia faz
Se juntando com o poder é capaz
De prender trabalhador inocente
Transformando o povo em serpente
Ou transformando em sofredor
Na alegria ou na dor
Entramos nas ondas, sendo diferente
A história da comunicação
Ao longo de muitos anos
As técnicas foram modificando
Tão bem foi monopolizada
Pelos poderes gerenciada
Transmitindo o que bem queria
Em uma falsa democracia
Com gente sendo torturada
Fiquei muito feliz
Em ver nossos próprios militantes
Ensinando mais comandante
Com sucesso na comunicação
Melhorar a nossa organização
Comentada nas redes sociais
Buscando cada vez mais
Dos trabalhadores sua libertação
Fiquei feliz também
Ver jovem escrevendo a poesia”
Para mim uma grande alegria
São os valores essenciais
Rebeldias fundamentais
São a esperança de um mundo novo
São luzes para o nosso povo
As angustias ficarão para traz”
*Editado por Fernanda Alcântara