Mulheres quilombolas é tema de exposição no Paraná

A exposição fotográfica acontece no Centro Cultural Casarão, no assentamento Contestado (PR)
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 Foto de mulheres rachando lenha fazem parte da exposição. Foto: Isabelle Neri

Por Redação
Da Página do MST

No dia 22 de junho aconteceu a abertura da exposição itinerante “Olhar Ancestral: Memória e Cultura Quilombola” de Isabelle Neri Vicentini no Centro Cultural Casarão, no assentamento Contestado, Lapa (PR). A mostra é resultado da pesquisa intitulada “A fotografia como ferramenta de sensibilização ambiental com mulheres das comunidades remanescentes quilombolas da Lapa-Paraná”, no Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo.
 

A exposição pretende dar valor ao sensível, ao artesanal, ao fogão à lenha esquentando o feijão, ao labor delicado e forte produzido nas comunidades remanescentes quilombolas, que irradia a esperança de dias melhores. Segundo a fotógrafa, entrar numa comunidade tradicional é conhecer essa realidade, comum aos moradores, mas que precisa ser  contada urgentemente.

“A narrativa faz parte de histórias que busco agora, que precisam ser valorizadas e relembradas, para que sejam preservadas no tempo. Elas demonstram a resistência de um povo cujos rostos e gestos, eternizados pelo registro fotográfico, permanecerão guardados à gerações futuras”, comentou a fotógrafa Isabelle Neri.
 

Isabelle Neri Vicentini é jornalista, produtora cultural, mestre e doutoranda em Gestão Ambiental. Recebeu menção honrosa no IV Concurso Internacional de Fotografia Mercocidades em 2004 e atualmente trabalha com comunicação, produção cultural e é docente do Curso Superior de Fotografia da Universidade Positivo.

O orientador da pesquisa, o Prof. Dr. Mario Sergio Michaliszyn, comentou que a exposição fotográfica da Isabelle é um dos produtos de sua dissertação de mestrado em Gestão Ambiental e a ela se somam o jogo da memória quilombola e um fotolivro.

 

“Tratam-se de ferramentas, recursos didáticos que serão utilizados em ações de educação ambiental, cuja intenção é que circulem por escolas e comunidades, sensibilizando as pessoas para a problemática ambiental e a valorização da cultura quilombola”, comenta Michaliszyn. Com seu trabalho, Isabelle integra o Grupo de Estudos sobre Populações Tradicionais do PGAMB, da Universidade Positivo. 

De acordo com Sylviane Guilherme, integrante do coletivo de trabalho do Centro Cultural Casarão e do Setor de Comunicação e Cultura do MST do Paraná, “a exposição é uma reviravolta na história da região pois, para além da qualidade técnica, estética e artística do trabalho da Isabelle estar acessível em um equipamento cultural no campo, as pessoas retratadas nestas fotografias estão tendo a visibilidade que foi negada às suas ancestrais”. 
 

Sylviane Guilherme ressalta também o fato destas mulheres serem camponesas que resistem na terra e com a terra. “Elas são bisnetas, netas e filhas das escravizadas e escravizados que um dia ocuparam apenas o porão escuro, úmido e frio da parte posterior do casarão. Hoje estão valorizadas e reconhecidas em retratos de quase dois metros dentro da casa grande. As fotos gigantes retratam mulheres gigantes da nossa história”. 

A mostra é um convite para conhecer através da imagem o universo de mulheres das Comunidades Remanescentes Quilombolas da Lapa-PR e compreender a realidade feminina dentro da comunidade num momento fundamental para o reconhecimento do valor da cultura quilombola. A exposição permanece até o dia 31 de agosto, com entrada gratuita.

Centro Cultural Casarão
 

O Centro Cultural Casarão é o primeiro espaço de arte em área de reforma agrária da região sul do Brasil. Localizado no assentamento Contestado, no município da Lapa, o antigo casarão do período colonial data sua construção por volta da primeira metade do século XIX. O espaço foi sede da Fazenda Santa Amélia e levantado de barro e pedra pelas escravizadas e escravizados negros que pertenceram ao poderoso senhor de terras, o Barão dos Campos Gerais. 
 

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Centro Cultural Casarão – Foto: Estefano Lessa

Já sede comunitária do assentamento Contestado, nos últimos seis anos o casarão passou por um logo processo político e técnico para realizar a reforma e recuperação das suas estruturas arquitetônicas, e desde julho de 2018 funciona como espaço de arte, cultura e memória recebendo visitantes de vários lugares do mundo.

Atualmente, o Centro Cultural Casarão realiza exibições de cinema, exposições de artes visuais, círculos de literatura, espetáculos de teatro, dança, circo e shows de música, além de oficinas, encontros e aulas das mais diversas linguagens artísticas. Suas programações são acessíveis não somente para a comunidade do assentamento, como também para as comunidades rurais do entorno e o público urbano, como Balsa Nova, Lapa e Curitiba. 
 

A luta do MST transcende a luta pela terra, pelo alimento sem veneno, pela saúde popular e a educação do campo, ela se humaniza no seu cume ao combinar todas estas bandeiras à luta pelo direito inadiável de todo Sem Terra deste país conhecer e fazer arte hoje, enquanto trabalha, estuda, celebra, sofre e luta, cotidianamente pelo direito à uma vida digna.
 

Serviço

Artes Visuais: Exposição “Olhar Ancestral: Memória e Cultura Quilombola”  de Isabelle Neri

Local: Centro Cultural Casarão – assentamento Contestado, Lapa (Paraná).

Classificação etária: Livre para todos os públicos