Derrotar a Alca para garantir nossa soberania
Por Luiz Bassegio*
Houve um importante avanço na luta contra a ALCA no III Encontro Hemisférico Contra a Alca. Todos os presentes se deram conta e saírão convencidos que somente mobilizações massivas e simultâneas permitirão fortalecer a nossa luta e derrotar o projeto imperialista de imposição da ALCA.
Como pontos importantes neste processo de avanço da luta contra a ALCA, queremos destacar o fato de se ter definido como eixo comum articulador, barrar a implantação da ALCA, permitindo a soma de muitas forças e levando a organizar marchas, consultas, calendários comuns; enfim, superando a departa-mentalização; o trabalho pedagógico de conscientização das massas que as consultas e plebiscitos suscitaram; as manifestações massivas realizadas em Quebec, Quito, Porto Alegre, Buenos Aires, La Paz, Cancun e Miami. A Campanha também permitiu que um tema complexo, oculto, discutido apenas por técnicos e governantes, se tornasse um tema discutido pelo povo, pelos movimentos sociais, de forma a fazer entender que a ALCA é uma estratégia de dominação econômica, política, militar e cultural do governo estadunidense. Por fim, nos demos conta que a luta não é apenas contra a Alca, mas, principalmente contra o sistema capitalista. A luta contra a Alca é um dos campos de batalha.
Entretanto, ainda há algumas debilidades a serem superadas neste processo: é necessário que ocupemos mais os espaços dos meios de comunicação; falta-nos uma proposta alternativa, aglutinadora e suscitadora da unidade popular continental; precisamos realizar mais ações de massa continentais e simultâneas para que possam causar maior impacto; ampliar nossas articulações com outros setores como universidades, prefeituras, parlamentares etc e precisamos de uma agenda propositiva em contraposição a agenda do capital.
Entendemos que não nos interessa nem Alca Light, nem à La Carta. Esta é apenas uma estratégia dos EUA para continuar com seu domínio imperial e do Brasil para ter acesso ao mercado agrícola, ou seja que alguns dos nossos produtos possam entrar no mercado norteamericano. Sabemos que eles poderão até retirar algumas tarifas e subsídios, mas desde que o Brasil não conceda as mesmas condições para os produtos da Europa. Na verdade, o Brasil tem que tomar muito contrário para não se ver obrigado a ceder tudo diante de uma possível liberalização por parte dos EUA para alguns de nossos produtos agícolas “competitivos”.
Cabe reafirmar aqui as conclusões do III Encontro Hemisférico de Luta contra a Alca de Havana que somente organizações massivas e simultâneas, em todo o continente, nos livrarão de mais esta impostura e garantirão a nossa soberania.
O plano de ação retirado do encontro destaca algumas datas como fundamentais neste processo continental de luta contra a ALCA. Somando-se a uma proposta que partiu do IV FSM – Fórum Social Mundial – realizado na Índia, haverá uma grande manifestação mundial contra a guerra, pela retirada imediata das tropas americanas do Iraque e pelo ressarcimento dos danos causados a este país.
Outras duas datas importantes tem a ver com a realização do encontro dos ministros que negociam a ALCA, que acontecerá este ano, no Brasil, com data a ser definida. Os países também realizarão manifestações durante a convenção do partido republicano de Bush que deverá confirmar sua candidatura à reeleição para o cargo de presidente dos EUA. Nestas datas, além das grandes manifestações em todos os países, serão realizadas vigílias e mobilizações contra a ALCA em frente às embaixadas americanas, a fim de impedir a reeleição de Bush, já que os participantes do encontro consideram este cidadão uma ameaça permanente e um perigo constante para a humanidade.
Na carta final do encontro da Coordenação doa Movimentos Sociais, realizado em São Paulo, também podemos ler nas conclusões: “o não ingresso do Brasil na Alca e o fortalecimento das relações com a América Latina”. Temos que manter a luta contra qualquer tipo de Alca, intensificar as mobilizações, trazendo a público aquilo que os negociadores querem manter em segredo. Não vamos descansar até que vejamos o nosso continente livre da ameaça da ALCA
* Luiz Bassegio, Secretário do Grito dos Excluídos Continental e da Coordenação da Ccampanha Continental contra a Alca.
As principais mobilizações do ano
Em 20 de março, ocorrerá a jornada mundial de protesto contra a guerra e a ocupação do Iraque. Na América Latina, o protesto engloba a luta contra o Plano Colômbia, o Plano Puebla-Panamá e a exigência do encerramento das bases militares dos Estados Unidos no Hemisfério, incluindo Guantánamo;
Mobilização em 24 de Abril contra o Fmi, o Banco Mundial e a Dívida Externa, no 60º aniversario dos Acordos de Bretton Woods, que levaram à criação destes organismos.
Ainda sem data definida, mas provalmente em julho, no Brasil, vai acontecer a reunião definitiva com os ministros que negociam a Alca. Para esta data, está prevista a Jornada Continental de Luta contra a Alca, com uma manifestação massiva no local do encontro, atos e vigílias nas embaixadas dos Estados Unidos.
Durante a convenção do Partido Republicano estadunidense, em agosto – sem data definida – estão marcados protestos e vigílias nas embaixadas dos Estados Unidos, contra a intensão de ratificar a candidatura de George W. Bush para reeleição.
Breves
Conar condenou a Monsanto
O Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), acatando parcialmente a representação do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) determinou à empresa Monsanto do Brasil que modifique sua campanha publicitária considerando que esta transmite idéias erradas sobre os transgênicos e incentiva práticas ilícitas.
Agora é lei!
O consumidor deve exigir a rotulagem de transgênicos. A partir de 1° de Fevereiro todo produto que contenha mais de 1% de organismios geneticamente modificados na sua composição é obrigado a trazer o símbolo de transgênicos no rótulo.
Nova lei da Biosegurança é aprovada
Câmara dos deputados aprovou, após longo debate, no dia 5 de fevereiro, o Projeto de Lei de Biosegurança. A versão final libera o plantio e comercialização de transgênicos na safra 2005 e garante que a liberação comecial de produtos transgênicos no país seja precedida de avaliações de impacto ambiental e de riscos à saúde, conduzidas por órgãos que representam o Ministério da Saúde e Meio Ambiente.
Cartas
Sou de um acampamento chamado Nova Canudos em Iaras e estou acampado a cinco anos e acho que a luta pela terra é muito e muito dura. Já está na hora de radicalizar a luta. Parece que não mudou nada. Nó é que temos lutar pra mudar. Iaras Canudos não se rendeu ainda!
Gilberto Fabiano – [email protected]
Vejo no MST o maior movimento de transformação social de toda a história brasileira. Certamente que a radicalização do MST, como alguns direitistas acusam, é menor que a das elites dominantes que tantos danos e sofrimentos tem causado ao povo brasileiro. Isso é corroborado pela utilização da mão-de-obra escrava e pela apropriação das terras dos quilombos por parte de integrantes dessa elite, como a imprensa tem denunciado. Desejo total sucesso ao MST. Para que a justiça social se estabeleça no campo, resgatando da escavidão e da humilhação tantos irmãos que hoje sofrem nas mãos dos “coronéis” da política e da economia. Espero que o MST interfira junto ao poder político no sentido de que as terras onde é utilizada a mão-de-obra escrava sejam desapropriadas e revertidas, de imediato, para a Reforma Agrária.
Ivan Fassheber – [email protected].
Sou professora de escola pública do Paraná e estive nas comemorações dos 20 anos do Movimento em São Miguel do Iguaçu. Confesso que me emocionei muito… bebendo a cachaça do Maranhão, conhecendo as iguarias mineiras, visitando os locais do alojamento…a cozinha. Encontrei alguns ex-alunos que estão integrados no movimento, fazendo o que há muito a escola pública do Paraná não faz: valorizar o trabalho deles. Isso realmente me deixou emocionada.
Nós deveríamos observar mais e aprender com vocês.
Inês Menegazzo – [email protected]