Estudantes retomam antigo terreno da UNE destruído pela Ditadura Militar

Depois de um longo período de batalhas judiciais estudantes conseguiram recuperar o terreno pertencente à União Nacional dos Estudantes (UNE). O local abrigava o antigo prédio da entidade que foi incendiado e demolido pela Ditadura Militar em 1964. Desde a última quinta, 1° de fevereiro, a UNE está de volta ao seu antigo endereço.

Estudantes de diversas partes do país que estavam reunidos no Rio de Janeiro por conta da 5ª Bienal de Arte e Cultura fizeram uma manifestação histórica pelas ruas da capital carioca. Eles ocuparam o terreno que tinha se transformado em estacionamento irregular. Dirigentes da UNE de diversos períodos participaram da manifestação.

Com a força dos próprios braços os estudantes derrubaram os portões do terreno. Com o lugar já todo ocupado, os estudantes levantaram bandeiras, cantaram o Hino Nacional e o Hino da Une. Apesar do uso da força, a manifestação foi totalmente pacífica e além das já conhecidas palavras de ordem, contou também com performances artísticas dos estudantes.

Acampamento

Cerca de duzentos estudantes já estão acampados no lugar e prometem ficar até o inicio das obras. É o que diz Augusto Viana, aluno do curso de Direito em Betim MG. “A idéia é fazer uma ocupação solidária, além de nós que já estamos aqui, outros estudantes virão nas próximas semanas para um rodízio, é um momento histórico e todos querem participar”.

O Coordenador-geral da Bienal, Tiago Alves, um dos acampados, disse que o objetivo é fazer uma ocupação cultural do espaço: “Vamos montar uma lona e trazer grupos das comunidades, projetos dos pontos de cultura, enfim, fazer deste acampamento um local alegre e pacífico”.

História

A UNE foi fundada em 1937 e, sem endereço fixo, conquistou sua sede com ousadia. Em 1942, também numa grande manifestação, os estudantes ocuparam o prédio do Clube Germânia – reduto de simpatizantes nazistas – na Praia do Flamengo, 132. Pouco depois, o presidente Getúlio Vargas doava definitivamente o edifício à entidade.

Em 1964, o primeiro ato do regime militar foi destruir a sede da UNE. Os estudantes continuaram lutando na clandestinidade, muitos foram mortos ou torturados. Já na década de 80, o antigo prédio foi demolido e ocupado, ilegalmente, por um estacionamento.

O presidente Itamar Franco devolveu a escritura do terreno para a entidade em 1993. Porém, as dificuldades da justiça impediram que a UNE tomasse posse do lugar. Há poucas semanas, o prefeito do Rio, César Maia, interditou o estacionamento clandestino. Foi a deixa para o movimento estudantil retomar o que sempre foi seu.

Hoje, com o registro de imóveis já devidamente atualizado pelo seu departamento jurídico, a UNE espera a liberação para começar as obras do novo prédio.

Com informações do site www.une.org.br/bienal