Sem Terra ocupam sedes da Codevasf na Bahia
Cerca de 2.000 pessoas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com apoio de organizações e outros movimentos sociais, ocuparam ontem, dia 5 de maio, as sedes da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) de Juazeiro, Barreiras e Bom Jesus da Lapa, todas na Bahia. A tarde foi marcada audiência em Brasília, mas as ações têm prazo indeterminado para acabar.
A pauta de reivindicações das três ocupações tem como pontos o cumprimento de acordos para infra-estrutura em áreas de assentamentos e acampamentos, como irrigação e perfuração de poços artesianos. Entretanto, o principal trata da ocupação na área do projeto Salitre, em Juazeiro, desde o início do mês de abril. Segundo informações do superintendente interino da Codevasf naquela cidade, Joselito de Souza, a presidência da entidade deverá cuidar do assunto.
“O Clementino Coelho deu declaração que dos pontos da pauta, negociada há mais de um ano, 14 já tinham sido resolvidos e não entendia o que esse povo queria com o Salitre. Isso não aconteceu, os assentados estão aqui querendo saber onde foram feitos esses 14 pontos. Não tem nova pauta é a mesma”, afirma o articulador político do MST na região do Submédio São Francisco, Jailzon Santos Pena.
Ele se refere ao diretor da área dos Empreendimentos de Irrigação e ao acordo firmado, em abril de 2006, com os então ministros Pedro Brito e Jacques Wagner – hoje governador da Bahia. Na época, o acordo assegurava o assentamento de 800 famílias na área do projeto Salitre.
O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, nas três audiências que aconteceram em abril, uma em Salvador (BA) e duas em Brasília (DF), disse que não cumprirá o acordo. Ele afirma que a área é para a instalação de empresas e não de pequenos agricultores. As declarações também se referem à ocupação no projeto Pontal Sul, em Pernambuco.
“Ter a terra pra trabalhar, os projetos e os recursos são as vidas dos nossos filhos e a nossa. Morrer de fome, no meio da pobreza e analfabeto, não podemos aceitar. A escravidão no Brasil acabou, nós temos que ter dignidade. É a nossa vida contra as contra o ministro que pega a pauta do trabalhador e joga fora, empurra a mesa em cima do trabalhador e diz que a gente não vale nada”, disse Valmir de Oliveira, da direção do MST na Bahia.
A ocupação em Juazeiro envolve cerca de 700 pessoas e tem o apoio de organizações que atuam na articulação popular pela revitalização e contra a transposição do rio São Francisco: Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Sintagro, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), entre outros. Em Barreiras, a ação é organizada apenas pelo MST e envolve cerca de mil trabalhadores. Em Bom Jesus da Lapa a ação tem o apoio do Movimento Estadual dos Trabalhadores Assentados Acampados e Quilombolas da Bahia (CETA).
A audiência em Brasília, acontece amanhã, dia 9, pela manhã, e deve ter a participação do presidente da Codevasf, Orlando César da Costa Castro, Ouvidoria Agrária Nacional, os superintendentes do Incra nacional e da Bahia, três representantes do MST e um do CETA. A determinação do Movimento é manter as ocupações até a pauta ser cumprida.
O delegado da Polícia Federal em Juazeiro, Alexandre Almeida Lucena, afirma não pretender usar a força para desocupar. Ele disse estar “constrangido de falar que o pessoal vai cumprir o acordo e um ano depois o povo chegar de novo, com as mesmas reivindicações”. Os trabalhadores da Codevasf estão com livre acesso às dependências dos prédios.