Organização promove abaixo-assinado contra transgênicos
O WRM (Movimento Mundial pelas Florestas) está promovendo um abaixo-assinado pedindo a proibição das árvores geneticamente modificadas para a produção de celulose.
O desenvolvimento de pesquisas nessa área é encabeçado, por exemplo, por grandes transnacionais como Aracruz Celulose, notoriamente conhecida como inimiga da reforma agrária, da soberania indígena e do meio ambiente.
A carta do abaixo assinado será entregue entre ao SBSTTA (sigla em inglês para “Órgão Subsidiário para Assessoramento Científico, Técnico e Tecnológico”), que se reunirá entre os dias 18 e 22 de fevereiro, em Roma, para discutir o tema das árvores transgênicas. O SBSTTA é braço científico da CDB (Convenção sobre Diversidade Biológica), um acordo de cooperação internacional responsável pelo debate sobre biotecnologia, diversidade biológica e desenvolvimento sustentável.
O WRM pede para que as organizações que acreditam e apóiam a causa incluam suas assinaturas por meio do endereço eletrônico [email protected]. Confira abaixo a carta do abaixo-assinado.
Nós, abaixo-assinad@s, membros de organizações de países onde estão sendo realizadas pesquisas sobre a modificação genética de árvores, queremos aqui expressar nossas preocupações:
1. A manipulação genética realizada aponta para a consolidação e expansão de um modelo de monocultura de árvores que já tem resultado em graves impactos sociais e ambientais em muitos dos nossos países.
2. O uso de árvores transgênicas agravaria ainda mais os impactos já constatados sobre a água, dado que uma das características que se deseja introduzir é um crescimento mais rápido, o que significaria um uso mais intenso de água por pelas plantações.
3. Está sendo investigada a introdução de genes que aumentem a resistência das árvores ao frio, com o objetivo de plantá-las em regiões mais frias e mais altas. Isso implicará em impactos sociais e ambientais em áreas ainda não-impactadas por monoculturas de árvores.
4. Também estão sendo realizadas pesquisas para que as árvores possuam características inseticidas, com o objetivo de fazê-las mais resistentes ao ‘polilla del brote’ (Ryacionia buoliana). O resultado poderia ser a mortalidade de uma quantidade de outras espécies de insetos, com os conseqüentes impactos sobre as cadeias alimentares da fauna local e possivelmente o comprometimento da polinização de espécies da flora nativa vinculada a tais insetos.
5. Além disso, estão sendo realizadas pesquisas para introduzir genes que aumentam a tolerância das árvores ao herbicida glifosato o que produzirá impactos socioambientais ainda maiores, como a destruição da flora local e problemas de saúde nas pessoas.
6. A pesquisa que está sendo realizada para obter eucaliptos com uma maior quantidade de celulose e consequentemente uma menor quantidade de lignina, componente que garante a força estrutural da árvore, a deixará mais frágil e menos resistente às ventanias, podendo causar danos graves.
Vale ressaltar que na última Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (COP8) adotou-se a decisão VIII/19 (Diversidade Biológica Florestal: aplicação do programa de trabalho), que “Recomenda às Partes adotar enfoques de precaução ao tratar a questão das árvores geneticamente modificadas”. Ao fundamentar tal decisão, a COP8 observou: “Reconhecendo as imprecisões [incertezas] relacionadas com os impactos ambientais e socioeconômicos potenciais, incluindo os impactos de longo prazo e além das fronteiras, das árvores geneticamente modificadas sobre a diversidade biológica das florestas a nível global, bem como sobre os meios de subsistência das comunidades indígenas e locais, e dada a ausência de dados confiáveis e da capacidade de alguns países para levar a frente avaliações de risco e avaliar esses possíveis impactos…”
Por fim, solicitamos que seja recomendada à Convenção sobre a Diversidade Biológica a proibição definitiva das árvores geneticamente modificadas, incluindo as pesquisas de campo, devido aos graves riscos que elas trazem para a diversidade biológica do nosso planeta.