Insegurança alimentar
Da Carta Capital
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O Conselho Nacional de Biossegurança liberou, na terça-feira 12, o cultivo e a comercialização de duas variedades de milho transgênico no Brasil. Uma delas, desenvolvida pela empresa americana Monsanto, é resistente a insetos. A outra, criada pela multinacional alemã Bayer, auxilia no combate a ervas daninhas. Para o professor Antônio Inácio Andrioli, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí), a decisão ignorou o chamado princípio de precaução, caro aos ambientalistas. “Para reduzir as pragas, colocaremos um produto no mercado cujas conseqüências para a saúde e o meio ambiente são imprevisíveis”, avalia Andrioli, que também é doutor em Ciências Econômicas pela Universidade de Osnabruck, na Alemanha.
CartaCapital: A liberação do milho transgênico foi acertada?
Antônio Inácio Andrioli: Não. Para liberar, é necessário haver estudos de impacto ambiental, que não foram apresentados. As bactérias enxertadas na planta liberam toxinas que podem causar desequilíbrios ambientais e riscos para a saúde humana. Sem evidências de que as modificações não trazem problemas, os governos deveriam se proteger desse tipo de tecnologia. Também não foram considerados os danos de um eventual cruzamento de lavouras comuns com as transgênicas, porqueo milho é uma planta de polinização aberta. Uma plantação
não pode coexistir com a outra.
CC: Esse tipo de produto terá aceitação internacional?
AIA: Os transgênicos têm sido sistematicamente rejeitados pelos governos de boa parte dos países europeus. Temos o caso recente da França, que proibiu esse tipo de cultivo em razão dos altos impactos ambientais e possíveis riscos à saúde. Os consumidores desse mercado rejeitam produtos modificados geneticamente. Não faz sentido
o Brasil investir nisso.
CC: A quem interessa a decisão?
AIA: A um pequeno grupo de multinacionais, a grandes produtores rurais e a alguns cientistas da área de biotecnologia, que têm pesquisas financiadas nessa área. É uma decisão meramente econômica, que não leva em conta os alertas científicos do mundo inteiro. Para reduzir a incidência de pragas, estamos colocando um produto no mercado cujas conseqüências para a saúde e o meio ambiente são imprevisíveis.