Mulheres promovem debate durante Jornada em Porto Alegre
A quinta-feira (4/3) foi de atividades internas no acampamento das mulheres em Porto Alegre (RS). Na parte da manhã, ocorreram debates sobre questões feministas, o agronegócio, transgênicos e a produção de alimentos saudáveis, tema da Jornada de luta das mulheres do campo e da cidade deste ano. À tarde, um grupo formado por camponeses, estudantes e trabalhadores urbanos usou o teatro popular para problematizar assuntos como o machismo na família e dentro de casa, no meio rural e a mercantilização do corpo da mulher.
No final da tarde, as mulheres voltam às suas regionais, encerrando o acampamento na Capital gaúcha. Um grupo ainda irá ficar na cidade para participar do protesto dos estudantes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), que acontece na manhã desta sexta-feira (5/3). O objetivo é fazer com que o Consun (Conselho Universitário) não vote o projeto do Parque Tecnológico.
A integrante da cooordenação do MST e da Via Campesina Ana Hanauer comenta o protesto das mulheres.
Por que as mulheres estão protestando? Neste ano de 2010, o ano em que comemoramos os 100 anos da declaração da companheira Clara Zetkin do 8 de Março como o Dia Internacional das Mulheres, nós mulheres do campo e da cidade estamos denunciando para a sociedade as ações do agronegócio. No campo, por meio da apropriação das terras e da expulsão dos camponeses, por meio do alto uso de agrotóxico que transformou o Brasil no campeão mundial de uso destes venenos. Ainda há também o plantio de milho, de soja e agora, que está prestes a ser liberado, de arroz transgênico. Queremos denunciar essa ação do agronegócio no campo e os impactos ambientais que tem causado no campo e na cidade. Mais específico na cidade, a padronização alimentar que o agronegócio trouxe através do beneficiamento dos grãos que vêm do campo; a maior parte transgênicos, com muito veneno, padronizando a alimentação. E hoje, grande parte da população brasileira se alimenta dos mesmos produtos. E mesmo que você queira ir no supermercado comprar uma coisa diferente, não existe. A gente denuncia que a alimentação que a população compra no supermercado, não é comida. É um monte de comida envenenada, que não é saudável e só traz doença. Entendemos que esta padronização alimentar através da ação do agronegócio e das agroindústrias e das transnacionais é para transformar as pessoas mais pobres em pessoas doentes e apáticas, que não consigam se transformar em sujeito político nesta sociedade.”
Por que amamentar esqueletos? Nós, mulheres, usamos o que é mais digno nosso, que é o nosso corpo, como instrumento e ferramenta de luta neste ano. A radicalidade da nossa luta foi a amamentação coletiva dos esqueletos. Amamentamos esqueletos para denunciar e chamar a atenção de que este projeto de agricultura e de produzir alimentos precisa ser barrado. Ou o futuro das próximas gerações é a morte. E nós mulheres, não queremos ser as geradoras e amamentadoras da morte.
Como combater o agronegócio? Muitos pequenos agricultores por exemplo, plantam transgênicos ou usam agrotóxico. Para combater e enfrentar, é necessário muita organização. Primeiro, porque a gente precisa aprofundar e melhorar as nossas experiências de cultivo orgânico e ecológico, o que temos muito entre os nossos assentados e nos camponeses e geral. Agora é preciso muita organização política, do conjunto dos trabalhadores, porque não é somente os camponeses e os pequenos agricultores. A população da cidade também é superexplorada no trabalho e também não tem as informações de onde vem esta comida. Então é necessário fazermos uma aliança política maior para fazer a luta contra as empresas transnacionais, já que são corporações econômicas que estão acima dos governos e do Estado e nos impõem uma lógica de produzir, de viver, de fazer as coisas que, ou a gente se une para fazer a luta e enfrentar, ou a gente não tem condições de fazer sozinho este enfrentamento.