Sem Terra recebe comenda em Alagoas
A militante do MST Débora Nunes recebeu do governo do Estado de Alagoas no último dia 8 de março, Dia Internacional de Lutas das Mulheres, a comenda Nise da Silveira. O título foi criado por decreto estadual para homenagear mulheres que desempenham papel relevante para a sociedade alagoana. Débora Nunes, membro da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), recebeu a comenda das mãos da desembargadora Elisabeth Carvalho (presidente do Tribunal de Justiça), a terceira na linha de sucessão do Governo do Estado, na ausência de Teotônio Vilela.
A indicação por parte do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Mulheres (Cedim) simboliza o reconhecimento da luta pela Reforma Agrária num estado que contabiliza 5890 famílias acampadas (somente pelo MST) à espera por terra. Em seu discurso, Débora, que faz parte do primeiro assentamento com propriedade e uso coletivo do lote em Alagoas (Chico do Sindicato), lembrou que a Reforma Agrária é uma política que tem vários desdobramentos após o acesso à terra, como a garantia de crédito para a produção, infra-estrutura das comunidades, políticas de educação, saúde, cultura, entre outros.
“Redistribuir as terras é certamente um passo para a resolução dos problemas dos camponeses, mas, ao dar condições de vida e permanência na terra a essa população, beneficia também os grandes centros urbanos com o alimento que chega a mesa de cada trabalhador e impedindo o inchaço das favelas”, esclareceu Débora Nunes em seu discurso dirigido para uma audiência com muitas autoridades, alto escalão dos mandatários no Estado e suas famílias.
Débora ainda dedicou a comenda à memória daquelas mulheres que tombaram na luta pela terra e às que hoje simbolizam essa resistência ao agronegócio. “Por fim, dedico esta comenda às mulheres camponesas, ribeirinhas, quilombolas, indígenas que a todo tempo resistem na busca de uma relação tradicional com seus territórios”.
Dentre as demais homenageadas, ganhou destaque na cerimônia a lider Xukuru-Kariri Waconã Ermelinda Celestino, mulher de mais de oitenta anos que, com muita sabedoria popular, falou do sofrimento de seu povo, nas mãos das etnias brancas (ali presentes). As novas comendadoras lembraram do papel revolucionário que desempenhou Nise da Silveira em sua atuação como psiquiatra, combatendo as formas arcaicas de tratamento (como eletrochoques) e legando aos próprios “pacientes” o poder da auto-cura através da arte.