Personagens históricos revivem Ligas Camponesas
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Governador Ricardo Coutinho (PSB) ao lado de Elizabeth, Agassiz de Almeida e dos camponeses
Da ONG Memória das Ligas Camponesas
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Governador Ricardo Coutinho (PSB) ao lado de Elizabeth, Agassiz de Almeida e dos camponeses
Da ONG Memória das Ligas Camponesas
A memória das Ligas Camponesas ganhou históricas homenagens na passagem dos 49 anos da morte de João Pedro Teixeira, líder camponês paraibano assassinado a mando dos latifundiários, em 2 de abril de 1962. O epicentro das comemorações ocorreu no último sábado, no Distrito Barra de Antas (Sapé), onde João Pedro viveu e empreendeu sua luta por justiça no campo, tornando-se um mártir do movimento que ganhou repercussão internacional nas vésperas do golpe militar de 64 no Brasil.
Com a presença do governador do Estado da Paraíba, Ricardo Coutinho, o evento organizado pela ONG Memorial das Ligas Camponesas, contou também com figuras célebres da luta camponesa no Brasil, entre elas, Elizabeth Teixeira (viúva de João Pedro) e o ex-deputado Agassiz Almeida, que participou ativamente das ações iniciais em prol da consolidação das Ligas Camponesas na Paraíba; além de representantes de entidades ligadas aos movimentos sociais brasileiros, políticos, pesquisadores, camponeses e expoentes da nova geração do movimento camponês no Estado.
Entre os objetivos principais do evento, os organizadores destacaram a urgência na desapropriação da casa onde viveu João Pedro – para criação do Museu das Ligas Camponesas e da Fazenda Antas. A luta pela desapropriação da Fazenda Antas vem de muito longe. Em 2006, a área foi desapropriada pelo presidente Lula, mas em janeiro de 2007, um mandado de segurança suspendeu o decreto. O caso está sendo discutido no Supremo Tribunal Federal (STF) desde o dia 2 de março.
A reivindicação foi acatada pelo governador Ricardo Coutinho que se comprometeu em somar esforços necessários para concretização do empreendimento. Para tanto, determinou, entre outras medidas, que o Conselho do IPHAEP colocasse em pauta da próxima reunião as questões referentes ao tombamento da casa de João Pedro em Antas, e informou que o governo irá acompanhar o processo em Brasília visando a desapropriação da Fazenda Antas.
Sobrevivente das masmorras da ditadura militar, Agassiz Almeida relata atuação que marcou o sonho de uma geração na luta pela justiça social no campo.
Responsável por diversas ações em prol dos movimentos sociais no campo, especialmente durante sua atuação como deputado Estadual em 1962, que lhe custou perseguições, prisões e exílio pela ditadura militar, o escritor Agassiz Almeida ressaltou a importância do resgate da memória, do sonho e da continuidade da luta pela justiça social:
“Aqui, o cambão, o chicote, a morte na tocalha, o latifúndio venenoso e cruel arrancaram muitas vidas, mas um sonho cresceu. Aquele sonho está plantado, nessa terra, nesse massapé, e viverá sempre na consciência dos justos; ele permanecerá sempre no coração dos homens que lutam”.
Em 1961, como deputado estadual, Agassiz Almeida apresentou projeto de Lei, reconhecendo as ligas camponesas da Paraíba como entidade de utilidade pública; e, em 1962, requereu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para apurar os responsáveis pelo assassinato de João Pedro Teixeira pelos latifundiários das várzeas da Paraíba. “Fomos nós que despertamos a nação brasileira, porque tudo aqui era medo. Aqui a sombra do medo dominava. Hoje nesse crepúsculo da minha vida, com emoção, nesse instante me encontro com minha mocidade”, destacou.
Com o fim da ditadura militar e retomando sua vida política na década de 80, como deputado constituinte Agassiz foi um dos autores da norma constitucional que dá ao camponês o direito de reforma agrária. “Terra improdutiva é para quem precisa de trabalho”, enfatizou. Agassiz é autor de livros com ampla repercussão nacional, notadamente os ensaios “500 Anos do Povo Brasileiro”(Paz e Terra), “A República das Elites” (Bertrand Brasil) e “A Ditadura dos Generais” (Bertrand Brasil).
João Pedro Teixeira – Símbolo da luta pela terra e pelos direitos dos trabalhadores rurais, morto a mando dos latifundiários em 1962, em meio aos embates de interesses que culminaram com o golpe militar de 1964 no Brasil. Foi o fundador das Ligas Camponesas de Sapé (PB), em 1958, chegando a associar centenas de trabalhadores rurais. Com uma trajetória de luta contra as injustiças sociais no campo, sua morte ganhou repercussão internacional e atraiu atenção para a efervescência sócio-política que o nordeste brasileiro atravessava.
Elizabeth Teixeira – Viúva de João Pedro Teixeira. Tornou-se uma lenda viva das Ligas Camponesas, tendo liderado o movimento após a morte do seu marido, em 1962. Viveu em Barra de Antas, com João Pedro e seus 11 filhos, até a dispersão provocada pelo golpe militar. Foi presa, interrogada e quando libertada pelo exército fugiu para o Rio de Grande do Norte levando só um dos filhos. Permaneceu exilada por 17 anos, até a abertura política, em 1979. Sua história foi trazida à tona e reconhecida pelo público através do filme-documentário Cabra Marcado Pra Morrer, de Eduardo Coutinho, lançado em 1984.