Pesquisa demonstra a eficiência de biofertilizantes para a agricultura

 

 

Por Mirian Peres da Cruz
Do Agência UEL de Notícias

 

 

 

Por Mirian Peres da Cruz
Do Agência UEL de Notícias

 

A tecnologia criada em laboratório vai direto para o campo e afeta a economia agrícola. É a adoção na agricultura do biofertilizante ou fertilizante biológico – inoculates biológicos – que ganhou espaço e importância nos últimos anos. O termo aqui se refere a um insumo biológico que substitui os fertilizantes comerciais. Por isso, o produto é alvo de pesquisas da área de biotecnologia.

É o caso do Departamento de Bioquímica e Bioctenologia (CCE) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) que aposta na produção do biofertilizante, trabalhando em parceria com agricultores da região. O produto aumenta a resistência da planta a condições ambientais extremas, além de melhorar a absorção de nutrientes. Isto também significa menos poluentes no ambiente. Por isso, a tendência é que o produto esteja cada vez mais presente no meio rural.

“É composto por micro-organismos, ou seja, bactérias do ambiente, que vão nutrir culturas de interesse agrícola, com a mesma função dos fertilizantes minerais, mas com menos impacto ambiental”, explica o professor e coordenador da pesquisa André Luiz Martinez de Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Biotecnologia.

Os pesquisadores fazem a seleção e multiplicação das bactérias benéficas no laboratório. O biofertilizante é aplicado na semente antes de ir para o campo. Testes feitos com a aplicação do produto em sementes de milho, por exemplo, indicam resultados satisfatórios. “O agricultor economiza dois terços do que é gasto com adubo que contém nitrogênio, utilizando este tipo de tecnologia”, completa o professor André Luiz.

Após a produção em laboratório, as culturas de micro-organismos são transferidas para o inoculante, ou seja, o biofertilizante líquido para uso no campo. No Brasil, inoculantes à base de micro-organismos são comercializados por empresas especializadas. Mas na avaliação do professor André Luiz, o produto elaborado na UEL superou as expectativas, o diferencial é a formulação e o manejo no campo. Portanto, com baixo custo de produção, o biofertilizante supera a atuação de produtos oferecidos no mercado. “A eficiência do nosso produto tem sido superior aos produtos existentes no mercado”, afirma.

“A semente é recoberta com uma quantidade de bactérias. E ao germinar a planta recebe os efeitos da interação positiva”, resume. Assim, a bactéria vai se fixar e colonizar a superfície radicular, isto é, a raiz da planta, facilitando a absorção de água e nutrientes. “As bactérias também têm a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, ligado à nutrição direta da planta”, completa. Vale ressaltar que o biofertilizante já é utilizado no campo para o cultivo de leguminosas, entre elas a soja, o feijão e o amendoim.

“A ideia é a aplicação do biofertilizante em sementes de gramíneas e cereais como o milho, trigo, arroz e, principalmente, a cana-de-açúcar”, salienta o professor. Ele destaca que várias classes de bactérias podem ao mesmo tempo nutrir e aumentar a resistência da planta às condições ambientais, como a estiagem e pragas naturais.

O professor reforça a ideia de que, além da economia para o agricultor, o custo ambiental também é outra vantagem. “A pesquisa visa a diminuição do uso de insumos na agricultura, principalmente o nitrogênio”, explica. O objetivo agora, segundo ele, é buscar parcerias com agricultores de produtos orgânicos.

O biofertilizante produzido na Universidade Estadual de Londrina já é fornecido para agricultores familiares da região sul do Paraná e norte de Santa Catarina. Portanto, o número de agricultores que aderem à tecnologia só aumenta. “Já solicitamos a patente do produto a Aintec [Agência de Inovação Tecnológica da UEL]”, diz o professor. A expectativa agora é ver os resultados do produto na cana-de-açúcar, os primeiros dados serão coletados no final deste ano, pois a planta leva 18 meses para crescer.

A pesquisa desenvolvida pelo grupo da UEL é uma das metas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Fixação Biológica de Nitrogênio em Gramíneas (INCT-FBN) criado em 2009, com sede em Curitiba. “Em três anos de pesquisa os resultados foram bem significativos em nível experimental, pois também agrega pesquisadores da Universidade”, analisa o professor André Luiz.

Também participam da pesquisa os professores Claudemir Zucareli, do Departamento de Agronomia, Cássio Egidío Prete, chefe da Divisão de Produção Vegetal, Josué Maldonado Ferreira, Departamento de Biologia Geral. Além de Marco Antônio Nogueira, da Embrapa Soja.

A biotecnologia a serviço do campo

A biotecnologia supre a demanda do campo com alternativas viáveis que melhoram a produção. Portanto, é a biotecnologia a serviço do campo, que também contribui para a formação profissional dos alunos do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da UEL.

O mestrando Odair José Andrade Pais dos Santos, do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, destaca a tecnologia aplicada direto na lavoura para combater problemas que trazem prejuízo à produção. “A proposta agora é o refinamento dos dados para melhorar os benefícios do produto”, afirma. Ele aponta ainda que a produtividade pode aumentar, considerando a realidade do pequeno produtor rural brasileiro.

“Bactéria de Elite”

A mestranda Karita Reis Costa, outra estudante do programa, pesquisa o isolamento em laboratório de “bactérias de elite”. Elas são usadas na produção do fertilizante biológico. Originalmente as bactérias são encontradas no ecossistema. “A bactéria que interage naturalmente com a planta é retirada do ecossistema e trazida para o laboratório”, explica.

A certificação da eficiência do produto demanda uma bateria de testes no laboratório, que incluem análises químicas e biológicas. Além da lavoura, de onde são extraídos dados para o melhoramento do produto. Segundo ela, após o isolamento das bactérias, testes bioquímicos apontam como o micro-organismo contribui para o crescimento da planta.

“São feitos testes bioquímicos para avaliar a capacidade das bactérias realizarem a fixação do nitrogênio, a produção de hormônios vegetais e a solubilização de fosfatos”, diz Karita. Só assim é possível avaliar a interação da bactéria com o vegetal. A próxima etapa é a preparação do inoculante que dará origem ao biofertilizante. “O milho é cultivado por dois meses, em seguida as bactérias que interagem com a planta são isoladas para realização dos testes bioquímicos, a resposta têm sido positiva”, informa.