Após 15 anos, famílias vítimas do Massacre de Felisburgo anseiam por assentamento
Por Matheus Teixeira e Geanini Hackbardt
Da Página do MST
Em 2004, o grileiro de terras Adriano Chafik invadiu o acampamento Terra Prometida, no município de Felisburgo-MG, acompanhado de 15 pistoleiros. Ele comandou o ataque a 200 famílias acampadas. Cinco trabalhadores foram mortos e 21 foram baleados, várias casas e plantações dos agricultores foram devastadas e a escola queimada.
As famílias que sobreviveram à invasão relembram com muita tristeza a crueldade da ação. Janaina Sousa, que tinha apenas 6 anos na época, conta que algumas coisas não são possíveis de esquecer. “Lembro que minha mãe tinha acabado de chegar do mercado e me mandou levar um pedaço de carne pra a vó cozinhar. Quando eu estava chegando, escutei o barulho do foguete e toda vez que soltava foguete era pra avisar que tinha gente de fora chegando”.
Ela relata que ninguém imaginou que Chafik, com seus capangas, soltaria foguetes para reunir o povo. As próximas cenas foram de terror. “Quando minha vó escutou o primeiro tiro ela nos colocou debaixo da cama e fez um buraquinho na lona para que pudéssemos ver o que estava acontecendo. Aí um dos capangas de Adriano colocou fogo no barraco de vó, peguei meu irmão de dois aninhos e saí correndo para casa de Dona Nena. Quando chegamos lá, Joaquim chegou todo ferido de tiro pedindo perdão pra sua mulher até morrer. Lembro dos meus irmãos chorando quando viram que minha mãe estava viva”, relata a jovem militante do MST. A casa de Janaina também foi incendiada e as crianças tentaram apagar as chamas junto com os familiares.
Justiça pela metade
Atualmente, eles ainda vivem e resistem no acampamento. Em 2013, Chafik foi julgado e condenado a 115 anos de prisão, ficou por um tempo foragido da polícia, mas está preso. Seu comparsa, Calixto Luedy Filho, responsável por planejar a ação, foi condenado em maio deste ano. Porém, isso não é suficiente para fazer justiça às famílias que moram, trabalham e tiram seu sustento das terras que originalmente são devolutas. Em 2015, o então governador Fernando Pimentel (PT) despropriou a fazenda, mas não finalizou o processo de assentamento.
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Audiência causa apreenção
Mesmo com estudos da cadeia dominial do terreno comprovando que as terras foram griladas e pertenciam ao Estado, existe um processo de reintegração de posse em andamento na Vara Ágraria. A Doutora Letícia Santos, advogada do MST, explica que a ação do governo anterior havia suspenso a reintegração, mas este ano isso mudou. “O juiz da ação possessória, desobedecendo à regra de suspensão e atendendo a pedido dos autores, retomou o andamento processual”, explica ela.
“A audiência de conciliação foi marcada para 11 de dezembro, sob o argumento de que “não há que se falar em nova suspensão para se aguardar ad aeternum por prova que já se encontra nos presentes autos”. As provas a que ele se refere são o memorial descritivo da área, que embasou a ação. O MST está preparando a resistência. As famílias Sem Terra, após tantos anos morando no local e após resistir a um massacre, não sairão facilmente das terras de Felisburgo.
*Editado por Fernanda Alcântara