Armazéns do Campo realizam programação especial da consciência negra
Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST
No mês que relembramos a luta de Zumbi dos Palmares, a rede de lojas Armazém do Campo, do MST recebeu atividades especiais para debater a questão racial e celebrar a resistência negra.
O Armazém de São Paulo recebeu, no dia 19, o debate “Resistência Negra e Encarceramento em Massa“, com Jessy Daiane, do Levante Popular da Juventude, a jornalista e escritora Bianca Santana e Preta Ferreira, militante Movimento Sem Teto Do Centro (MSTC) que ficou presa de forma arbitrária por 109 dias.
Preta questionou a forma como a sociedade brasileira reconhece a população negra. “Acaba de sair uma pesquisa onde dizia que o número de negros na universidade está aumentando. E por que a gente não retrata isso? Por que a gente só retrata a preta prisioneira? Eu faço luta há mais de 20 anos e vocês só me reconheceram depois que eu fui presa. Tá errado, tá tudo errado, mas vamos arrumar essa bagunça”, apontou Preta.
Enquanto isso, a culinária da terra servia um delicioso Acarajé da Chef Paula Bandeira. No mesmo dia Preta Ferreira e Cobra Norato animaram a cultural com muita música popular “afro e brasileira”.
No Rio de Janeiro foi lançado o Congresso dos Policiais Antifascistas, tema fundamental no Estado em que o conflito intenso entre milícias, polícia e tráfico virou símbolo do extermínio da juventude negra. A tarde repleta de feijoada e samba contou com as presenças ilustres de Caetano Veloso e Teresa Cristina.
Já no Armazém de Recife (PE) e no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis em São Luís (MA) foram cinco dias de grandes atividades, reunindo centenas de pessoas. Recife contou com o Tambor Falante, Tsumbe de Moçambique, Quinta Melodia, Dona Del do Coco, Coco da liberdade e o lançamento do livro “A volta inversa da árvore do esquecimento e suas práticas de branqueamento”, entre outras.
Na capital São Luís, houve também o “Sarau da Encantaria: Consciência Negra”, debate com Silvane Magali Vale Nascimento e Rosenverck Estela Santos, e um curso sobre “O Pensamento abolicionista de Maria Firmina”, ministrado pela Profa. Dra. Francilene Cardoso. Também teve samba e permanformaces musicais, Desfile Conceito e show com Afrocanto de Liberdade, entre outros.
Em Belo Horizonte, o Armazém realiza atividades voltadas à consciência negra durante o ano, com destaque para a Sarau Preto, que acontece mensalmente e reúne artistas das periferias da capital mineira. No domingo, aconteceu a 1ª Feira da Consciência, junto ao tradicional ensaio do bloco afro Angola Janga.
Desde a afirmação da estratégia da Reforma Agrária Popular, o MST tem buscado aprofundar o debate sobre a questão racial como um dos pilares para compreensão dos diversos sujeitos que constroem o movimento e que constituem a classe trabalhadora brasileira.
“É importante que avancemos para entender que raça e classe não são elementos dissociados em nossa sociedade, e sim elementos que se fortalecem reciprocamente. Florestan Fernandes já afirmava isso, quando ressalta que esses dois fatores combinam forças essenciais para contrapor a ordem existente”, explicou Íris Pacheco, dirigente do Setor de Comunicação e integrante do grupo de estudos grupo de estudos Terra, Raça e Classe, do MST.
Íris destaca o desafio de pensar a questão negra num caminho compreensão alinhada entre todos os sujeitos da Reforma Agrária, para além dos meses temáticos e datas simbólicas. “Nós buscamos internamente uma forma de avançar no debate, sem restringir a responsabilidade a um grupo maior impactado, no caso negras e negros, mas também sem invisibilizá-lo. Ou seja, é uma responsabilidade de toda a organização enfrentar os privilégios criados pela estrutura racista dentro de nossa sociedade”, aponta a militante.
Um estudo divulgado neste mês de novembro pela Agência Pública mostrou que o agronegócio é branco, ou seja, 77% das grandes propriedades pertencem à latifundiários brancos. Aos negros, que também são a maioria no campo, resta as menores propriedades.
“O MST tem se desafiado a pensar a relação entre Terra, Raça e Classe, visto que o racismo perpassa todas as esferas de nossas vidas, bem como as relações de trabalho, que, por sua vez, se relacionam com a exploração e o uso da terra no Brasil”, afirmou Íris, que concluiu. “Além disso, as nossas práticas de produção e organização alguns dos saberes tradicionais que se vinculam com o legado ancestral da cultura africana, como por exemplo a luta pelo direito a plantar e a viver livremente”.
Saiba onde encontrar cada Armazém:
Belo Horizonte – MG
Av. do Contorno, 9895, Barro Preto
Rio de Janeiro – RJ
Av. Mem de Sá, 135, Lapa
São Paulo – SP
Alameda Eduardo Prado, n° 499, Campos Elíseos
Recife – PE
Av. Martins de Barros, 387, Santana
São Luís – MA
Rua Rio Branco, nº 420 – Centro
Porto Alegre – RS
Mercado Municipal – Galeria Mercado Público Central, s/n – Centro Histórico