Justiça para Bhopal!
Da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
À meia-noite do dia 3 de dezembro de 1984, 40 toneladas de Isocianato de Metilo (MIC) vazaram de uma fábrica de agrotóxicos da Union Carbide, corporação estadunidense, na cidade de Bhopal, capital de Madhya Pradeshcon, na Índia.
O MIC entrou na corrente sanguínea das pessoas que o inalaram, causando danos aos olhos, pulmões, cérebro, e aos sistemas imunológico, reprodutivo musculoesquelético e outros, assim como à saúde mental. Oito mil pessoas morreram nos 3 primeiros dias, e mais de meio milhão sofreram intoxicações graves.
O projeto da fábrica de MIC na Índia foi muito diferente daquele utilizado nas fábricas nos EUA. Havia menos dispositivos de segurança e materiais de construção de menor qualidade. A Union Carbide iniciou uma campanha global de corte de gastos nos anos 1980, quando a fábrica foi construída. Como parte desta estratégia, os sistemas vitais de segurança foram desativados, metade dos trabalhadores foi demitida, especialmente aqueles que reclamaram a piora nas condições de segurança do trabalho.
Nenhum dos 8 executivos principais da Union Carbide na Índia foi preso, e o presidente da multinacional, que aprovou o projeto inseguro da fábrica, pagou uma fiança e morreu impune em uma praia nos EUA.
Dezenas de milhares de crianças cujos pais foram expostos ao gás nascem até hoje com transtornos físicos e mentais. Os sobreviventes e familiares de mortos receberam reparações ínfimas.
Os sobreviventes de Bhopal exigem, no 35o aniversário da tragédia, que a Dow Chemical pague um mínimo de 8 mil dólares por danos a saúde por pessoa. A empresa deve pagar também pela descontaminação do solo e da água.
Desde o Brasil, em solidariedade, pedimos Justiça para Bhopal!
Apenas em 2019, o governo brasileiro autorizou a liberação de 467 novos agrotóxicos. Destes, 18 são fabricados pela Dow Chemical. O que Bhopal de 1984 tem a dizer ao Brasil de 2019?
Infelizmente, muito. A mesma empresa que tirou a vida de milhares de indianos, hoje lucra vendendo agrotóxicos perigosos no Brasil como o Sulfoxaflor e a Lambda-Cialotrina. O governo Bolsonaro abre as portas não só para a Dow Chemical que se fundiu com a DuPont (EUA), mas outras transnacionais como Bayer/Monsanto (Alemanha), Syngenta/Chemchina (Suíça/China), e BASF (Alemanha) para que possam comercializar livremente seus produtos no Brasil. A população é exposta a cada vez mais venenos e suas misturas, numa dimensão em que a ciência ainda não tem capacidade de sequer de dimensionar os danos à saúde e ao meio ambiente.
Neste 3 de dezembro, nos colocamos ombro a ombro com Bhopal, e assumimos o compromisso diante da sociedade brasileira de não permitir que uma nova tragédia aconteça em nosso país.