“Continuaremos a plantar árvores e lutar pela vida”
Por Coletivo de comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST
Em 2019, o MST lançou a campanha de plantio de árvores e alimentação saudável em todo o país, que pretende plantar 100 milhões de árvores nos próximos dez anos. Na Bahia, a estimativa é que 10 milhões de árvores sejam plantadas no mesmo período.
Mesmo em tempo de pandemia, a campanha continua a todo vapor nas áreas de assentamentos e acampamentos. Segundo a direção do MST na Bahia, “precisamos seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), mas estamos em isolamento social produtivo, produzindo alimentos saudáveis e cuidando do meio ambiente através plantios de árvores frutíferas e nativas, mantendo viva a nossa resistência”, afirmou.
A campanha de plantio se posiciona contra os grandes monocultivos espalhados por toda Bahia. Essas plantações refletem a concentração de terra nas mãos de empresas multinacionais, entre elas as que produzem eucalipto, que tem se expandido pelo estado.
A Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB), situada na cidade de Prado, no Extremo Sul da Bahia, tem se dedicado a impulsionar a campanha na região na articulação com movimentos sociais, órgãos e universidades, e na produção de mudas para implementação da campanha.
Para Eliane Oliveira, coordenadora pedagógica da EPAAEB, “essa campanha é muito importante para nossa bandeira de luta que é a Reforma Agrária e a produção de alimento saudável, principalmente para nós que vivemos em um estado onde o agronegócio é predominante e algumas de nossas regiões na Bahia são atingidas de maneira direta pelas empresas de celulose”.
“Enquanto as grandes empresas devastam nosso solo com o uso de agrotóxicos na plantação, nós, do Movimento Sem Terra, quando ocupamos a terra, temos o grande compromisso de cuidar da mãe terra, do nosso solo. Este cenário que nasce a escola EPAAEB vem para fortalecer esse compromisso que o MST tem desde a sua gênese, que é de cuidar da terra”.
Monocultivo de eucalipto
Por possuir condições favoráveis para o desenvolvimento da cultura do eucalipto, a região extremo sul da Bahia atraiu, nas últimas três décadas, grandes empresas que viram aqui uma oportunidade de cultivar e beneficiar essa matéria-prima essencial na fabricação de papel e celulose.
Com a chegada dessas empresas, ocorreram muitas transformações na paisagem rural que influenciaram a estrutura da vida urbana das comunidades aqui situadas, resultando em um impacto direto na biodiversidade, no meio ambiente e todo ecossistema. Mesmo depois de tanto tempo na região, a cultura desse vegetal ainda causa muitas discussões sobre seus efeitos na organização do espaço, na geração do trabalho e renda, bem como no espaço natural.
Assim como outros produtos beneficiados na região, o eucalipto é o resultado das transformações dos espaços abertos ao desenvolvimento, amplamente apoiados pelo governo brasileiro desde 1974. Em 2001 o extremo sul da Bahia esteve em 3° lugar em exportação de celulose em relação ao Estado.
Monocultivo de gado
Em meados da década de 60, com o avanço do desmatamento para a construção de ferrovias e rodovias (BRs), o estado adquiriu grande potencial pecuário. Atualmente, a Bahia dispõe de 10 milhões de cabeças de gado, e a maior parte deste contingente está concentrada no extremo sul baiano. Em 1998, foi instituído o programa Novilho Precoce, que se trata do abatimento do animal mais novo.
Felipe Peixoto, engenheiro agrônomo que atua junto ao coletivo produtivo da EPAAEB na implementação do novo sistema agroflorestal (SAF), afirmou que é em meio a esse cenário que nasce a escola popular. “O extremo sul e o assentamento onde a EPAAEB está localizada sofreram anos com a criação do gado, com a compactação do solo e com a falta de responsabilidade com a natureza. A campanha aqui assume o ato revolucionário de reaver o bioma aqui existente”, afirmou.
Segundo Peixoto, mesmo em meio a pandemia, milhares de mudas já foram distribuídas às famílias acampadas e assentadas. “A campanha continua a todo vapor. Ela também abrange a questão de alimentação saudável, e nesses tempos de pandemia também estamos focando na produção de alimentos, que se faz necessário já que a conjuntura pede”, conclui Peixoto.
*Editado por Fernanda Alcântara