Já se perguntou se existem outras formas de representar o mundo?
Por Alessandro Kominecki e Jucelia Castelari Lupepsa*
Este texto é tem como objetivo debater as percepções eurocêntricas nas representações cartográficas do mundo, a partir do painel “mapa mundi invertido”, construído na parede central do saguão do Colégio Iraci Salete Strozak, no assentamento Marcos Freire, em Rio Bonito do Iguaçu (PR). A obra foi produzida por Tarcísio Leopoldo, artista e militante do MST, acampado em Quedas do Iguaçu.
A pintura foi baseado em obras que oferecem outro ponto de vista para projetar o mundo e nos princípios que consolidam a defesa da Educação do Campo defendida pelo MST.
Analisar, estudar e produzir representações do espaço geográfico caracteriza a cartografia, tanto por mapas, cartogramas, plantas, pinturas, como qualquer outra forma de projetar o planeta Terra. Essas formas de representar o planeta em que vivemos foram constituídas historicamente à medida que se ampliavam as relações de apropriação entre sociedade e natureza. Quando refletimos sobre a representação do planeta Terra, abstraímos a forma clássica eurocêntrica de se ver o mundo, que tradicionalmente aprendemos desde os primeiros anos do ciclo escolar.
Já se perguntou se existem outras formas de representar o mundo? A forma clássica de distribuir os países pelo planisfério leva em consideração qual parâmetro em relação ao espaço?
Esses questionamentos consolidam que é inexistente uma referência no universo para determinar a representação clássica do espaço geográfico, nas imagens é percetível que se trata de opção em representar os países da forma tradicional que estamos acostumados a visualizar, decisão meramente geopolítica e Eurocêntrica (Figura 3).
As relações Geopolíticas constituídas historicamente entre os países materializaram as formas de representar o espaço geográfico. Com isso, os diferentes interesses no passar das épocas, a exemplo do predomínio da religião e consecutivamente a colonização, impuseram ao longo da história duas formas de projetar o mundo para sociedade. Obviamente o tamanho dos continentes/países e suas distribuições pelo planisfério obedeceram ao longo do tempo os interesses religiosos e posteriormente geopolíticos nas relações de poder e soberania, os quais conduziram ao Eurocentrismo.
Nicolás García Uriburu, artista contemporâneo argentino, arquiteto de paisagem e ecologista ofereceu ao mundo um novo olhar sobre as Américas. Defensor da arte dos povos originários da América, representou as Américas em sua obra “Ni arriba niabajo” (Figura 4).
Sua arte representa as Américas na horizontal, eliminando a percepção de Norte e Sul entre os hemisférios.
O artista plástico Uruguaio Joaquín Torres Garcia (1935) consolidou sua defesa da valorização da cultura Latina ao produzir, em 1943 uma das suas obras mais expressivas, a do “Mapa Invertido da América do Sul”. Eduardo Seide Asanuma, Geógrafo e pesquisador, enfatiza que a obra “[…] representa a América Latina de maneira invertida (para o padrão convencional), buscando uma autonomia, e chamando atenção para a necessidade de se repensar as relações da América Latina, como a sua posição de dependência”. Ainda segundo ele, “há um direcionamento para que os mapas, majoritariamente considerados como tradicionais, privilegiam o hemisfério norte (que ocupa dois terços do mapa), em especial a Europa que está sempre localizada no centro”.
Para Joaquim Torres Garcia, não há razão científica para o norte estar no topo de todos os mapas (Figura 5), por isso, proferiu sua frase “El norte es el Sur”.
O intuito de Garcia ao inverter a forma de representar a América do Sul visa evidenciar a valorização dos aspectos culturais. Sua fala “porque en realidad, nuestro norte es el Sur” oferece ao mundo uma perspectiva diferente de se ver a América do Sul, diferente do que é construído pelo pensamento eurocêntrico.
Para o Colégio Iraci, trata-se de despertar o interesse nos sujeitos Sem Terra, para decifrar e produzir distintas percepções de representação do espaço geográfico. A representação do mundo de forma invertida também propõe o rompimento com a perspectiva clássica eurocêntrica dos mapas e a compreensão crítica das suas influências no pensamento geopolítico mundial.
Referência:
ASANUMA, E. S. Necessidade de superação de mapas eurocêntricos no ensino de geografia. 14º Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia Políticas, Linguagens e Trajetórias, p. 1422–1433, 2019.
*Alessandro Kominecki é professor de Geografia – SEED/PR, doutorando em Geografia, PPGG Unicentro, mestre em Geografia física, PPGG Unicentro, diretor no Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak, RBI/PR, Secretário de Organização da App Sindicato – NS Laranjeiras do Sul-PR.
Jucelia Castelari Lupepsa é professora pedagoga – SEED/PR, mestranda em Educação, PPGE Unicentro, diretora no Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak RBI/PR.
*Editado por Solange Engelmann