Rosa Luxemburgo
Rosas com aromas de março
Por Lucineia Miranda de Freitas e Rosmeri Witcel*
Da Página do MST
“A Revolução é magnifica,
Tudo mais é um disparate!“
Rosa Luxemburgo
Rosa Luxemburgo, a Rosa Vermelha da Revolução, nasceu no dia 5 de março de 1871 em Zamosc, um pequeno povoado no leste da Polônia. Recebeu este nome de Rosa pela aparência e olhar doce, apesar da advertência paterna de que as rosas têm a força de seus espinhos.
Ainda criança, seus pais, que eram judeus, se mudaram para Varsóvia, na esperança de que estando em um grande centro poderiam ter sua identidade judia despercebida. Isso possibilitou a Rosa frequentar o Instituto Feminino de Varsóvia, resultado do seu excelente desempenho no teste de admissão, já que essa escola recebia as meninas russas, filhas da nobreza e do exército czarista.
Em 1881, o Czar Alexandre II foi assassinado, o que provocou uma onda de violência contra os poloneses, judeus ed o partido esquerdista Proletariat. Rosa foi testemunha de uma brutal repressão nos bairros de Varsóvia. O exército Russo saqueou casas, prendeu revolucionários que conspiravam pela independência da Polônia, deportou e enforcou centenas de jovens.
Quando o partido se reestruturou, a partir de alguns de seus membros, conseguiram se reagrupar em segredo. Rosa, que então tinha apenas 16 anos, se uniu a eles.
Com sede de conhecimento, Rosa se destacou como militante revolucionária, teórica marxista, professora da escola de quadros, jornalista, oradora polêmica, implacável, irônica, com uma língua afiada que não poupava a ninguém “nem a si mesma” da crítica. Mas era também uma mulher fascinante, divertida, sensível, apaixonada, sonhadora, profundamente ligada à vida; como amiga estava sempre disposta a consolar os amigos e as amigas, apaixonada pela natureza (quando presa, fez um herbário) e pela arte, sintonizada a vida cultural de seu tempo.
Apesar de sua ligação com “tudo o que é belo” e sua paixão pela vida, Rosa não tinha medo da morte, pois para ela só valia a pena viver para construir algo melhor e maior: a revolução.
Para Rosa, todas as ações devem ser realizadas com paixão. Ela foi simplesmente apaixonada por tudo que a cercava: política, história, literatura, música, pintura, economia política, botânica, geologia. Se negou ao estereótipo da militante revolucionária sem direito à vida privada e à liberdade.
Rosa foi materialista suficiente para se jogar sem concessões na embriaguez da vida, aceitando apaixonadamente as alegrias e as dores como parte de um mesmo conjunto. Em um de seus momentos de prisão, disse: “no meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo”.
Nesse momento tão difícil de barbárie que vivenciamos, Rosa nos chama à reflexão do amor, da beleza, do cuidado com nós, com a natureza e os bens comuns, mas da certeza que o caminho para superar a barbárie é a revolução socialista.
Trabalhadoras e trabalhadores do mundo, que sejamos nós a construir este mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.
Rosa está presente em todas as nossas ações, caminha conosco em nossas marchas, entra em nossas ocupações de terra, sobe conosco em todas as tribunas que denunciam as atrocidades do capital. Rosa está conosco na construção do feminismo camponês e popular com identidade revolucionaria.
E para ela que sempre escreveu suas belíssimas cartas de amor, de amizade e de luta, queremos deixar nossas singelas palavras de rebeldia.
À nossa querida Rosa
Nos dirigimos a ti querida camarada Rosa, embaladas e encharcadas pelos aromas de março. Nossa apresentação a ti, é simples mas é verdadeira como tu sempre fostes, é ousada como aprendemos contigo, é de rebeldia, é de procura, e de intensa liberdade, é de um caminhar juntos pela vida.
Somos aquelas e aqueles que aprendemos na pedagogia do aço a ocupar o latifúndio da terra, da educação, da produção e da vida, somos mulheres e homens a procura do novo amor, que se debruce num campo minado de lindas rosas vermelhas com cheiro de primavera, com jeito de paixão e Revolução!
Somos as Rosas Vermelhas que aprendemos a pensar, a analisar criticamente, e aprendemos a ter nossa autonomia intelectual. Quando nos encontramos contigo através de seus belíssimos textos, ficamos ainda mais apaixonadas pelo que nos ensinas na leitura de mundo, mas também como mulher forte, decidida e sabia.
Queremos te contar também que gostamos de te ver como feminista. Embora você nunca tenha se colocado de tal forma. No entanto, te encontramos feminista na mulher livre, na militante ousada que mostrou na forma de viver e amar o que é a liberdade. Seguimos seus passos em cada momento que reunimos nossas mulheres para planejar, conspirar e organizar a luta das mulheres e homens que cravam a bandeira vermelha que é carregada com a força e o poder das massas, que você sempre defendeu.
É lá, nas ações, nas lutas que reforçamos nossa convicção de que as reformas, ou as pequenas conquistas obtidas na luta da classe trabalhadora, não são suficientes, reforma para nós somente como um meio e nunca como um fim.
Seguimos marchando e trazendo para dentro de cada dia o novo amanhecer, seguimos nos tornando palavras, ações e rebeldia. Nos tornando a resistência coletiva e ativa.
Não poderíamos deixar de falar que somos as mudas que falam e que não se calam, temos voz e à alçamos ao vento, e se necessário gritamos, alto, e mais alto até que sejamos ouvidas. Nós somos as/os que seguem o caminho para o desfecho da transformação. Porque sabemos que ela virá!
Querida Rosa Vermelha, nós mantemos vivas e pulsante a razão pela qual dedicou a vida. A cada dia regamos nosso jardim que irá florir com muitas Rosas Vermelhas.
E nesse caminhar seguimos nascendo das sementes que semeamos em terra fértil em cada canto onde estivermos.
O nosso caminhar é embalado pela música, a poesia, o internacionalismo, o humanismo, a solidariedade, a alegria daqueles e daquelas que mesmo entre as pedras resistem e teimam em florir.
Seguiremos seu legado na ousadia, essa que nos dá força para abreviar o tempo de espera, e por isso seguimos gritando a palavra rebeldia, resistência e resistência. Seguimos nos movendo em direção a liberdade.
Seguiremos passando em revista o mundo que nos acorrenta e nos sufoca através do patriarcado, do machismo, da lgbtfobia, e do racismo.
Seguimos combatendo, sendo construtoras/es de mulheres e homens novos, que se fazem povo, que fazem história e constroem a revolução.
Sobre nossos peitos, nossas mãos, nossos pés, nosso corpo cuidado por nós mesmas, marcharmos lado a lado contigo e juntas, como força viva renasceremos das cinzas, para acender a chama que permitirá queimar todas as correntes que nos aprisionam.
E com o coração cheio de esperanças, sonhos e desejos nos despedimos de ti amada Rosa, em um até breve!
Fonte: LOUREIRO, Isabel (org) Rosa Luxemburgo, Vol III – Cartas, 2º edição, Editora UNESP, São Paulo, 2011.
* Lucineia Miranda de Freitas é do Setor de Gênero do MST e Rosmeri Witcel do Setor de Formação do MST
**Editado por Fernanda Alcântara