Jornada Universitária
Sertão Mineiro realiza 2ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária
Por Yan Victor
Da Comissão Organizadora 2ª JURA/Unimontes
O mês de abril marca fundo a memória da luta pela terra no Brasil e no mundo. Há exatamente 25 anos, Eldorado do Carajás foi cenário de um dos capítulos mais selvagens da história da luta pela Reforma Agrária no Brasil. É um mês de denúncia e memória aos mártires do Massacre de Eldorado do Carajás, que assassinou 21 trabalhadores Sem Terra no estado do Pará, no dia 17 de abril de 1996, data que se tornou o Dia Internacional da Luta Camponesa e o dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Após 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás atravessamos uma conjuntura das mais difíceis da nossa história: governo genocida, agravamento da situação de miséria e de fome, radicalidade do princípio ultraliberal, aumento dos conflitos no campo e ataque à educação pública, à ciência e à universidade.
Enfrentar o luto nesse momento histórico não é uma tarefa fácil. Converter o nosso luto em luta é a condição necessária para que a memória daqueles que lutaram, e para que o nosso futuro possa recuperar o seu sentido pleno de emancipação humana.
A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) nasce da necessidade dos grupos que trabalham a Questão Agrária Brasileira, e também se articulam na defesa dos movimentos populares do campo, reafirmarem o compromisso da universidade com a Reforma Agrária Popular, como forma de democratização da estrutura agrária, social, econômica, política e educacional brasileira. As atividades do JURA da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), ocorrem de 15 a 17/04 e podem ser acompanhadas no canal do YouTube ÉdoCampo Semiárido Mineiro.
A segunda edição da JURA na Unimontes amplia o debate da questão agrária brasileira trazendo as singularidades da luta pela terra no Sertão Mineiro. O evento conta com a participação de grupos de pesquisa, ensino e extensão que trabalham com o Norte de minas e semiárido mineiro, em sua amplitude e diversidade, na defesa da universidade popular, da Educação do Campo, indígena e quilombola, dos povos e comunidades tradicionais, dos povos indígenas, do campesinato e da Reforma Agrária Popular.
Como reflete o Dirigente Regional do MST em Minas Gerais, Samuel Costa: “A JURA nessa conjuntura que estamos vivendo traz um chamado à universidade e aos intelectuais para defesa da ciência e da educação – contra a tirania, a ignorância e contra o genocídio desse governo que caminha contra qualquer possibilidade de combater, de forma responsável e coerente a pandemia”.
Samuel ressalta ainda que nesse Abril Vermelho a regional do MST no Norte de minas presta sua solidariedade às populações das periferias urbanas articulando doações de alimentos junto às Pastorais Sociais de Montes Claros (MG). “Esse é um princípio do MST desde sua fundação: a solidariedade”, conclui o dirigente regional, fazendo referência as ações de solidariedade do MST desde o ano passado com o início da pandemia.
O Atlas da Questão Agrária Norte-Mineira (2021), demonstra que no período de 2000-2019 o Norte de minas (representado em seus 89 municípios) registrou aproximadamente 25% dos conflitos por terra em todo estado de Minas Gerais. Um dado extremamente alarmante que coexiste com as disputas pela água, como parte da territorialização do agronegócio (com aumento de 102% dos pivôs centrais de irrigação no período de 1996-2010). E que tem como sua causa estrutural: a concentração de terras e as contradições do capitalismo agrário na região Norte mineira.
A violência no campo está diretamente ligada com um modo de produção econômico e político que concentra a propriedade, acumula riquezas em escala mundial e aprofunda desigualdades. Sendo a expropriação camponesa e a violência contra os trabalhadores do campo exemplos dessa concretude.
A JURA, portanto, tem o papel de provocar no espaço acadêmico o debate da Questão Agrária Brasileira e também reconhecer o legado dos movimentos sociais que fazem com que a história da luta pela terra não seja a história do latifúndio exportador, da acumulação de capitais e da modernização dolorosa. Mas sim, a história daqueles que se levantaram contra esse modelo, que cultivam a solidariedade e a rebeldia, que cotidianamente constroem alternativas coletivas. Trata-se, também de um espaço que recupera a memória daqueles que lutaram em outrora – como em Eldorado do Carajás – e que fecundam nossa caminhada!
Que a defesa da Universidade Necessária, da Reforma Agrária Popular e dos Povos do Campo sejam a centelha que nos possibilitem lutar em unidade! De mãos dadas e com Punhos Erguidos!
Mais informações na página do Facebook: JURA – Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária/ Unimontes
*Editado por Solange Engelmann