Relatos Produtivos
Relatos produtivos: As sementes crioulas na preservação ambiental no estado da Paraíba
Da Página do MST
As mulheres, há diversas gerações, selecionam, produzem, armazenam, preservam e adaptam sementes crioulas, num trabalho de pesquisa e prática diárias. Essas mulheres agricultoras familiares, assentadas da Reforma Agrária Popular, de povos indígenas e de comunidades tradicionais, possuem um papel fundamental para garantir que sementes de grãos, de hortaliças, de frutas, flores, medicamentos e outras variedades tenham sua riqueza genética e nutricional resgatadas e preservadas. No Bioma Caatinga essas questões aparecem com força.
A trabalhadora Sem Terra Adilma Pereira é uma guardiã das sementes crioulas e desenvolve o processo de colheita, seleção e preservação desse patrimônio histórico. Assentada no município de Remejo, no estado da Paraíba, Pereira relata que o processo de organização produtiva das sementes é desafiador.
“O governo do estado possui o hábito de todo ano entregar sementes de feijão e milho para plantio, mas essas sementes não são sementes que vem da agricultura familiar, são de grandes empresas e vem contaminada com agrotóxicos”, explica.
Por outro lado, ela fala também que o trabalho com as sementes crioulas tem sido fundamental para garantir o desenvolvimento econômico e a biodiversidade da caatinga.
Saiba mais:
“Adilma Pereira Fernandes, 49 anos, assentada no assentamento Moziel Pereira, em Remejo, no estado da Paraíba.O assentamento Oziel Pereira possui atividades como a produção de sementes de milho, fava e feijão. Em 2005 começamos a trabalhar com os estoques de sementes, criamos um banco de sementes onde nos reuníamos e guardávamos essas sementes.
O local era de um companheiro do assentamento que ficou responsável pelas sementes.Alguns agricultores tem o hábito de construir seus próprios bancos de sementes guardando em garrafas PET colocando dentro das garrafas cominho ou pimenta do reino, lacram e guardam de um ano para o outro. São sementes que eles não utilizam para alimentação, sendo somente para plantar em épocas de chuvas e ter a multiplicação das sementes.
O governo do estado possui o hábito de todo ano entregar sementes de feijão e milho para plantio, mas essas sementes não são sementes que vem da agricultura familiar, são de grandes empresas e vem contaminada com agrotóxicos, não sendo um produto agroecológico.
As famílias do assentamento passaram então a rejeitar tais sementes.Tivemos ajuda da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia [associação de direito civil sem fins lucrativos] vendo a problemática fez uma formação no assentamento mostrando a forma de produção, estocagem e armazenamento de sementes crioulas.
Em 2015 recebemos um projeto para construção de dois galpões para o armazenamento das sementes produzidas na comunidade, que até então vinha sendo armazenada nas casas dos agricultores. Os galpões receberam os nomes de Banco comunitário de sementes PA Oziel Pereira Cajá, e Banco comunitário de sementes PA Oziel Pereira Lagoa do Jogo.
Hoje existem dois grupos responsáveis pelos bancos do projeto, um composto por mulheres na agrovila Cajá; e o segundo grupo composto por uma família de homens na Agrovila Lagoa do Jogo, ao total 5 pessoas compõem os grupos.
O banco da agrovila de Cajá destaca-se para além da produção de sementes já que ocorrem dinâmicas de formação junto com as escolas do campo. Nos bancos temos vários tipos de feijões, por exemplo, feijão carioca, feijão de corda, mulatinho, faveto, azul, etc.; e também vários tipos de favas, roxa, orelha-de-vó, cito milho também com espécies Jaboatão e sabugo fino.
A produção agroecológica no assentamento também nos sensibiliza quanto ao reflorestamento no bioma Caatinga, que também é uma de nossas metas. Nesse contexto implantamos agroflorestas com plantas nativas, em áreas de assentamentos ao qual se encontravam degradadas, e plantação de mudas forrageiras, por exemplo, a Gliricídia, Leucena, Mandacaru, entre outras espécies, inclusive as frutíferas como o cajá. O reflorestamento dessas áreas é essencial para nossa gente.”
*Editado por Fernanda Alcântara