Rio de Janeiro
Grito dos Excluídos reúne organizações progressistas no Acampamento Cicero Guedes, em Campos dos Goytacazes
Por Daniela Abreu
Da Página do MST
O dia Sete de Setembro no município de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro foi diferente este ano, na fazenda Cambahyba. O Grito dos Excluídos, organizado por movimentos populares e sociais, partidos políticos e organizações reuniu representantes políticos do campo progressista e moradores da Ocupação Novo Horizonte em um ato de apoio às famílias do Acampamento Cícero Guedes que, após imissão de posse, aguarda o cadastro e assentamento das famílias Sem Terra. Além disso, foi um momento de reafirmar a luta contra um governo que nega direitos, desafia e incita a população contra as instituições de justiça.
“Nesse ano que o MST-RJ completa 25 anos, ocupar novamente as terras de Cambahyba é um ato simbólico porque essas terras têm história muito simbólicas. Violências que deixam nos trabalhadores a ideia de que não são dignos de direitos. É uma honra ter todos vocês, juntos com a gente, construindo essa luta que não veio de ontem e não vai terminar amanhã. Enquanto houver latifúndio nesse país, nós estaremos levantando nossas cercas para um novo modelo de vida. Até que façam a Reforma Agrária nessas terras, estaremos resistindo”, disse Luana Carvalho, da direção nacional do MST.
Isabela Moraes, da Unidade Popular lembrou a importância do MST diante de um Brasil que passa fome. “Estamos próximos da hora do almoço e boa parte da população brasileira não sabe o que vai comer, tamanha a insegurança alimentar em um projeto de fome, onde só se exporta e o povo não tem o direito de se alimentar”.
O presidente do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) de Campos, Germano Godoy, lembrou que neste momento de dificuldade, a união e o apoio à população têm papel fundamental. “Em Campos, vivemos um momento histórico, com duas grandes ocupações. Uma delas, a maior ocupação urbana do interior do estado do Rio de Janeiro, no Novo Horizonte. É preciso lembrar que enquanto estamos aqui, estão tentando um golpe. Precisamos nos manter firmes e unidos”.
O diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, José Maria Rangel também defendeu a união. “Hoje, estamos reafirmando nossa luta por alimento e por trabalho. Temos que aproveitar esse momento também para nos reenergizar. Juntos podemos derrotar esse inimigo”.
Companheiro de lutas e representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Borges, leu um trecho de Cora Coralina, que retrata a necessidade de resistência em tempos de erguer a cabeça contra as injustiças sociais. “Desistir? Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei a sério. É que tem mais chão nos meus olhos, que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração, do que medo em minha cabeça.”
O momento de luta e confraternização do Sete de Setembro de 2021 foi celebrado com uma deliciosa feijoada comunitária.
Luta pelo direito à terra
No 24 de junho deste ano, centenas de famílias Sem Terra ocuparam a fazenda Cambahyba. A primeira grande vitória veio com a imissão de posse das terras, concedida pela Justiça Federal ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no dia 5 de julho. Se na história do MST a luta sempre foi pela imissão de posse, desta vez o obstáculo é outro, o cumprimento da decisão judicial pelo órgão.
O Acampamento Cícero Guedes leva o nome da principal liderança do MST no estado do Rio de Janeiro e assentado do Zumbi dos Palmares, assentamento que marca os 25 anos do movimento no território fluminense e que foi executado em 2013, nas terras de Cambahyba, marcadas pelo sangue das vítimas da ditadura e dos conflitos de terra. Naquele ano também se iniciou os trâmites para a desapropriação.
Hoje as famílias esperam que, uma vez assentadas, conforme indica a justiça, possam ter seus lotes e aumentar o cultivo agroecológico. As primeiras produções, em menos de três meses na terra são símbolos da luta de Cícero Guedes, e de todos que, assim como ele, tombaram no caminho e para os que resistem. São cerca de 1.300 hectares para a construção de uma Reforma Agrária Popular e justa.
*Editado por Solange Engelmann