Relato Produtivo

Assentamento do MST no Pará recupera diversidade de Bioma Amazônico

Experiência promove reconstituição florestal e recuperação de nascentes de água, com produção de alimentos diversificados em parceria com a floresta
Sem Terra do MST desenvolvem iniciativas produtivas de recuperação florestal, com a implantação de Sistemas Agroflorestais no Bioma Amazônico. Foto: Arquivo MST PA

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

No último dia 5 de setembro foi comemorado o dia do Bioma Amazônico, considerado o maior bioma do Brasil e a área de maior biodiversidade do planeta. A Amazônia abrange aproximadamente, 49% do território brasileiro, e concentra a maior floresta tropical e maior bacia hidrográfica do mundo.

Devido às suas diversas particularidades, com uma vegetação extremamente densa, fauna e flora diversificada e seus rios extensos que abrigam uma diversidade de espécies animais e vegetais, o bioma da Amazônia é fundamental para a manutenção do equilíbrio ambiental do mundo e a sobrevivência dos povos originários – indígenas, camponeses/as, trabalhadores/as rurais e extrativistas, e precisa ser preservada.

Os/as trabalhadores/as Sem Terra do MST que vivem na região Amazônica têm desenvolvido ao longo do último anos uma diversidade de iniciativas produtivas de recuperação florestal, reconstituição de nascentes de água, com a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), que possibilitam consorciar a produção de alimentos com a recuperação da floresta, gerando mais vida, renda e desenvolvimento humano e social na região.

As iniciativas se somam ao Plano Nacional do MST lançado em 2020: “Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis“, que na próxima semana, em comemoração ao dia da Árvore (21 de setembro), realiza um conjunto de atividades nas áreas de Reforma Agrária pelo país.

A partir de 2004 um grupo de mais de 300 famílias Sem Terra do MST desenvolvem várias experiências produtivas de autoconsumo e sustento familiar camponês em parceira com a recuperação do Bioma Amazônico, no assentamento Abril Vermelho, município de Santa Bárbara do Pará, há 40 quilômetros da capital Belém.

A experiência tem resultado na reconstituição florestal da área, antes ocupada pela monocultura do dendê que gerou sérios impactos ambientais, e garantido a reconstituição das nascentes de água, além da melhoria na alimentação, qualidade de vida dos/as assentados/as, entre outros benefícios. Confira no relato produtivo de Raimundo dos Santos Filho, assentado no Abril Vermelho e formado em geografia. 

Relato produtivo de reconstituição florestal:

“As primeiras experiências produtivas de caráter diferenciado foram ainda introduzidas na fase de acampamento, no período da resistência. Dentro da organização dos núcleos de base foi definido áreas às margens do acampamento, pra que os núcleos fizessem seus plantios pra garantir a sobrevivência. A princípio culturas de lavouras brancas: feijão, milho, arroz, mandioca e também foi uma oportunidade pra que as famílias se conhecessem, exercitassem o trabalho coletivo e conseguisse produzir as necessidades básicas pra sobrevivência pra poder manter a luta e a resistência política.

A partir daí foram essas grandes experimentações e adequações do que a terra poderia nos proporcionar. Já que a gente falava de uma fazenda de dendê, que tinha grandes danos ambientais, afetação das nascentes, excesso de populações de alguns insetos, como formigas. Dentro do assentamento as espécies são diversas, característica oriunda da Amazônia. Temos, além da recomposição florestal natural, devido ao não manuseio do dendê também a inserção dos Sistemas Agroflorestais: o açaí, a pupunha, o coco, o cacau… e outras árvores de característica do nosso bioma.

No manejo nós agregamos diversas experiências coletivas de trabalho, e acompanhando um debate que o MST vem desenvolvendo em nível nacional, a gente vem buscando parcerias pra conseguir conciliar a formação política e o desenvolvimento do trabalho, na perspectiva da agroecologia, sem o uso do veneno, com práticas e manejos ecológicos e agroecológicos.

Temos dentro dos SAFs linhas de produção do assentamento, do ponto de vista da alimentação e também do comércio. Por exemplo, a pupunha, o açaí, hoje são as variedades mais introduzidas. Isso deu uma dinâmica de comércio profunda pro assentamento, já que aqui tem um grande mercado consumidor, o mercado metropolitano, principalmente, a capital Belém. Isso vem dando um saldo positivo pra gente. Cada vez mais as famílias vêm se interessando e se envolvendo.

Nosso assentamento participa de 11 feiras dentro da região metropolitana, dessas umas 8 são em Belém. São feiras em que as próprias famílias assentadas vão lá, venderem seus alimentos, sua produção, e isso tem um retorno muito interessante, do ponto de vista de injeção financeira dentro do assentamento e cria um incentivo pra que as famílias avancem no processo da agricultura, com base orgânica e agroecológica.

Nós temos um resultado de melhoramento da água, os igarapés vieram com mais força, tão mais cheio dentro do nosso assentamento. Já não se tem mais o excesso de algumas populações de formigas. A qualidade de vida pras próprias famílias, nesse sentido e também uma melhor alimentação e criação de condições de sobrevivência, de se alimentar e comercializar”, conta Raimundo.  

Onde havia monocultivo de dendê hoje o assentamento abriga diversas espécies características da Amazônia. Foto: Arquivo MST PA

Histórico de luta

O assentamento Abril Vermelho fica no município de Santa Bárbara do Pará, na região metropolitana de Belém, no Pará, a 40 quilômetros da capital . E possui em torno de 396 famílias assentadas em uma área de 6.668 hectares de terra.

A área destinada ao assentamento antes abrigava o monocultivo de dendê, sendo a primeira experiência da cultura no Pará, implantada na década de 1960 na Amazônia, explica Raimundo. A fazendo foi ocupada pelo MST em 16 de abril de 2004, como parte da jornada de lutas do Abril Vermelho, realizadas pelo Movimento em todo país. O assentamento foi criado em 2009, e reconfigurou a lógica do local, introduzindo novamente a diversidade de cultura em um ambiente, de monocultura do dendê.

Floresta em pé, comida no prato

O Programa Comida de Verdade com MST também homenageou o bioma, com o tema “Amazônia – floresta em pé, comida no prato!”, apresentando a importância da produção de alimentos saudáveis na Amazônia, como um espaço de vida e diversidade. Confira o programa completo abaixo:

*Editado por Fernanda Alcântara