Solidariedade

Esperança se renova com a união dos trabalhadores da cidade e do campo em Curitiba

Ação vai construir galpões para melhorar as condições de trabalho de catadores de recicláveis na capital paranaense
Foto: Joka Madruga

Por Luís Lomba, de Curitiba
Da Revista Fórum

A esperança se renova num novo amanhecer, em Curitiba, com a união dos trabalhadores da cidade e do campo em torno de uma associação de catadores de recicláveis. O MST lidera uma mobilização para construir galpões que possibilitarão aos 40 catadores da Associação Novo Amanhecer, a maioria mulheres, terem um teto para trabalhar na separação dos materiais que coletam nas ruas da capital paranaense. A ação inclui campanha de arrecadação para completar os R$ 40 mil necessários para a obra, que já começou nessa semana. A inauguração deve acontecer no dia 16 de outubro.

As doações vão melhorar a vida de gente como Paulo Guilherme, 26, que se associou à entidade neste ano. “Quem puder ajudar, vai ser muito importante, de qualquer forma, em material ou dinheiro, vai ajudar muito”, diz ele, que é casado e tem três filhos. Além do MST, que doou a madeira e o trabalho voluntário de 11 carpinteiros, a iniciativa tem o apoio da paróquia local e de sindicatos paranaenses. A campanha de arrecadação terá o reforço de uma live, em data a ser definida, com artistas populares se apresentando e divulgando a ação solidária.

A força do coletivo fica evidente quando conversamos com Paulo Guilherme Trindade. Para ele, a vida começou a entrar nos trilhos quando se associou à Cooperativa Novo Amanhecer. “Tudo melhorou pra nós. A gente coletava com a mão, não tinha carrinho. Depois que fomos lá no barracão, Deus preparou tudo para nós. Hoje temos um carrinho para trabalhar. É uma vitória pra nós”, resume. “Antes eu me esforçava para conseguir comprar um carrinho e não conseguia. É triste ver material na rua e não poder carregar. Chegava em casa saía de novo, catando na mão”, lembra.

O carrinho foi comprado por R$ 200 de um companheiro da Associação e reformado pelo soldador que trabalha na cooperativa. “Meu carrinho parece um carro, bem grandão. Ficou da hora, pintei, ponho adesivo, deixo ele o mais bonito possível. Coloco uma caixinha de som e vou escutando música, sertanejo, funk, as dance das antigas que eu gosto. Trabalho o dia todo alegre, dando risada”, diz Paulo Guilherme. “Eu não tenho o meu carro, então o meu é aquele carrinho ali. Mas tudo vai melhorar, se Deus quiser”, completa.

Foto: Joka Madruga

Sem deixar de sonhar, Paulo Guilherme constata que o apoio da associação melhorou a vida da família. “Já dá pra ver uma diferença na nossa vida”, diz. A esposa dele,Gisiane Trindade, concorda. “Já tô conseguindo comprar as coisas que a gente sempre queria. A gente também tira um dinheiro por fora, vendendo um material ou outro, quase todo dia a gente vê um troco, sempre tem pro pão, pra uma mistura. Quando a gente trabalhava em outros lugares era só era só pagar umas continhas e não dava para mais nada”, afirma.

Catadores são responsáveis por 90% do lixo reciclado no Brasil.

A Associação Novo Amanhecer funciona num galpão ocupado no dia 7 setembro de 2006. Em 15 anos, muitas conquistas foram alcançadas, entre elas uma cozinha comunitária que serve almoço aos associados por R$ 1,50. “A cozinha é perfeita. A gente já chega com fome e tem comida pronta esperando, com um suquinho gelado pra acompanhar a comida, que é super boa. A gente almoça lá todo dia”, afirma Paulo Guilherme. Os alimentos para preparo das refeições são comprados pela entidade e doados pela paróquia local.

A arrecadação da Cooperativa com a venda do material reciclado é de cerca de R$ 40 mil por mês – 10% vão para um fundo que cobre despesas com água e energia elétrica, além de bancar investimentos na melhoria da estrutura. A associação está colocando R$ 10 mil para iniciar as obras dos novos galpões. A ampliação deve possibilitar também acolher novos associados, gerando mais trabalho e renda.

Os catadores da Novo Amanhecer ganham de R$ 500 a R$ 2 mil por mês, dependendo dos materiais e dos volumes que coletam. Os preços dos materiais variam muito, o que impacta a renda desses trabalhadores. Os preços do papelão caíram mais de 30% nos últimos meses. Outro problema é que a dificuldade para conseguir material tem sido crescente, pois com a crise econômica há mais catadores disputando materiais nas ruas. “Mês passado a gente conseguir pesar seis bags de papel e dois de pet. Esse mês não estamos conseguindo”, comenta Gisiane.

As Iniciativas da União Solidária começaram em junho de 2020 e levaram alimentos e gás a diversas comunidades de Curitiba e Região Metropolitana. Também houve mutirões para criação de hortas comunitárias e da Agrofloresta Papa Francisco, que está sendo mantida pelo Centro de Integração Social Divina Misericórdia.

COMO DOAR

A sua doação cairá direto na conta da Associação Novo Amanhecer, que tem mecanismo coletivo de acompanhamento.

Caixa Econômica Federal

Agência: 2204

Conta corrente PJ: 003

Número da Conta: 00000399-8

PIX: CNPJ / 05.685.690/0001-83