Mulheres Sem Terra
Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra vira filme e será lançado nesta quinta (21)
Por Martha Raquel
Da Página do MST
Com o mote “Mulheres em Luta: Semeando a Resistência”, quase quatro mil mulheres camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estiveram reunidas em Brasília entre os dias 05 e 09 de março de 2020. A atividade, uma das últimas antes da pandemia, foi palco de discussões que buscavam fortalecer a construção coletiva da luta por uma nova sociedade, onde as mulheres tenham de fato respeito e dignidade. Este foi o primeiro evento pensado, focado e realizado somente por mulheres do MST.
E para registrar a importância histórica desta atividade, um documentário em formato de curta metragem foi gravado pela Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho junto com os setores de gênero e de comunicação do MST e da Escola Nacional Florestan Fernandes.
O curta será lançado no próximo dia 21 de outubro, às 19h, através das redes sociais do MST.
Sobre o encontro
O 1º Encontro Nacional das Mulheres do MST foi um espaço de troca de informações, conhecimento e experiências, além de uma oportunidade de fortalecimento da luta das mulheres dos campos, das florestas e das águas.
Débora Nunes, do MST Alagoas, pontuou, no evento, que a terra precisa ser compartilhda. “Se o agronegócio e a mineração querem privatizar, nós precisamos fazer o contrário. E como é que a gente faz? A gente faz quando a gente democratiza a terra. E a gente faz isso através das ocupações”.
Marina Gouvêa, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também levantou pontos importantes sobre a realidade do Brasil hoje, que tem desemprego adulto e trabalho infantil. E, segundo Gouvêa, isso se dá enquanto o país joga fora comida e tem gente morrendo de fome. “A sociedade capitalista não tem nenhuma resposta para as trabalhadoras e os trabalhadores deste planeta. A sociedade capitalista não tem como resolver os problemas”.
Neném, como é conhecida Antonia Ivoneide, faz parte do movimento no Distrito Federal. Ela lembra que o agronegócio no campo é o que as mulheres camponesas conhecem mais de perto, e que ele é a representação do capital. “É o capital financeiro, é o capital econômico. São aqueles que mandam no país para buscar o lucro através da exploração das pessoas, mas também a exploração profunda de todos os bens da natureza”.
Dirigente Nacional e parte do MST São Paulo, Kelli Mafort concorda. “Com a crise do capital se aprofundam essas relações de exploração contra os trabalhadores. Mas é no campo, onde existem relações ainda mais precarizadas históricamente – porque nós estamos falando de uma tradição de um país escravocrata, que viveu 350 anos de escravidão indígena e negra, é no campo onde essas relações ainda estão mais presentes”.
Miriam Nobre, da Marcha Mundial das Mulheres, em fala durante o encontro, disse que economia ainda funciona como no tempo da escravidão. “O trabalho dos homens e das mulheres negras é utilizado até a última gota de suor e descartado”.
“A agroecologia não é só não usar veneno, ela está ligada ao nosso projeto de sociedade, nosso projeto político organizativo do MST”, lembrou Izabel Rodrigues, do MST no Pará.
É um processo muito além do plantar, classificam as mulheres. É um projeto de vida. Devanir Araújo, do MST Mato Grosso, lembra que a luta das mulheres nunca foca do “eu”. “A gente precisa se libertar, mas não individualmente, se libertar coletivamente”, pontua.
Divisão sexual do trabalho
O papel das mulheres na sociedade, na divisão sexual do trabalho, também foi pauta do encontro nacional. Kelli Mafort destaca que, por vezes, o trabalho da mulher é visto como essencial, mas não é valorizado como trabalho por não gera lucro. “É muito importante que a gente destaque a questão da mulher do campo nessa realidade de precarização do trabalho. Ela começa a trabalhar muito nova, muitas vezes na própria infância. E esse trabalho das mulheres se inicia, principalmente, na esfera dos cuidados, que não é considerado como trabalho produtivo”.
“O trabalho doméstico e toda a economia da agricultura familiar, ligado ao trabalho de quintal, são fundamentais para garantir o consumo das famílias, mas não necessariamente são considerados renda, porque não é o grande substantivo de uma produção”, pontua a dirigente do movimento chamando o tema para discussão.
Místicas, cantos e danças permearam as atividades que pediam o fim do machismo e da violência contra as mulheres. Com palavras de ordem, as mulheres também se posicionaram pela agroecologia e a reforma agrária. O encontro reafirmou seu posicionamento contra o racismo, o patriarcado, a lgbtfobia e as questões estruturantes da nossa sociedade.
Serviço:
Mulheres em luta: Semeando resistência
Estréia: Quinta (21/10)
Horário: 19h
Onde: Nas redes sociais do MST
Relembre também o Encontro em imagens:
*Editado por Fernanda Alcântara