Agroecologia é o Caminho
“Agroecologia é a resposta para um futuro que a gente quer”, diz Bela Gil
Por Barbara Zem
Da Página do MST
Neste último sábado (19/3), durante a Jornada de Solidariedade: Rumo aos Comitês Populares, Bela Gil, apresentadora e mestre em gastronomia, foi ao sítio Novo Amanhecer Agroecologia, localizado no assentamento Eli Vive, em Londrina. A apresentadora foi conversar com Jovana Cestille para conhecer um pouco mais sobre a dinâmica do assentamento e como funciona a produção de orgânicos.
Jovana Cestille tem 48 anos é agricultora e mestre em tecnologia pela UTFPR e está no MST desde 1997. Mora no assentamento desde 2011, quando ainda era acampamento, e só em 2014 conseguiu o lote onde mora hoje, local onde produz seus próprios alimentos.
“A gente sonhava com um lote que tivesse árvores, que tivesse um riozinho, mas quando chegamos o lote tinha apenas três árvores, então a gente tinha essa missão de reflorestar. Em 2016 a gente começou a implantação da nossa agro floresta e todo ano a gente está ampliando, para isso temos árvores nativas da região, que são frutíferas também, como ingá, jaracatiá, gabiroba, também café e plantas medicinais”, comenta Jovana.
Assim como muitas famílias, Jovana tem um espaço repleto de vida, com muitas árvores, hortaliças e plantas medicinais de onde tira parte de seu sustento. As hortaliças e as plantas medicinais são usadas na produção de óleo essencial e hidrolatos, em parceria com o projeto Ubuntu.
Uma maneira de viabilizar a venda dos outros produtos produzidos pelas famílias é a partir da Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon), que fica dentro do assentamento. É por meio dela que as famílias podem fazer a comercialização da produção em mercados institucionais, a partir do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Outra forma de comercialização é o Feirão da Resistência, que foi criado por um coletivo, com pessoas do Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL), do MST e integrantes do Sindicato dos Jornalistas (SindJor) do Norte do Paraná, além de artesãos, feirantes e artistas de rua, que tinham como intuito ajudar na distribuição e divulgação desse produtos.
De maneira geral, o ideal é que todas as famílias do assentamento possam fazer parte de uma rede de certificação para poder vender seus produtos. Como isso ainda não foi possível, é por meio desse sistema que as famílias conseguem vender e manter a produção local com esse lucro, sempre tomando todos os cuidados necessários que os alimentos agroecológicos precisam.
Agroecologia é comida de verdade
Os alimentos que vem da agroecologia, são responsáveis pela garantia de uma vida mais saudável, sem agrotóxicos, é comida de verdade, nutritiva e natural, que vem da terra, são esses alimentos que deveriam chegar com mais facilidade à mesa do consumidor final.
“Agroecologia é muita coisa, mas eu acho que ela é a resposta para o futuro, para um futuro que a gente quer, com uma alimentação mais saudável, mais harmônica. Quando eu digo mais saudável não é só para o corpo, mente e espírito, mas para o planeta também”, afirma Bela Gil.
Muitas pessoas podem achar que por não estarem no campo, trabalhando diretamente com os alimentos não tem como ajudar na luta pela Reforma Agrária Popular, mas na verdade existem diversas maneiras disso acontecer.
“ O que você pode fazer morando na cidade? Procure o armazém do campo, que é um empório maravilhoso, com produtos da reforma agrária. Você pode comprar diretamente do produtor, pode buscar soluções que sejam possíveis na sua vida para você se aproximar da agroecologia no consumo do seu alimento. Eu acho que também é uma forma de se fazer política, de ser ativista, é comprando, indicando e compartilhando comida agroecológica”, destaca a apresentadora.
Falando em agroecologia e alimentação, logo remetemos ao tema da liberação de agrotóxicos e da PL do veneno que é um assunto em alta a todo momento, Bela Gil sempre traz esses temas para discussão por fazer parte do meio que vive e para lembrar a todos, como essa liberação pode afetar toda uma rede de produção.
Esse PL é um absurdo. O Brasil já é um dos grandes consumidores mundiais de agrotóxicos nestes últimos anos. Eu acho que tem um perigo muito grande, nesse PL em si, pois tem uma questão que eu acho crítica que é retirar dos órgãos do IBAMA e da Anvisa que são responsáveis pela nossa saúde, nosso meio ambiente e colocar a aprovação desses venenos, desses agrotóxicos na mão do Ministério da Agricultura. Eu espero que isso não aconteça, porque a gente sabe do interesse do agro na flexibilização desses produtos.”
De tanto falar em alimentação, outro assunto que não poderia ser deixado de lado é a fome que está em constante crescimento, não só no Brasil, mas no mundo. Essa questão se tornou um problema ainda maior nos últimos anos, quando o Brasil voltou a fazer parte do mapa da fome em 2018, e quando em 2020 registrava 55,5% da população com insegurança alimentar.
“Essa questão da fome é muito complexa, e a gente sabe que a gente produz comida para alimentar 10 bilhões de pessoas, e não somos nem 8 bilhões de pessoas no mundo, ou seja, a gente tem comida excedente, tem comida para alimentar todo mundo”, explica Bela. Já se sabe que a questão da fome é um problema político, e que os governantes que não colocam esse item como fundamental, fazem esse número aumentar a cada dia. Isso é justamente o que traz em dados, o mapa da fome, um aumento constante de um problema que poderia ser minimizado.
Dados do mapa da fome e da PL do veneno mostram que a agricultura familiar, ganhando mais divulgação e abertura de mercado, pode auxiliar na diminuição da fome e trazer uma alimentação mais saudável e sem agrotóxicos para todos.
*Editado por Wesley Lima