Perfil

Especial Dia da Caatinga: Mulheres que constroem a luta e a resistência no Ceará

Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis apresenta histórias e perfis de luta, resistência e agroecologia; conheça Maria de Jesus
Foto: Aspasia Mariana

Por Aline Oliveira
Da Página do MST

Maria de Jesus dos Santos, 51 anos de idade, nasceu em 18 de junho de 1971 na comunidade de Ipueiras dos Gomes, localizada no Município de Canindé–CE, filha de pequenos agricultores, Joana dos Santos Gomes e Jose Valmir dos Santos Gomes, que juntos tiveram 7 filhos, quatro homens e três mulheres. 

Ainda jovem, aos 15 anos de idade Maria Jesus iniciou sua militância nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), foi educadora da comunidade em que residia. Durante muito tempo atuou na educação na defesa dos servidores públicos municipais, na articulação com o Sindicato dos Profissionais da Educação do Interior do Ceará, além de ter atuação ativa na educação, foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores de Canindé.

Em 1989, quando acontece a 1ª ocupação de terra no Ceará, na fazenda Reunidas de São Joaquim, localizada nos municípios de Madalena, Quixeramobim e Boa Viagem, hoje assentamento 25 de Maio, Jesus fez parte de um grupo de apoio e solidariedade ao movimento.

Em 1991, acontece o 1º encontro do setor de educação no estado do Ceará, no Assentamento Vitória em Itatira no qual Maria de Jesus participou da construção do encontro e começou a se encantar pela pedagogia defendida e praticada pelo movimento. No município de Canindé, Jesus já contribuía com a formação nos acampamentos e assentamento. Em 1992, por perseguição política foi demitida da Prefeitura Municipal de Canindé e entrou definitivamente na militância orgânica do MST. 

“Fazer parte dessa luta, dessa organização tão importante para liberdade da terra e para liberdade da classe trabalhadora do nosso país é motivo de muito orgulho pra mim, pretendo continuar até meus últimos dias de vida” destaca Jesus, emocionada.

Foto: Brito Júnior

Hoje Maria de Jesus é assentada da Reforma Agrária, no assentamento Bernardo Marim II, em Russas Ceará, tem três filhos, duas mulheres filhas de seu primeiro casamento, com Bernardo Marin, e um adolescente fruto do segundo casamento, com Pedro Costa. Na vida de Maria o estudo sempre foi prioridade e passa seus princípios e valores para as filhas e o filho. Uma de suas filhas seguiu o mesmo caminho da mãe, é uma dirigente do MST no Ceará, estuda Serviço Social e a outra faz faculdade de medicina. 

O assentamento onde Maria de Jesus vive leva o nome de seu primeiro companheiro, Bernardo Marin, que foi um militante ativo na luta em defesa da liberdade dos povos, padre e também fez parte do Exército de Libertação Nacional da Colômbia, morreu vitima de um aneurisma cerebral no ano de 2002.

Durante sua militância Maria de Jesus fez parte dos coletivos de educação, e por muito tempo na educação de jovens e adultos, onde passou mais tempo de atuação, também atuou no setor de gênero, e fez parte da direção nacional do MST pelo Ceará por 8 anos. 

Relação com a terra e a produção de alimentos saudáveis

Jesus, como é popularmente conhecida, é uma defensora da agroecologia, uma militante animada, uma inspiração para militância mais jovem. O assentamento onde é assentada fica localizado em um território de muitas disputas, tabuleiro de Russas é o perímetro irrigado na região do semiárido, o bioma caatinga enfrenta constantemente a seca, e nesse sentido a ocupação do território foi uma necessidade de garantia da terra e da água para a Reforma Agrária.

“Quando ocupamos essa área há 18 anos atrás tínhamos em mente que terra é para os Sem Terra e não para os empresários” afirma Jesus.

Foto: Brito Júnior

A região do vale do Jaguaribe é um território de muitas disputas e perseguições pelas empresas de energia solar, energia eólica e pelo agronegócio que tem usado a maioria das terras da região de todo vale do Jaguaribe como espaço de produção de grandes monocultivos com uso exagerado de veneno. As lideranças que ousam tomar posição contra a exploração e devastação que o agro-hidro-minério-negócio tem causado no território são perseguidas e até assassinadas, como foi o caso do ambientalista José Maria do Tomé.

Maria de Jesus é camponesa que defende e faz na prática a agroecologia. Sua família é uma das cinco do assentamento que conseguiu a certificação orgânica com a produção na Área de Produção Agroecológica Ana Primavesi (APA). O assentamento Bernardo Marin é o primeiro do MST no estado do Ceará a receber a certificação orgânica.

“A terra para nós, no país que a gente vive é poder e terra nas mãos dos camponeses e camponesas tem sido poder, poder de ofertar a sociedade alimentos saudáveis”  

Jesus é uma das assentadas que abastece a Feira Cultural da Reforma Agrária, que acontece no Centro Frei Humberto, em Fortaleza, no segundo sábado de cada mês. No assentamento Bernardo Marin ela faz parte de coletivo da área de produção de plantio florestal, sabiá e aroeira entre outros. 

Em nossa região, a região do semiárido brasileiro, da caatinga, produzir nossa comida é produzir dignidade”

Atualmente Jesus é da direção estadual do MST pelo setor de educação, faz parte das ações de territorialização da agroecologia, com a metodologia do Camponesa e Campones e Camponesa e Campones e também na coordenação colegiada do plano nacional “Plantar Arvore Produzir Alimentos Saudáveis”.

“A Reforma Agrária nos garante trabalho, nos garante renda, há um abandono por parte do governo federal, nós precisamos de política publica para agricultura camponesa, com a reforma agrária popular”, conclui.

*Editado por Fernanda Alcântara