Reforma Agrária Popular
Festa da Colheita em comunidade do MST no PR garante 2,5 toneladas de feijão
Por Juliana Barbosa e Leonardo Henrique, Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
No sábado (7), camponesas e camponeses reuniram-se para a colheita de feijão no acampamento Reduto de Caraguatá, em Paula Freitas, no Paraná. Na comunidade do MST, as famílias colheram e beneficiaram 2,5 toneladas do alimento.
Dentre moradores, integrantes do MST de outras áreas no estado, agricultoras(es) da região e apoiadores, cerca de 80 pessoas participaram do mutirão.
“A coletividade é muito importante, sozinhos não conseguimos. Desde o plantio até a colheita, é feito com amor. O acampamento é uma família. É gratificante tirar nosso sustento de um alimento saudável e poder ajudar partilhando também”, disse Roseli Aparecida Ribeiro, moradora do acampamento.
O feijão será destinado para consumo próprio, à escola da comunidade e distribuído em ações de solidariedade. Desde o início da pandemia, o MST já doou mais de 960 toneladas de alimentos em todo o Paraná.
“Para nós, é muito simbólico essa colheita. Estamos há mais de 17 anos nessa área, e o Incra diz que essa terra é inviável para a Reforma Agrária. Ou seja, é um dos acampamentos que têm maior possibilidade de produção no Paraná”, afirmou Joabe Mendes, da coordenação estadual do MST no Paraná.
Trabalho coletivo, mística e estudo marcam sábado ensolarado
Na luta pela terra, camponesas(es) da Reforma Agrária buscam vida digna e alimentação saudável para o povo.
Carlos Frederico Marés, professor de direito e ex-Procurador Geral do Estado do Paraná de 1991 a 1994, também participou do mutirão. “A grande questão dos assentamentos e acampamentos no Brasil é que produzem comida. Feijão é o símbolo máximo da comida do brasileiro. Então, plantar e colher feijão é um ato de brasilidade, de dignidade”, declarou.
O dia seguiu com mística do coletivo de mulheres Flor do Sul do acampamento, mostrando o trabalho das companheiras com a erva-mate. Em caminhada cantando músicas do MST, como “Ordem e Progresso”, interpretada por Beth Carvalho, os participantes do mutirão se deslocaram até a gruta do monge São João de Agostinho, símbolo da resistência camponesa na Guerra do Contestado.
“Aqui foi onde passou São João Maria. Aqui na região do Contestado, canonizamos o monge. […] No campesinato tradicional, que são os Sem Terra, quilombolas, indígenas, a fé está muito forte. Esse lugar é importante para a nossa comunidade. São João Maria abençoou essa fonte que temos aqui e, segundo a lenda, por onde ele passa e abençoa a água, ela nunca seca. A água está ali jorrando para a gente ver”, contou Rodrigo Athayd, morador do acampamento.
Alfabetização de jovens e adultos
Após o almoço comunitário e do beneficiamento do feijão, foi inaugurada a turma do “Sim, eu posso“. Inspirado no método cubano de aprendizado, o projeto de alfabetização de adultos é realizado pelo MST em todo o país. A aula ocorreu no espaço da escola itinerante Paulo Freire.
“Quando ocupamos aqui, tínhamos um sonho de criar uma escola, de criar uma comunidade e de partilhar alimentos. Esse sonho está se concretizando a cada dia”, reforçou Joabe. “Com nossa organização, luta e resistência, mostramos para a sociedade que é possível se manter em terra mecanizada, padrão que o Incra quer, mas que dentro da agroecologia, da produção orgânica, qualquer terra é possível de se viver”.
Acampamento Reduto de Caraguatá luta pela Reforma Agrária há 17 anos
A região em que hoje está localizada a comunidade fez parte do grande território afetado pela Guerra do Contestado, o maior confronto civil-militar ocorrido entre os estados do Paraná e Santa Catarina no século passado.
No conflito, o governo federal e dos dois estados usaram as forças militantes para expulsar posseiros, caboclos e pequenos agricultores. Estima-se que 25 mil camponeses foram mortos durante 4 anos de guerra.
Na comunidade vivem 36 famílias que produzem alimentos saudáveis e lutam pela terra há 17 anos no local. O nome do acampamento de Paula Freitas homenageia o Reduto de Caraguatá, uma das “cidades santas” formadas pelos camponeses para resistir e enfrentar as tropas dos governos. “Essa guerra de 100 anos atrás continua, nunca acabou. Os camponeses queriam produzir comida e viver como essa gente que está aqui. Quem produz comida na terra, tem que ficar na terra porque a terra tem uma função social e uma delas é produzir alimentos”, reforçou o professor Marés.
Em fevereiro deste ano, o acampamento Reduto de Caraguatá completou 17 anos de ocupação. O aniversário foi celebrado com festa e doação de 150 cestas de alimentos para o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Paula Freitas. Os kits foram distribuídos entre famílias em situação de vulnerabilidade do município. Cada um foi recheado de esperança e comida boa e saudável. Entre pão caseiro, abóbora, feijão, arroz, banana e melado (a maioria produtos agroecológicos), o total chegou a quase 1 tonelada de alimentos.
*Editado por Solange Engelmann