Desaparecidos
Após ameaças, jornalista britânico e indigenista da Funai somem durante expedição na Amazônia
Por Murilo Pajolla
Do Brasil de Fato
O indigenista licenciado da Funai Bruno Araújo Pereira e o repórter Dom Philips, colaborador do britânico The Guardian, desapareceram durante uma expedição no Vale do Javari, oeste do Amazonas. Pereira acompanhava o jornalista em uma visita à região, onde comunidades indígenas e ribeirinhas distantes de centros urbanos têm sido alvo de invasões cada vez mais frequentes.
O desaparecimento ocorreu há mais de 24 horas, enquanto eles faziam visitas a ribeirinhos. Neste domingo (5), ambos chegaram por volta das 6h na comunidade São Rafael, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguir localizar o morador, rumaram para a cidade de Atalaia do Norte, mas nunca completaram o trajeto, que deveria durar cerca de duas horas.
A informação foi divulgada nesta segunda-feira (6) em nota assinada pela União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), entidades com as quais Ribeiro atuava em parceria.
“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relato dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo”, diz o comunicado. Outros relatos de intimidação nos últimos dias já haviam sido denunciados pela organização indígena à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público Federal (MPF), ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e à ONG Indigenous Peoples Rights International.
Equipes da Univaja percorreram minuciosamente o trecho por onde Pereira e Philips deveriam ter passado, “mas nenhum vestígio foi encontrado”, informou a nota. “A última informação de avistamento deles é na comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael – com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte”, dizem as entidades.
Indigenista denunciou desmonte da Funai
Experiente e profundo conhecedor da região, Bruno Pereira é um indigenista comprometido com a defesa dos povos indígenas e denunciou o desmonte da Funai sob Jair Bolsonaro (PL). “Os servidores estão silenciados, servidores de carreira são retirados de cargos estratégicos. A Funai está sendo tomada por interesses que não são dos índios”, afirmou ao Brasil de Fato em 2019.
O jornalista Dom Philips é um proeminente repórter internacional que já trabalhou para o The Washington Post, o New York Times e o Financial Times. No Brasil há mais de uma década, ele vive na Bahia. Entre os colegas, é conhecido pela admiração à Amazônia, para onde foi com objetivo de expor o impacto da atuação de criminosos ambientais.
Ao Brasil de Fato, a Funai respondeu que “está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas”. O órgão indigenista destacou ainda que Bruno “não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares”.
O Ministério Público Federal (MPF) disse em nota que atua para solucionar o caso com agilidade. “O MPF instaurou um procedimento administrativo para apuração e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil. Esta última já confirmou ao MPF que conduzirá as atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais”, escreveu o MPF.
Nas redes sociais, personalidades políticas e ligadas à questão socioambiental manifestaram a preocupação e exigiram empenho na busca pelos desaparecidos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho