Agroecologia é o Caminho
Abertura da 19ª Jornada de Agroecologia reúne mais de 300 pessoas e cobra justiça por Dom e Bruno
Por Geani Paula, Rita Hilachuk e Ednubia Ghisi
Da Página do MST
O pedido de justiça pelo assassinato do jornalista britânico Dom Philips e do ambientalista Bruno Pereira marcou a abertura da 19ª edição da Jornada de Agroecologia, realizada na noite desta quarta-feira (22), em Curitiba.
Com poesia, música e muita mística, o ato de abertura emocionou o público de cerca de 300 pessoas presentes no auditório Eny Caldeira, do Campus Rebouças / Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sede do evento que segue até domingo (26). Dezenas de outros nomes de pessoas do campo e da cidade assassinadas por lutarem por direitos também foram lembradas ao longo da cerimônia de abertura.
Estiveram presentes no ato o professor e diretor do Setor de Educação da UFPR Marcos Alexandre Ferraz; o Pró-reitor de Extensão e Cultura da UFPR, Rodrigo Arantes Reis, promotor de justiça do Ministério Público Federal, Rafael Moura; os deputados estaduais Professor Lemos (PT), Luciana Rafagnin (PT), Goura (PDT), Tadeu Veneri (PT); e as vereadoras de Curitiba Carol Dartora (PT) e Professora Josete (PT).
O promotor Rafael Moura enfatizou a prática da agroecologia como caminho para o desenvolvimento junto ao país. “Em pouquíssimos lugares vemos grupos sociais e movimentos tão afinados com a Constituição e ordem jurídica brasileira quanto o que vemos hoje aqui e quanto nós vemos nos assentamentos, acampamentos e lugares que produzem agricultura agroecológica. Nesses locais eu consigo vislumbrar de maneira cristalina a sociedade livre, justa e solidária”.
Além da mística conduzida por militantes dos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os músicos Alan Forgati e Yasmin Alves apresentaram o “Duo – Violino e Violão”.
Papel da universidade pública
O Pró-reitor de Extensão e Cultura da UFPR, Rodrigo Arantes Reis, a Jornada contribuiu para a real finalidade da universidade e para a aproximação com a vida real da população. “A extensão universitária é isso. É essa troca, esse diálogo e troca de saberes. Essa troca só é possível com a universidade se abrindo para receber a comunidade e a gente poder vivenciar esse processo dialógico. Eu estou extremamente feliz de poder participar desse momento e saber que é disso que a universidade se alimenta e é esse o papel de uma universidade pública”, garantiu.
Depois de dois anos sem ocorrer, por conta da pandemia da Covid-19, a Jornada ocupa um dos espaços mais novos da UFPR, ainda pouco conhecido. “Esse campus tem o desafio de se abrir para a sociedade”, afirmou Marcos Alexandre Ferraz, diretor do Setor de Educação.
Para o professor, a universidade muitas vezes é excludente e “fechada em si mesmo”, no entanto, há um esforço para a democratização dos espaços. “Receber o MST, a Via Campesina e a 19ª Jornada de Agroecologia nada mais é do que abrir a universidade para o verdadeiro povo brasileiro”, enfatizou.
A construção antiga é carregada de simbolismo, conforme lembrou o professor Ferraz: “Nós estamos no campus Rebouças, que homenageia dois engenheiros negros, que no final do século XIX, início do XX, projetaram a estrada de ferro que vai daqui para Paranaguá.” Já o nome do auditório homenageia a primeira mulher a dirigir o Instituto de Educação do Paraná, nos anos 1950. “Eny Caldeira foi uma mulher que desbravou a universidade e os espaços de poder”, relembrou o diretor.
A homenagem ao saber popular e tradicional também ganhou espaço especial logo com a entrega do voto de congratulação da Assembleia Legislativa à parteira Ana Ferreira Pinto, de 105 anos. Moradora de São Bernardo dos Campos (SP), ela recebeu a homenagem por iniciativa do deputado Goura.
Renato e a continuação do golpe
Na tarde desta quarta-feira, a pouco mais de 300 metros do local da Jornada, a Câmara de Vereadores de Curitiba confirmou a cassação do vereador Renato Freitas (PT). A vereadora Carol Dartora classificou o processo que tirou o cargo de Renato como “injusto, sem materialidade, e infelizmente de racismo institucional”. Para a parlamentar, a perseguição política enfrentada por Freitas é parte do “estado de golpe” em que o Brasil mergulhou ainda em 2016 com o Impeachment da presidenta Dilma, e que se aprofundou com a eleição de Bolsonaro para a presidência da República.
“Agroecologia engloba tudo”
Quem visitar o espaço do Campus Rebouças irá encontrar uma feira de alimentos orgânicos e agroecológicos, apresentações culturais, show de artistas locais e nacionais, oficinas, artesanatos, espaço de culinária, entre outras atrações.
Muara de Araújo Pinto é integrante da Cooperativa Camponesa Central de Minas Gerais (Concentra) e está participando pela primeira vez da Jornada. “Nossa expectativa é a venda de produtos a divulgação da quantidade de produtos que o MST produz”, destaca. “É muito importante para a conscientização das pessoas para melhorar a alimentação e para melhorar o convívio. Por que é isso: Agroecologia engloba tudo, não é só o alimento saudável, mas é o tratamento saudável das pessoas, das plantas, dos animais, da força de trabalho, de tudo!” enfatiza.
Confira abaixo as fotos da abertura:
A Jornada de Agroecologia é construída por movimentos sociais do campo e da cidade, agricultores, estudantes, professores, pesquisadores, técnicos e voluntários. A programação segue até 26 de junho, a programação pode ser acessada aqui.
*Editado por Fernanda Alcântara