Carnaval
MST envermelha sambódromo e canta o enredo “Invisíveis” da Escola de Samba Camisa Verde e Branco
Por Wesley Lima
Da Página do MST
“Até quando a pobreza irá sustentar a riqueza de homens que assolam o país?…”. Essa é a questão central que a Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco dará destaque no desfile, deste próximo domingo (19), no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.
Após a confirmação de Nita Freire, viúva do educador Paulo Freire, patrono da Educação no Brasil, e do padre Júlio Lancellotti, a agremiação informou que militantes Sem Terra participarão dos desfiles deste ano. Com o enredo “Invisíveis”, a Escola de Samba canta um verdadeiro manifesto na avenida, feito por expoentes das lutas construídas no Brasil.
A avenida será ocupada por palavras de ordem como Reforma Agrária, comida na mesa do brasileiro, direitos sociais, entre outras pautas defendidas historicamente por movimentos e organizações populares. Baseado no artigo 6° da constituição, a Escola propõe uma passeata no sambódromo, e questiona, indaga, interroga e lança perguntas que não querem calar. Com essa mensagem de luta e resistência popular, a Escola buscará o título do Grupo de Acesso 1 paulistano.
Ana Chã, do Coletivo Nacional de Cultura do MST, está acompanhando os ensaios e o processo de participação do Movimento no desfile. Ela afirma que foi com muita alegria que o Movimento recebeu o convite da Escola para o desfile e cantar no sambódromo esse samba enredo que é “tão potente e tão forte”.
“Para o MST que é um movimento de luta camponesa, poder estar nessa grande festa da cultura brasileira, essa grande festa do samba e da alegria, é muito especial. Poder estar fazendo parte deste enredo, que traz as lutas sociais, que traz a luta por moradia, a luta por educação, a luta por dignidade, trazendo o trabalho magnifico do padre Júlio Lancellotti, trazendo a luta pela terra e pela reforma agrária é extremamente importante”, pontua Ana.
Ana Chã explica também que a luta pela Reforma Agrária Popular construída pelo Movimento sempre foi uma luta de todos. “Uma luta que é feita no campo, mas que é travada na cidade, abraçada por todos e todas. E poder fazer isso com muita alegria, com muita música, com muito samba no pé é importante. É muito especial o carnaval, e as escolas de samba têm muito para nos ensinar por ser essa tradição histórica da cultura brasileira que propõe não só um espetáculo, mas propõe outras formas de sociabilidade de laços comunitários, de fortalecimento da organização social, e esse enredo traz isso”.
Uma história de organização social
A história do Camisa Verde e Branco começa em 1914, quando foi criado o “Grupo Carnavalesco Barra Funda”, liderado por Dionísio Barbosa. Barra Funda é um bairro localizado na região central da capital paulistana.
Nesse grupo carnavalesco, os homens saíam pelas ruas do bairro vestidos de camisas verdes e calças brancas. Durante o Estado Novo, os integrantes do Barra Funda foram confundidos com simpatizantes da Ação Integralista Brasileira, partido político de Plínio Salgado, e por isso perseguidos pela polícia de Getúlio Vargas, até deixarem de desfilar em 1936.
Depois de 17 anos, em 1953, Inocêncio Tobias, o Mulata, cria um movimento para reorganizar o antigo grupo carnavalesco, criando no dia 4 de setembro o Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco. Logo no seu primeiro ano desfilando como cordão, o Camisa Verde vence o desfile de cordões, com o enredo IV Centenário. O Camisa ainda seria campeão como cordão mais quatro vezes: 1968; 1969; 1971 e 1972 (ano este em que os cordões já estavam em decadência com a popularização das escolas de samba). Depois do carnaval de 1972 o Camisa segue o caminho natural, tornando-se escola de samba com o fim do desfile de cordões, chegando ao primeiro título, como escola, em 1974.
Tem Sem Terra desfilando, sim!
Essa é a primeira vez que integrantes do MST desfilam com a Camisa Verde e Branco, porém, ao longo da história, o Movimento tem participado do carnaval, construindo parcerias e pisando nos sambódromos.
Os Sem Terra já desfilaram, no final dos anos 90, pela Escola de Samba Império Serrano, no Rio de Janeiro, em 2002 pela Nenê da Vila Matilde (SP) e em 2007, pela Gaviões da Fiel (SP). Ana Chã relata que essa participação no carnaval tem um objetivo político: “trazer para o coração da cidade, a bandeira da reforma agrária, da produção de alimentos saudáveis, da agroecologia, da justiça social e da luta por um mundo melhor, onde não tenhamos uma grande parte da população invisível. Pelo contrário, participativa, atuante e celebrativa”, conclui.
*Editado por Solange Engelmann