Mulheres em Luta

Jornada das Mulheres é marcada por audiências de reivindicações ao Estado e ao Incra no MA

Jornada que mobilizou mais de 300 mulheres no estado, pautou o fim da pulverização de agrotóxicos e regularização de acampa-mentos
Marcha das Mulheres Sem Terra no Maranhão. Foto: Selma Farias

Por Luiza Amanda e Mariana Castro
Da Página do MST

Vindas de diversos territórios do estado com seus pandeiros e animação, mais de 300 mulheres participaram da Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra no Maranhão durante os dias 7 e 8 de março, na capital São Luís.

A Jornada aconteceu simultaneamente em todos os estados brasileiros de abrangência do Movimento Sem Terra, com atividades diversas, considerando a realidade e os desafios de cada localidade.

No Maranhão, se destacou o protocolo de pauta coletiva de reivindicações ao Governo do Estado, entregue ao vice-governador Felipe Camarão, e por audiência de dirigentes com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), onde foi requerida a regularização de acampamentos em situação de violência e ameaças, além da arrecadação de terras para a Reforma Agrária.

A Jornada foi iniciada com o Acampamento Pedagógico, realizado durante todo o dia 7 de março, na sede da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (Fetaema), onde foi possível a troca de saberes, o fortalecimento da mística e da organicidade, além da partilha de sonhos e projeções para o próximo período.

Para que um Acampamento seja possível, um mar de gente se mobiliza desde os seus territórios, antes mesmo da viagem, na dedicação de produção de materiais, colheita e beneficiamento de alimentos que irão ser consumidos, animação da companheirada e divisão de tarefas.

Durante o Acampamento, os homens se reuniram para as tarefas da cozinha e infraestrutura.
Foto: Laís Allana

Acampamento Pedagógico

Na manhã do Acampamento Pedagógico, a companheira Divina Lopes, da Coordenação Nacional do MST e Amanda Costa, militante dos Direitos Humanos e ex-secretária de Direitos Humanos e Participação Popular do Estado (Sedihpop) refletiram sobre a importância de garantia dos direitos para as mulheres do campo e os desafios para o próximo período.

“O nosso grande desafio é continuar lutando e monitorando para fazer chegar ao Governo aquilo que a gente quer enquanto mulher e Sem Terra”, aponta Amanda Costa.

Mesa de abertura destacou a garantia de direitos das mulheres do campo. Foto: Selma Farias

No Brasil, cerca de 60% da população passa fome ou não têm alimentos suficientes para sua família e estudos apontam que isso acontece porque o agronegócio não produz alimentos para a mesa dos brasileiros, mas sim, lucro para uma elite agrária e empresas multinacionais.

Considerando essa realidade, durante a tarde a roda de conversa deu destaque para a importância da produção de alimentos saudáveis no campo, em uma mesa composta pelas companheiras Maria Gorete e Zaira Sabry, que discutiram ainda o papel das mulheres para a garantia da Reforma Agrária e a importância da organização popular para enfrentar os desafios para o próximo período.

“Sem a participação e a luta permanente das mulheres não tem Reforma Agrária! Elas são linha de frente na resistência, na produção e na luta diárias dos nossos territórios”, destaca Maria Gorete.

Roda de conversa durante a tarde destacou a organicidade para garantia da Reforma Agrária.
Foto: Laísa Allana

Ainda na tarde de terça (7) as Mulheres Sem Terra do MST do Maranhão participaram de roda de conversa conduzida por Lizandra Guedes e Simone Silva, do setor de gênero do Movimento. A mesa teve como tema a preparação para a luta do dia 8 de março e a organicidade para o combate às violências nos territórios.

“As Mulheres Sem Terra sabem o que é organização, são as grandes responsáveis pela organização da luta da vida cotidiana”, contou com ânimo para a Jornada Lizandra Guedes.

A noite foi realizada uma mística de encorajamento para as marchas e orientações de segurança, marcada com a emocionante entrega dos tradicionais lenços de chita, que representam a luta e coragem das Mulheres Sem Terra, além de uma oficina de ornamentação de chapéus de palha para marchar belas e com grande coragem no dia seguinte.

Logo depois, o Acampamento Pedagógico foi encerrado com uma noite cultural que contou com a participação de Priscila Carvalho, mulher negra, atriz e cantora popular de São Luís, que animou o momento com cantigas da terra como carimbó, bumba meu boi e forró pé-de-serra.

Marcha é marcada com reivindicações ao Governo do Estado


O dia raiou bem cedo para as companheiras Sem Terra, que às 6 horas já entoavam músicas históricas de luta que iriam compor a energia da Marcha do Dia 8 de Março, rumo ao Palácio dos Leões, sede do Governo do Estado do Maranhão.

Foto: Kelly Meneses

No Palácio dos Leões, as Mulheres Sem Terra foram recebidas pelo vice-governador Felipe Camarão, pela Secretária de Direitos Humanos, Lília Raquel e pelo Secretário de Agricultura Familiar, Bira do Pindaré.

Junto ao Governo do Estado foi protocolada as reivindicações de todos os setores e territórios do movimento, que entre as pautas prioritárias estão a proibição do uso de agrotóxicos, garantia de cisternas nos assentamentos, retorno e fortalecimento da Jornada de Alfabetização do “Sim, eu Posso!”, garantia de maquinário e infraestrutura para a produção de alimentos.

“Nós só teremos condições de produzir alimento e alimentar toda a população, se tivermos o incentivo necessário. Sabemos que só é possível enfrentar a fome com a reforma agrária popular, com o fortalecimento da agricultura familiar. Por isso Mulheres Sem Terra estão aqui, para negociar as suas pautas com o Governo do Estado” destaca Divina Lopes, da coordenação nacional do MST.

Documento foi produzido coletivamente com as demandas de todos os territórios do estado. Foto: Selma Farias

Audiência de Mulheres Sem Terra com o INCRA

Logo após, ainda na tarde do 8 de março, dirigentes de regionais do estado do Maranhão se dirigiram até a Superintendência Regional do Incra, para a entrega de pauta de reivindicações específicas que solicitam a regularização fundiária de acampamentos sob casos de violência e ameaças, além da arrecadação de terras.

A comitiva do MST foi recebida pelo Superintendente Levi Alves, que se comprometeu a retomar o diálogo com o agendamento de uma audiência durante a Jornada de Lutas do mês de abril.

As mulheres reivindicam ao Incra a regularização de acampamentos e arrecadação de terras. Foto: Mariana Castro

Mulheres Sem Terra se somam a ato unificado do estado

Encerrando a Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra no estado, cheias de energia e revigoradas pelas atividades, as companheiras do MST se uniram aos movimentos sociais e entidades em ato público nas ruas de São Luís, erguendo as diversas bandeiras feministas.

Foram dois dias de intensas atividades na capital São Luís que revigoraram as nossas energias, o afeto e companheirismo, onde as mulheres retornam para seus territórios com a missão de fortalecer a organicidade do movimento e enfrentar os desafios para a reconstrução do nosso país e o combate à fome.

*Editado por Gustavo Marinho