Comida de Luta
Mulheres do Pará compartilham sabores da Amazônia no espaço Culinária da Terra
Por Camila Fróis
Da Página do MST
Formada por um coletivo de cerca de 100 mulheres que vivem em assentamentos da Reforma Agrária na Ilha do Mosqueiro, a 72 quilômetros da capital paraense, a Associação de Mulheres Agricultoras (AMACAMPO) trouxe para o espaço Culinária da Terra diferentes pratos típicos da Amazônia, como o pato no tucupi, a maniçoba, o tacacá, o arroz paraense e o vatapá vegano.
A Associação foi formada para fortalecer a solidariedade entre as mulheres e o protagonismo delas no MST, a partir de suas práticas como agricultoras nos assentamentos Paulo Fonteles, Elizabete Teixeira e Mártires de Abril (sobreviventes do Massacre de Eldorado do Carajás). A maioria delas atua na produção da mandioca e de toda a sua cadeia produtiva, que envolve a maniçoba, o tucupi, a goma e o beiju, além dos pratos criados com esses elementos tão representativos da cozinha da região Norte.
Para a gente, a nossa cultura alimentar é uma cultura de resistência, que não só é muito saudável e muito importante para a economia da Amazônia, mas é também uma forma da gente manter viva a nossa ancestralidade. Tudo que a gente faz aqui tem ancestralidade da Amazônia”, conta Teófila Nunes, 71, conhecida como dona Teo, uma das agricultoras que comanda a cozinha do Pará na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária.
Dona Téo mora no assentamento Mártires de Abril, no chamado Lote Agroecológico de Produção Orgânica (Lapo), que se tornou referência para estudiosos e pesquisadores no campo da Agroecologia de todo o Brasil. O Lapo é fruto da dedicação e luta dela com o esposo, Mamede Gomes, assassinado em seu lote no dia 22 de dezembro de 2012.
Segundo agricultora, a organização das agricultoras através da AMACAMPO proporcionou a autonomia e a independência de mulheres que eram muito vulneráveis e dependentes economicamente de seus maridos. Hoje, elas comercializam seus produtos no seu próprio lote agroecológico e, também, em diversas feiras orgânicas do estado e eventos do MST em todo o Brasil.
Ela conta ainda, que a Associação ajudou no autorreconhecimento delas como agricultoras “Sem Terra”, como sujeito político e de direitos e deveres, bem como na sua valorização dentro do Movimento. “Muitas não tinham dinheiro nem para comprar um absorvente, hoje, além de ter sua própria renda, várias conseguiram estudar e até fazer universidade, viajam, participam de eventos em tantos lugares”, complementa a associada.
*Editado por Solange Engelmann