Confup
Abertura do Congresso da FUP tem afirmação da unidade do campo popular no enfrentamento ao fascismo
Por Marcos Antonio Corbari
Do Brasil de Fato | Cajamar (SP)
A solenidade de abertura do XIX Congresso Nacional da Federação Única dos Petroleiros e Petroleiras teve forte simbolismo de unidade entre diferentes setores da classe trabalhadora brasileira, desde movimentos sociais, passando por organizações populares até representações da política de esquerda. Ponto comum é a necessidade de administrar as pautas de classe em consonância com o suporte que precisa ser prestado ao governo do presidente Lula, bem como à luta para contrapor a extrema direita e o fascismo que eclodiu no Brasil e no mundo no último período.
O secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Claudionor Vieira, parabenizou os petroleiros e petroleiras pela unidade construída em torno da diretoria colegiada eleita no Confup, que reconduziu Deyvid Bacelar a coordenador. “É importante um momento como esse, quando debatemos e aprendemos muito, onde a democracia se coloca em seu exercício”.
Também lembrou a greve dos petroleiros de 1983, quando os metalúrgicos se manifestaram em solidariedade aos companheiros e companheiras e, na sequência, a classe trabalhadora como um todo abraçou aquele movimento, levando outros movimentos sociais e sindicatos a apoiar a busca pela transformação de uma sociedade, mais justa, mais fraterna e mais democrática. Conclamou que neste momento é preciso que seja feita uma defesa da Petrobrás por toda a classe trabalhadora brasileira.
Raisa Guimarães, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto (MTST) também saudou a realização do congresso e o momento de unificação e pluralidade. “Esse momento do Brasil requer unidade, a partir de congressos, de federações, dos movimentos. Esse é um momento que a gente precisa ter celeridade, ter cautela, ter cuidado, mas também ter disputa. Conseguimos colocar um governo que o Brasil precisava que fosse eleito, agora precisamos manter a mobilização de rua, os nossos debates devem se estender até os companheiros e companheiras que não estão presentes nestes momentos”, afirmou.
A dirigente reconheceu a importância da participação dos petroleiros e petroleiras nas ações de enfrentamento e resistência empreendidas no meio popular durante a pandemia, de modo especial na problemática da fome, que foi especialmente cruel nos meios de maior vulnerabilidade social.
Representando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Victor Pagani reafirmou que sua organização é patrimônio do movimento sindical brasileiro, mantendo o compromisso de produzir e difundir conhecimento, com rigor técnico e científico, sob a ótica da classe trabalhadora.
“Estamos a disposição da FUP neste novo processo, nas perspectivas que se abrem sob este novo governo, para a gente trabalhar para reconquistar os direitos sociais e trabalhistas por meio das negociações coletivas e também se preparar para o futuro do trabalho, levando em consideração as novas tecnologias, a crise climática e a questão da transição energética.”
Movimentos da Via Campesina firmam aliança camponesa e operária
Entre as representações presentes, estavam três organizações que compõem a base da Via Campesina, congregando agricultores camponeses, assentados da Reforma Agrária e atingidos por barragens. A aliança camponesa e operária já efetivada com a categoria petroleira deve ser intensificada no próximo período, qualificando a resistência ativa contra as violações impostas à classe trabalhadora, bem como buscando a retomada de direitos e o necessário avanço para efetivar vida digna ao povo.
“Viemos trazer o nosso abraço e o nosso compromisso com a luta dos trabalhadores e trabalhadoras petroleiros”, expressou Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos e das Atingidas por Barragens (MAB). Apontou que a a direção colegiada da Federação Única dos Petroleiros e Petroleiras, recém empossada, tem uma tarefa importante no próximo período, que demarca os 70 anos de criação da Petrobrás.
“Nesse período precisamos decidir que futuro a gente quer, que empresa a gente quer construir, que país a gente quer construir”, questionou. Para o dirigente atingido por barragens, o momento atual é de profunda crise do capitalismo, mas também de uma profunda força fascista que não pode ser subestimada. Citando o trecho final do Manifesto Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, afirmou que “é uma tarefa nossa buscar a união e entendimento das forças pelo movimento de massas”.
“A Petrobrás é a maior e mais importante empresa do nosso país, que assegura a nossa soberania”, afirmou Anderson Amaro, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores e Pequenas Agricultoras (MPA). Para o dirigente camponês, o Confup deve ter também presente o sentimento de celebração da resistência, especialmente depois dos 6 anos de desmonte do país, das violações contra a classe trabalhadora e das tentativas sucessivas de destruição da Petrobrás praticada pelos governos Temer e Bolsonaro.
“Convivemos nos últimos anos com tentativas vergonhosas de destruir e privatizar, com o processo de destruição das políticas públicas, com o retorno do espectro da insegurança alimentar e da fome que chegou em diferentes intensidades aos lares de mais de 120 milhões de brasileiros”, apontou Amaro. Frisou que a aliança camponesa e operária, ali representada pela participação de movimentos camponeses da base da Via Campesina junto à categoria petroleira, é um instrumento de luta para a reversão deste flagelo e deve ser um canal a ser considerado estrategicamente pelo governo federal nas ações de reconstrução do país que estão sendo empreendidas pelo presidente Lula.
Lucinéia Freitas, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), apontou que depois de mais de dois anos sem a possibilidade de encontros e reuniões presenciais devido a pandemia da covid-19, “realizar atividades políticas como a que vemos neste congresso é uma forma de também reafirmar que sobrevivemos. Sobrevivemos ao vírus e sobrevivemos ao governo fascista que quis exterminar a classe trabalhadora”.
Alertou que o neofascismo, derrotado nas urnas, tenta se impor sobre a pauta dos trabalhadores e trabalhadoras através de diferentes meios e canais, mesmo em meio a tentativa de construção de um governo de matriz popular. Refletindo sobre o lema do congresso – “Energia para renovar o Brasil” – apontou que se abre um leque de possibilidades de pensar o futuro, as diversas transformações que são necessárias no país, “pensar essa renovação é pensar o futuro, que sociedade a gente deseja para o Brasil e para o mundo”. Citando Rosa Luxemburgo, afirmou que “venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”.
Há avanços no momento atual, mas as ruas precisam seguir mobilizadas
A leitura de diferentes representações que se manifestaram na abertura do XIX Confup é de que já se pode observar avanços a partir da instalação do governo Lula, porém não há espaço para comodidade, as ruas precisam ser mobilizadas para que o governo não seja cooptado pelas forças de centro e de direita que estão inseridas na coalizão que está garantindo a governabilidade.
Vivian Mendes da Unidade Popular destacou a importância em se fazer neste momento a reflexão sobre a maior crise enfrentada pelo capital em todos os tempos e como isso está induzindo o surgimento de novos movimentos de matriz fascista.
“Precisamos organizar a classe trabalhadora na defesa dos seus direitos e na construção de uma nova sociedade. Vencemos a eleição porque conseguimos construir uma grande unidade. Fomos capazes de construir nas ruas uma força que derrotou nas urnas o fascismo representado pelo Bolsonaro. Mas isso não é suficiente, a direita continua, o nosso desafio é muito grande. Precisamos nos manter nas ruas”, apontou.
Mendes destacou que agora é preciso também derrotar as políticas neoliberais, exigir que o patrimônio do povo esteja de fato vinculado às pautas da classe trabalhadora, que os recursos sejam utilizados para construir condições de vida para o povo.
O presidente da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ-CUT), Geralcino Teixeira, lembrou que a maior greve da história dos petroleiros e petroleiras foi a última, realizada em meio ao governo de Bolsonaro, e “não foi uma greve para conquistar direitos, foi uma greve de resistência”. Para ele está posta como fundamental iniciar um debate de unidade, que possa caminhar para a consolidação de uma única entidade representativa da categoria.
Sobre a situação a que o país foi submetido durante os últimos seis anos sob duas gestões norteadas pela direita e extrema-direita, colocou o flagelo da volta da fome como tema central a ser enfrentado e refletiu a importância de se construir essa solução para que a classe trabalhadora como um todo possa se unificar em suas pautas: “Quando o cidadão está com fome ele não quer saber de onde que vem a comida, quer saber é de matar a sua fome, precisamos ir além”.
Com foco na defesa da Petrobrás e na reconstrução do Brasil, Deyvid Bacelar reafirmou compromisso da FUP com organizações aliadas. Foto: Alex Garcia – ICPJ/BdFRS
Atuar com independência sim, mas sem esquecer os compromissos assumidos com o povo
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, apontou que “hoje estamos diante de uma encruzilhada história, o mundo promove um período de transição, há um redesenho geopolítico de grande repercussão na vida dos povos”. Para ele o tempo político atual reivindica muita maturidade do movimento sindical. Embora afirme que os sindicatos devam preservar a sua autonomia e independência, diante da difícil correlação de forças posta no pais, há uma necessidade política de somar esforços. “Se tem uma coisa que precisa nos unir é a efetividade da luta pelos êxitos do governo Lula.”
Araújo entende que o sindicalismo tem a compreensão de que para atravessar as dificuldades impostar pelo Congresso ao governo federal, é preciso mobilizar as pessoas. “Ser revolucionário hoje é ajudar efetivamente nas transformações. O espectro dos interesses do imperialismo não cessarão, eles não se deram por vencidos, para que a gente consiga vencer essa batalha temos que ter unidade, solidariedade, garra e determinação”, completou.
A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf), Juvandia Moreira, defendeu que está posta a pauta da reconstrução do Brasil: “Há três anos a pauta era resistência, defesa da democracia, hoje é reconstrução!”
Ela relembrou o golpe contra Dilma, a forma como o sindicalismo lutou contra aquele movimento que representou efetivamente um golpe contra o país e – como se veria a seguir – contra a classe trabalhadora. O que viria a seguir, explicou, seria um desafio de se evitar o extermínio imposto pelo neofascismo da extrema direita. Os tempos atuais são diferentes, mas nem por isso não significa que são mais fáceis: “Agora temos uma tarefa bem árdua, trabalhar pela reconstrução do Brasil, seguir na defesa da democracia”.
Deyvid Bacelar, que foi reconduzido à coordenação geral da Federação Única dos Petroleiros e Petroleiras, garantiu que a categoria manterá a independência e autonomia sindical diante dos governos e patrões, mas ressaltou que o movimento sindical sabe da sua responsabilidade para com “um governo que ajudamos a eleger com uma ampla composição e, por tabela, em plena disputa”.
Agradecendo a cada companheiro e companheira que demarcou presença na abertura do congresso, afirmou que “a FUP não olha para o seu próprio umbigo, essa é uma característica da classe petroleira, viemos construindo isso ao longo dos anos”. Também destacou a forte renovação das lideranças da Federação, cuja atual composição se dá por trabalhadores e trabalhadoras que em sua maioria entraram nos quadros da Petrobrás a partir dos dois primeiros governos do presidente Lula.
Sobre o tema do governo federal estar em disputa pelas diferentes forças que compõem a frente ampla que ajudou a eleger Lula, resgatou as palavras do próprio presidente quando “pediu” aos movimentos sociais e sindicais que sigam pressionando propositivamente o governo, ajudando a evitar a situação de comodidade ou conveniência, para que este siga pelo caminho da esquerda.
“A direita e o centro estão disputando o governo o tempo todo e é nosso papel, companheiros e companheiras dos movimentos sociais e sindical, fazer essa pressão à esquerda, devemos levar aos trabalhadores e trabalhadoras lá na base, no chão da fábrica, nos espaços da sociedade a mensagem que ao mesmo tempo temos que dar suporte e também pressionar o governo”, defendeu Bacelar.
O XIX Confup segue até domingo (06), presencialmente no INCA, em Cajamar (SP), e em formato online pelo canal do Youtube da FUP.
Edição: Katia Marko