Lutar Não é Crime!
Elas ficam: Seis deputadas que correm risco de cassação recebem apoio em Brasília
Por Valmir Araújo
Do Brasil de Fato | Brasília (DF)
As seis deputadas progressistas que são alvo de processo de cassação no Congresso, por fazerem criticas a aprovação do marco temporal das terras indígenas, receberam mais uma demonstração de apoio popular, em um evento nesta quarta-feira (10), na Asa Norte, em Brasília. O ato denominado “Lutar Não é Crime” em defesa das parlamentares e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) contou com a presença de militantes de movimentos sociais, sindicalistas, estudantes e parlamentares federais e distritais.
As representações contra as deputadas federais Célia Xakriabá (PSOL/MG), Érika Kokay (PT/DF), Fernanda Melchionna (PSOL/RS); Juliana Cardoso (PT/SP), Sâmia Bonfim (PSOL/SP) e Talíria Petrone (PSOL/RJ) foram apresentadas em maio pelo PL – partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. A maioria dos processos dos processos de cassação de mandato no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados são contra deputadas mulheres, principalmente parlamentares progressistas, dentre elas negras e indígenas.
“Temos uma representação muito pequena de mulheres no Congresso e aí eles tentam tirar seis mulheres”, destacou a socióloga e ativista de direitos humanos, Vilma Reis, que é suplente de deputada federal na Bahia. “Estamos falando de mulheres que enfrentaram a uma força sórdida daqueles que defendem o poder do agronegócio, daqueles que estão tomando as terras da agricultura familiar, daqueles que patrocinam a matança da juventude negra”, complementou a socióloga que participou do ato.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, também participou do ato e chamou atenção para a baixa representação de mulheres na política brasileira, sendo que na Câmara apenas 18% das cadeiras são ocupadas por deputadas. “Em um país democrático, lutar não é crime, lutar é um direito, faz parte da cidadania e da dignidade. Quantas vezes as calam? Quantas vezes elas já foram humilhadas naquele plenário? Isso também tem que ir para o Conselho de Ética!”, destacou.
Militante do Levante Popular da Juventude Ângela Amaral, chamou a atenção para a importância dessas deputadas que são alvo de processo de cassação para os debates do parlamento e por consequência para a população brasileira. “Todas elas estão sofrendo uma violência que é sistemática na nossa sociedade e é muito importante que nós, enquanto população consiga pressionar e tornar público esse processo de violência que é machista, e misógino, é racista e colonial”.
Com mais de 146 mil votos na última eleição, Érika Kokay foi a parlamentar mais votada do campo progressista no Distrito Federal e classificou os processos de cassação como mais uma tentativa de intimidação, com resquício de machismo e misoginia. “É a tentativa de manter viva essa lógica de anulação do outro, de expulsão do outro. Essa lógica de achar que pode calar os corpos diferentes, as vozes diferentes e nós estamos ali para dizer moço, vocês não vão nos calar”, afirmou a deputada do DF, lembrando que no dia 18 de agosto acontece um outro ato no Rio de Janeiro.
Representação para cassação das deputadas federais foi apresentado pelo PL. Foto: Assessoria de Comunicação da deputada Erika Kokay
Apoio ao MST
O Movimento Sem Terra vem sendo alvo de intensos ataques a partir da CPI do MST, instalada na Câmara dos Deputados. o ato “Lutar Não é Crime” também abordou a defesa desse movimento social, com o apoio das deputadas que são alvo do processo de cassação, inclusive algumas integrantes da Comissão. “Acuados e derrotados nas urnas, apostaram na CPI como um movimento de virada. Não conseguiram e vão sair derrotados”, ressaltou Sâmia Bonfim, que é titular da CPI.
“Suas lutas e nossas lutas são justas e necessárias e vocês não estão sós. Seguiremos cuidando umas das outras até que possamos, por inteiro, inundar e ter nossa plena liberdade”, declamou em forma de poesia Ceres Hadich, da Direção Nacional do MST. Ela ainda anunciou que na próxima terça-feira (15) haverá um ato em defesa do movimento e pediu para que as pessoas saiam de casa usando o boné do MST em sinônimo de apoio.
Os distritais progressistas Gabriel Magno (PT), Chico Vigilante (PT), Fábio Félix (PSOL) e Max Maciel (PSOL) também participaram do ato de apoio às deputadas alvo de processo de cassação e ao MST. Outros deputados federais e lideranças de diversas partes do Brasil também participaram do evento.
Edição: Flávia Quirino