Ceará

MST realiza 34º Encontro Estadual dos Assentados e Acampados da Reforma Agrária no Ceará

Encontro ocorreu do dia 15 ao dia 18, em Fortaleza, reunindo militantes do MST de todas as regiões do estado

Foto: Flaviana Alencar 

Por Aline Oliveira
Da Página do MST

De 15 a 18 de dezembro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Ceará realizou o 34º Encontro Estadual dos Assentados e Acampados da Reforma Agrária. Este ano, o Encontro tem como lema “MST Ceará, rumo ao 7º Congresso Nacional” e tem um caráter celebrativo e formativo. Além disso, visa ser um espaço para refletir sobre o que foi construído no último período pela organização, além de planejar os próximos passos. A atividade aconteceu no clube Cofeco em Fortaleza.

Durante os quatro dias de programação, foi debatida a conjuntura política nacional e internacional com foco na questão agrária, o estudo do Programa Agrário, o debate do MST e a relação com a institucionalidade, além de rodas de conversas, oficinas, exposição de experiências, ato político em defesa da Reforma Agrária e do lançamento da 3ª Copa Estadual da Reforma Agrária. A programação contou ainda com noite cultural e Jornada Socialista.

Foto: MST Ceará

Germano Rocha, de 79 anos, é assentado da Reforma Agrária no Assentamento Salão/Morada Nova, localizado no município de Mombaça, e ressaltou sua participação no Encontro. “Eu participo do MST desde a primeira ocupação e sigo firme na luta mesmo após a conquista da terra. Estes Encontros são espaços para avaliar e planejar nossa luta, e este eu estou muito feliz, pois nós estamos celebrando 40 anos de luta. São 40 anos que a gente vem fazendo a resistência em nossos territórios”, comentou.

Lairton Pereira é um jovem, faz parte do Coletivo de Juventude e é coordenador do grupo de jovens do Assentamento Antônio Conselheiro, no município de Ocara. Ele destacou a importância dos debates e dos temas para a auto-organização da Juventude Sem Terra. “Para mim é muito importante a participação da juventude em espaços de formação como é o Encontro Estadual, os temas ajudam muito no entendimento do que temos feito e dos desafios que temos enquanto classe trabalhadora, principalmente para a juventude que precisa assumir o comando da luta em defesa da terra e dos nossos territórios”, refletiu o jovem.

“O nosso 34º Encontro Estadual do MST acontece em uma conjuntura complexa para a classe trabalhadora e exige de nós uma intensificação da nossa luta e resistência nos territórios. Temos uma perspectiva de avanço com a retomada da democracia, temos, no entanto, que criar possibilidades para avançar nas nossas conquistas, políticas, econômicas e sociais”, sinalizou Kelha Lima, da Direção Nacional do MST Ceará.

“Estamos nos preparativos para comemorar os 40 anos do MST, 35 anos do MST Ceará, e na construção do nosso 7º Congresso Nacional do MST, então é momento de alegria e de celebração da nossa existência e resistência durante todo esse tempo. Não foi fácil, mas conquistamos muito e ainda temos muitos desafios pela frente para conduzir o nosso Movimento”, concluiu Kelha.

O 34º Encontro Estadual do MST recebeu o Governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas, que na ocasião destacou a importância de sua trajetória militante dentro do MST.

“Eu sou Governador do Estado do Ceará porque entre outras coisas, eu fui formado pelo Movimento Sem Terra, essa é minha casa, é minha organização”, apontou o governador que assumiu o compromisso de avançar na pauta da Reforma Agrária e destacou a importância do MST ter avançado no debate da institucionalidade e da conjuntura favorável com a retomada da democracia.

Ação de solidariedade

Na manhã desta segunda (18), assentados e acampados foram até o Hemoce para realizar doação de sangue. A ação faz parte da programação do 34º Encontro Estadual do MST e também é parte da Jornada Nacional de Solidariedade que acontece em todo o país desde o último dia 25 de novembro e segue até o dia 25 de dezembro.

Ação de doação de sangue ocorreu como parte da programação do Encontro Estadual. Fotos: Nayara Ribeiro

Ato político em defesa da Reforma Agrária

A chama acesa, punhos erguidos, músicas, poemas, bandeiras, e uma plenária de uma só cor, o vermelho, foram alguns dos elementos que marcaram a mística do ato político em defesa da Reforma Agrária na noite de ontem (17), durante a programação do Encontro do MST Ceará.

O evento contou com a presença de militantes de movimentos populares, sindicatos, professores, parlamentares, e também com a presença da primeira-dama do estado do Ceará, Lia Freitas, dentre outros amigos do MST.

João Alfredo, Superintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará (IDACE), destacou a importância da retomada da democracia e as expectativas de avançar nas conquistas no acesso a terras e melhoria de vida, durante o ato.

Foto: Flaviana Alencar

“Esse ano já realizamos imissões de posse da terra que são do Idace, mas são dos MST, são assentamentos estaduais em parceria com o Incra, porque o Incra voltou, o Brasil voltou, e temos que aproveitar esse momento e avançar na pauta da Reforma Agrária, que é uma pauta antiga”, apontou.

“O MST, como educador social, é um intelectual orgânico não só da classe trabalhadora rural, mas da classe trabalhadora. O MST influencia nos movimentos urbanos e a gente sabe que não precisamos ter medo, somos socialistas, somos revolucionários”, concluiu João.

Gema Esmerado, professora aposentada da Universidade Federal do Ceará (UFC), manifestou sua solidariedade e apoio ao MST durante o ato. “Vocês não sabem o quanto cada um de vocês são importantes para a academia. Nós estamos aprendendo com vocês constantemente. A academia sempre foi elitista, sempre foi o poder dominante, sempre foi das classes que possuíam dinheiro, poder e terras. Vocês desafiam nossa academia, e continuem desafiando. Se não fizerem assim, a academia não muda; continuará sendo um espaço da elite e dos privilegiados do nosso país”.

Ela ainda lembrou das primeiras vivências dentro dos assentamentos do MST. “Quando fui pela primeira vez em um assentamento, encontrei a primeira geração do MST. Eram homens e mulheres, em sua maioria analfabetos. Hoje, observamos que não há analfabetismo no MST. Percebe-se que a luta é também para romper as cercas do conhecimento, ocupar os outros latifúndios. Para mim, esse é um exemplo vivo do quanto vocês estão trabalhando por uma mudança de modelo de sociedade, onde cada um e cada uma de vocês possam participar dessa construção”.

Já Maria de Jesus, da Coordenação Nacional do MST, pontuou o papel da solidariedade e parceria com os amigos e apoiadores da Reforma Agrária para a consolidação da organização.

Maria de Jesus, da Coordenação Nacional do MST, durante o ato político. Foto: Flaviana Alencar

“O MST é o que é hoje porque contamos com a solidariedade e apoio dos nossos amigos, daqueles e daquelas que engrossam nossas fileiras na construção de uma nova sociedade de homens e mulheres livres. O MST só tem a força que tem porque tem a coletividade, tem aqueles e aquelas que acreditam que somente a luta é capaz de mudar a vida. Queremos continuar partilhando nossas alegrias, nossos sonhos e nossas lutas com todos vocês”, disse a dirigente Sem Terra.

O ato político teve início às 20 horas e seguiu até as 22, com muitas intervenções de apoio e de comprometimento dos amigos para com a luta dos camponeses e camponesas Sem Terra do Estado do Ceará.

*Editado por Gustavo Marinho