Mulheres em Luta
Em São Paulo, mulheres Sem Terra organizam ações de luta da capital ao interior
Por Coletivo de Comunicação do MST em São Paulo
Da Página do MST
Entre os dias 6 e 10 deste mês, as mulheres assentadas e acampadas em territórios da Reforma Agrária do estado de São Paulo se organizaram para promover atividades de formação, estudo e luta. As atividades, que compuseram o conjunto de ações desenvolvidas em todo o Brasil, com protagonismo das mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tiveram o objetivo de conscientizar a sociedade a respeito das diversas pautas que atingem a vida das mulheres.
A Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra acontece todos os anos nos marcos do Dia Internacional das Mulheres, 8 de Março, posicionando a leitura de conjuntura e de gênero que o MST vem construindo.
Em São Paulo, a Jornada iniciou no dia 6 com atividade de formação e estudo na capital, São Paulo, no assentamento Pirituba, em Itaberá, e em Mirante do Paranapanema. Também houve formação das mulheres assentadas da região de Andradina no dia 8. Durante a formação, que reuniu cerca de 60 mulheres, houve palestra sobre os desafios do trabalho das mulheres do campo, as formas de violência, a Reforma Agrária e a defesa dos direitos das mulheres, contando com a assessoria da Profa. Dra. Mariana Esteves (UFMS) e presença da vereadora Anuxa.
Quem se beneficia com os assassinatos no campo?
Na sexta-feira, dia 8, as mulheres realizaram um escracho na loja Conceito AMTT, revendedora de armas das empresas de armas e cartuchos Taurus e CBC. O objetivo do protesto foi denunciar as grandes empresas que enriquecem através da produção e comercialização de armas, que possuem como alvos principais: mulheres, povos do campo, indígenas, corpos pretos, periféricos e LGBT’s. O aumento do armamento durante o governo Bolsonaro fez parte da estrutura de morte. As armas de fogo são responsáveis, hoje, por 51% dos assassinatos de mulheres, destes 70% são de mulheres negras.
A violência no campo, impulsionada pela disputa do latifúndio, do agronegócio e da mineração, demonstra a desumanidade da concentração de terras, que na sua busca por poder hegemônico passa por cima dos corpos e da natureza. O revoltante assassinato da indígena, Mestra Nega Pataxó, no Sul da Bahia, durante uma retoma de território pelo povo Pataxó Hã Hã Hãe Nega Pataxó escancara o vínculo dos CAC’s (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores) com o genocídio e assassinatos de indígenas e os interesses escusos da Taurus. Esses interesses são revelados no último relatório do De olho nos Ruralistas.
A prateleira de terras ainda está vazia!
Na capital, São Paulo, cerca de 200 mulheres sem terra realizaram ocupação da Superintendência do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Vindas de diversas regiões do estado, as mulheres reivindicaram a destinação de terras públicas para a Reforma Agrária, desburocratização do acesso ao crédito para mulheres. O ato também denunciou a violência no campo e destacou a luta em defesa da vida das mulheres.
Chamou a atenção para a lentidão do governo federal na arrecadação de terras para a Reforma Agrária. Somente no estado de São Paulo são cerca de 1500 famílias de trabalhadores e trabalhadoras sem terra acampados e acampadas, alguns desses há mais de 15 anos aguardando a realização de assentamentos, como é caso das famílias do acampamento Gercina Mendes, em Mirante do Paranapanema. Dessas famílias acampadas, 400 estão em risco de despejo.
Frente a isso, existe um estoque de terras devolutas de cerca de 1 milhão de hectares espalhadas por todo o estado. A falta de iniciativa do governo federal em criar políticas públicas para fomentar a Reforma Agrária abre margem para a burguesia agrária se movimentar e perpetuar seus projetos hegemônicos, que é o se trata a Lei Nº 17.557/2022, que autoriza a regularização de terras devolutas por parte dos latifúndios grileiros, ou seja, reforça a tese da terra como mercadoria, perpetua a concentração fundiária e impede a arrecadação de terras para a Reforma Agrária. Saiba mais!
Políticas públicas para mulheres assentadas
No interior do estado, as ações da Jornada Nacional das Mulheres Sem Terra levaram a pauta das políticas públicas. O objetivo das ações foi dialogar com a sociedade e pressionar o Estado pela emergência de crédito e fomentos produtivos específicos para as mulheres do campo. Em Ribeirão Preto, Bauru, Mirante do Paranapanema e Iaras as mulheres realizaram atos em frente às agências do Banco do Brasil e protocolaram a pauta de reivindicações. Ao todo, os atos mobilizaram cerca de 200 mulheres nas quatro cidades.
Entre as exigências, destacou-se a ampliação do PRONAF Mulher; a desconsideração de dívidas contraídas pelos homens da Unidade Familiar, de modo que estas não sejam obstáculo ao crédito; diálogo transparente com bancos, mantendo canais abertos; entendimento de quais linhas de crédito estão disponíveis para as mulheres assentadas, garantindo um acesso justo e igualitário; desburocratização no acesso ao crédito, além da ampliação de fundos não reembolsáveis para atividades coletivas lideradas por mulheres na produção de alimentos saudáveis em áreas de Reforma Agrária, promovendo o desenvolvimento sustentável.
Solidariedade de classe
No último domingo, dia 10, aconteceu o Almoço com Aromas de Março. De iniciativa do Setor de Gênero do MST de São Paulo em parceria com o Sacolão Popular Irmão Pedro Betancur e a Pastoral Povo da Rua. A atividade contou com a participação do grupo musical Cabaré Feminista, que animou o momento de refeição de quem passou pelo local para prestigiar a atividade.
O almoço, que também integrou as ações da Jornada de Lutas das Mulheres e promoveu um espaço para debate da alimentação saudável e combate à fome, contou com uma ação de solidariedade das mulheres, que levou marmitas para a população em situação de rua dos bairros Belenzinho e Mooca.
*Editado por Fernanda Alcântara