Crônica
Diário de um acampamento Sem Terra
Por Jefferson Lopes/Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
No segundo (16) dia do novo acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado em Rio Branco do Ivaí, Paraná, o movimento das famílias ganha ritmo e vigor. Entre os campos verdejantes do assentamento Egídio Brunetto, os barracos de lona começam a surgir, delineando o contorno de um novo começo. Com mãos ágeis e determinação nos olhos, homens, mulheres e crianças unem forças para erguer cada estrutura improvisada. O som das marteladas ecoa pelo ar, enquanto sorrisos se espalham entre os rostos suados.
Cada barraco representa mais do que apenas um teto temporário. É um símbolo de resistência, uma afirmação de direitos básicos e uma reivindicação por dignidade. Nas entrelinhas das conversas animadas, há uma rede de solidariedade se formando, onde cada membro da comunidade se apoia mutuamente.
Enquanto alguns descansam após um dia de árduo trabalho, outros se dedicam a preparar refeições simples, porém reconfortantes. O aroma de comida caseira paira no ar, despertando memórias de tempos mais tranquilos e refeições compartilhadas em família. Ali, no meio do acampamento, surge um sentimento de pertencimento, de comunidade, que transcende as dificuldades do momento presente.
À luz das estrelas, os Sem Terra se recolhem aos seus barracos improvisados, mas seus sonhos e esperanças permanecem vivos. Sabem que a estrada à frente será árdua, mas estão determinados a enfrentá-la juntos, com coragem e solidariedade. Neste segundo dia da ocupação do MST em Rio Branco do Ivaí, fica claro que mais do que erguer barracos, estão construindo um novo caminho, baseado na justiça, na igualdade e na dignidade para todos.
Nas curvas do rio e nos campos de luta, ecoa o grito: “Ocupar, para o Brasil alimentar!”. É o sussurro dos ventos que acaricia a terra sedenta, é o hino dos que labutam com mãos calejadas em busca de um amanhã farto e justo. Nesse clamor, há a promessa de colheitas abundantes e de mesas cheias, onde todos têm lugar e nenhum estômago ronca em vão. É a melodia da esperança, entoada por aqueles que tecem sonhos no tecido da terra, alimentando não apenas corpos famintos, mas também almas sedentas por justiça e igualdade. Ocupar é o verbo da transformação, o alimento da revolução que nutre o Brasil com o fruto mais precioso: a dignidade.
Foto: Jefferson Lopes / MST-PR
O acampamento em Rio Branco do Ivaí, e todas as mobilizações realizadas nesta Jornada de Lutas Brasil afora, evocam memórias dolorosas do Massacre de Eldorado do Carajás, mas também é um lembrete da resiliência e da determinação do MST. Enquanto lutam por justiça e Reforma Agrária Popular, nosso movimento honra a memória daqueles que perderam suas vidas na luta, transformando a dor em motivação para continuar a batalha diária por um futuro mais justo e igualitário. Somos um testemunho vivo da persistência do povo e da crença inabalável na necessidade de mudança.
A Jornada Nacional de Lutas e ocupações do MST é um movimento poderoso que busca promover a justiça social e a Reforma Agrária Popular no Brasil. Com determinação e coragem, os membros do MST se mobilizam em todo o país, ocupando terras improdutivas e reivindicando seu direito à terra e à dignidade. Essa Jornada é um símbolo de resistência contra a desigualdade e a injustiça, e inspira milhares de pessoas a se unirem na luta por um país mais justo e igualitário.
*Editado por Solange Engelmann