Crônica

Diário de um acampamento Sem Terra 

"Cada barraco representa mais do que apenas um teto temporário. É um símbolo de resistência, uma afirmação de direitos básicos e uma reivindicação por dignidade"
Foto: Marinho Prochnow / MST-PR 

Por Jefferson Lopes/Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

No segundo (16) dia do novo acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado em Rio Branco do Ivaí, Paraná, o movimento das famílias ganha ritmo e vigor. Entre os campos verdejantes do assentamento Egídio Brunetto, os barracos de lona começam a surgir, delineando o contorno de um novo começo. Com mãos ágeis e determinação nos olhos, homens, mulheres e crianças unem forças para erguer cada estrutura improvisada. O som das marteladas ecoa pelo ar, enquanto sorrisos se espalham entre os rostos suados. 

Cada barraco representa mais do que apenas um teto temporário. É um símbolo de resistência, uma afirmação de direitos básicos e uma reivindicação por dignidade. Nas entrelinhas das conversas animadas, há uma rede de solidariedade se formando, onde cada membro da comunidade se apoia mutuamente.

Fotos: Isabela Cunha / MST-PR  

Enquanto alguns descansam após um dia de árduo trabalho, outros se dedicam a preparar refeições simples, porém reconfortantes. O aroma de comida caseira paira no ar, despertando memórias de tempos mais tranquilos e refeições compartilhadas em família. Ali, no meio do acampamento, surge um sentimento de pertencimento, de comunidade, que transcende as dificuldades do momento presente.

À luz das estrelas, os Sem Terra se recolhem aos seus barracos improvisados, mas seus sonhos e esperanças permanecem vivos. Sabem que a estrada à frente será árdua, mas estão determinados a enfrentá-la juntos, com coragem e solidariedade. Neste segundo dia da ocupação do MST em Rio Branco do Ivaí, fica claro que mais do que erguer barracos, estão construindo um novo caminho, baseado na justiça, na igualdade e na dignidade para todos.

Nas curvas do rio e nos campos de luta, ecoa o grito: “Ocupar, para o Brasil alimentar!”. É o sussurro dos ventos que acaricia a terra sedenta, é o hino dos que labutam com mãos calejadas em busca de um amanhã farto e justo. Nesse clamor, há a promessa de colheitas abundantes e de mesas cheias, onde todos têm lugar e nenhum estômago ronca em vão. É a melodia da esperança, entoada por aqueles que tecem sonhos no tecido da terra, alimentando não apenas corpos famintos, mas também almas sedentas por justiça e igualdade. Ocupar é o verbo da transformação, o alimento da revolução que nutre o Brasil com o fruto mais precioso: a dignidade.

Foto: Jefferson Lopes / MST-PR 

Foto: Marinho Prochnow / MST-PR 

O acampamento em Rio Branco do Ivaí, e todas as mobilizações realizadas nesta Jornada de Lutas Brasil afora, evocam memórias dolorosas do Massacre de Eldorado do Carajás, mas também é um lembrete da resiliência e da determinação do MST. Enquanto lutam por justiça e Reforma Agrária Popular, nosso movimento honra a memória daqueles que perderam suas vidas na luta, transformando a dor em motivação para continuar a batalha diária por um futuro mais justo e igualitário. Somos um testemunho vivo da persistência do povo e da crença inabalável na necessidade de mudança.

A Jornada Nacional de Lutas e ocupações do MST é um movimento poderoso que busca promover a justiça social e a Reforma Agrária Popular no Brasil. Com determinação e coragem, os membros do MST se mobilizam em todo o país, ocupando terras improdutivas e reivindicando seu direito à terra e à dignidade. Essa Jornada é um símbolo de resistência contra a desigualdade e a injustiça, e inspira milhares de pessoas a se unirem na luta por um país mais justo e igualitário.

*Editado por Solange Engelmann