História

40 anos do assentamento Córrego da Areia: Sementeira do MST Capixaba

A conquista da área antecedeu a organização do MST em solo capixaba, mas na luta do movimento diversas conquistas foram possíveis
Foto: MST no ES

Por Comunicação MST no ES
Da Página do MST

O assentamento Córrego da Areia, localizado no município de São Mateus, região norte do estado do Espírito Santo, celebra seu aniversário no próximo sábado (14/09). Neste momento, as famílias se organizam para comemorar as 4 décadas de história da conquista da terra e da consolidação do assentamento, especialmente conhecido como “XIII de setembro”, data que marca a chegada das famílias na antiga fazenda, que era denominada “Novos Colonos”.

“Realmente fazer parte da história do MST é algo inexplicável! Me recordo aos 17 anos chegando no assentamento Córrego da Areia, exatamente no dia 01 de dezembro de 1984, o MST já tinha nascido no Brasil, ainda não tinha um ano de idade! Minha família já estava na terra conquistada desde dia 13 de setembro de 1984”, conta Ademilson Pereira Souza, militante do MST no ES.

Atualmente, o assentamento Córrego da Areia possui aproximadamente 100 famílias. A terra está dividida em propriedades individuais, possui uma associação a ACAC (Associação de Cooperação Agrícola do Assentamento Córrego da Areia e Circunvizinhos, Município de São Mateus/ES), uma escola de ensino fundamental e médio, Igrejas, campo de futebol e as famílias que produzem para a subsistência e para o comércio local e regional. As principais atividades econômicas hoje são a produção de café, pimenta-do-reino, mandioca, frutas, hortaliças e pequenas criações.

Histórico de luta

Foto: Arquivo MST

O assentamento Córrego da Areia, com sede no município de Jaguaré e hoje pertencente ao município de São Mateus-ES, teve seu marco histórico ainda no início dos anos 83/84, em um bairro chamado Vila Nova no Município de São Mateus. Ali, moravam famílias de baixa renda, vítimas do êxodo rural, provocado pela expansão dos plantios de eucalipto e cana e a erradicação dos cafezais, trabalhando como boias-frias, diaristas, e outros eram desempregados. Esse grupo de famílias viu a necessidade de debater e buscar alternativas para o desemprego. Buscaram apoio de  lideranças de entidades como STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), pastorais, leigos, padres e até membros do governo que apoiavam o Movimento. Com isso, formaram uma comissão na qual chegaram a conclusão de que “a única saída era a terra para trabalhar e voltar para o campo”.

O primeiro passo foi marcar a audiência com o prefeito de São Mateus/ES (Amocim Leite) o que não teve muito êxito. Após a frustrada tentativa, partem para uma audiência com o estado através da SEAG (Secretaria de Estado da Agricultura). Depois de um ano de reuniões e muitas lutas o grupo toma uma posição: “a saída é ocupar a terra”. Assim decide ocupar uma área da EMCAPA no município de São Mateus. O prefeito com medo arrendou a área para um fazendeiro (já que a terra era do Estado).

No dia 13 de Setembro de 1984, as trinta e uma famílias chegam na terra e já iniciam o trabalho de forma coletiva. “chegamos a cultivar 40 hectares irrigados de feijão”, afirma uma liderança. Depois de alojadas, essas famílias tiveram uma surpresa: alguns dias após a posse da terra e as organizações internas do assentamento, o então prefeito de Jaguaré/ES tomou uma decisão inesperada e resolveu trazer um grupo de 09 famílias para também assentar na terra, pois, o “projeto” do governo era criar um assentamento para 40 famílias e isso estava sendo discutido pela organização do assentamento e as entidades de apoio. Mesmo sem discutir a proposta com a Organização, o prefeito, alegando que o novo assentamento localizava-se dentro do município, afirmou que teria “direito” de interferir, dando oportunidade às famílias do local.

Foto: MST no ES

Na intenção de desarticular as famílias que chegaram de São Mateus, o Prefeito foi surpreendido quando percebeu que os dois grupos de famílias começaram a se juntar umas às outras famílias nas reuniões e organizações. E sendo assim, em comum acordo, foi sugerido à SEAG criar o assentamento Córrego da Onça, numa área de 18 alqueires, buscando a aproximação e união ods dois grupos, fazendo a lógica do coletivo sobrepor o individualismo paternalista do poder político de Jaguaré. Uniram-se às famílias do Córrego da Areia e descobriram o óbvio juntas seriam mais fortes! 

As 8 famílias que vieram de Jaguaré persistiram e conseguiram finalmente 18 alqueires numa área que recebeu o nome de Córrego da Onça. Formou-se então uma comunidade que, a partir de então, começou a se organizar, fazendo projetos, criando a escola unidocente, tendo a sua própria igreja cuja padroeira é Nossa Senhora de Lourdes.

No assentamento Córrego da Areia não houve processo de ocupação, sendo o primeiro assentamento do estado do Espírito Santo. Recebeu ajuda do governo com material para construção de casas, alimentação durante seis meses e muito apoio do STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), igreja católica e comunidades vizinhas. Neste período, lideranças dali já participaram do primeiro congresso do MST, e pouco tempo depois, em 1985, o MST já passou a acompanhar e orientar as famílias. O trabalho no início era feito na dinâmica do coletivo e a produção, obviamente, era dividida em partes iguais. O assentamento tinha uma comissão (central) que cuidava das negociações com o estado e também debatia sobre a educação, a saúde e as finanças.

Anos se passaram e parte das famílias procuraram outras formas de se organizarem e trabalhar na terra e assim, democraticamente, formou-se então o chamado grupo de 10 famílias na mesma área, no Córrego do Sangue, nas proximidades do Córrego da Onça. Mas pertencem ao assentamento Córrego Areia, que estará celebrando 40 anos de Lutas, Resistência e Conquistas no próximo dia 13 de Setembro de 2024. 

Programação da Festa dos 40 anos do assentamento:

Foto: MST no ES

14 de setembro de 2024

9h00 – Chegada dos participantes

9h30 – Mística de abertura

10h00 – Ato político

11h30 – Homenagem aos assentados 

12h00 – Almoço comunitário

13h30 – Apresentação teatral 

14h30 – Seresta 

15h30 – Sorteio de prêmios

17h00 – Show com Jô e Letícia

19h00 – Show com Chocolate

21h00 Show com Billy Forrozão

24h00 – Show com Black Fox do Brasil

*Editado por Fernanda Alcântara