Nota de Pesar

Perdemos um Papa dos pobres, dos trabalhadores, dos migrantes e dos Sem Terra

O MST se despede do Papa Francisco, que faleceu na manhã desta segunda-feira (21)

Papa Francisco. Foto: Divulgação

Da Página do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra lamenta o falecimento do Papa Francisco. Jorge Bergoglio, em seus 12 anos de papado, foi um fiel aliado dos mais pobres, marginalizados, excluídos e violentados pelo capitalismo. 

Bergoglio foi o primeiro Papa a escolher o nome “Francisco”, em homenagem ao Santo protetor dos animais e da natureza, que abdicou de suas riquezas pessoais. A escolha já sinalizava qual linha seguiria seu pontificado. 

Ao longo do período à frente da Igreja Católica, Francisco teve uma série de iniciativas no sentido de se aproximar dos movimentos populares. Propôs, já no primeiro ano, realizando-se em outubro de 2014, os Encontros Mundiais dos Movimentos Populares com o Papa. Os Encontros, que reuniram representantes de movimentos de todos os continentes, além de inédito por si só, representavam a defesa do Pontífice pela necessária organização dos explorados, para podermos conquistar mudanças sociais.

Papa Francisco, em Encontro com Movimentos populares, 2016. Foto: @Servizio Fotografico /L’Osservatore Romano

A encíclica Laudato Si, publicada por Francisco em 2015, representou um marco na Igreja Católica. O documento, que trata dos “cuidados com a Casa Comum”, apresentou as preocupações do Papa com os mais pobres e com a crise ecológica. “Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta”, afirma a encíclica. 

Publicado em 2020, Fratelli Tutti também é outra manifestação importante de Francisco no sentido da preocupação com a “fraternidade e a amizade social”. “O sonho de construirmos juntos a justiça e a paz parece uma utopia doutros tempos. Vemos como reina uma indiferença acomodada, fria e globalizada”, disse o Papa. 

Divulgou em 2023 a Laudato Deum, a qual se dirige “a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática”. Seguindo o caminho da Laudato Si, Francisco afirma no documento que “deixará de ser útil apoiar instituições que preservem os direitos dos mais fortes, sem cuidar dos direitos de todos”.

Bergoglio foi um aliado dos camponeses. Em 2020, em virtude do Dia do Trabalhador Rural, enviou uma mensagem àqueles que lutam pela Reforma Agrária no Brasil. “Partilhar os produtos da terra para ajudar as famílias necessitadas das periferias das cidades é um sinal do Reino de Deus que gera solidariedade e comunhão fraterna”, disse.

Foto: MST

Em 2014, durante o Encontro “Arena da Paz”, realizado em Verona, Itália, o Papa se encontrou com 12 mil pessoas. Na ocasião, Francisco abençoou a bandeira do MST, a qual estará sempre protegida em todas as lutas e manifestações na nossa saga por uma Reforma Agrária Popular que beneficia todo povo brasileiro. “Quando ele benzeu a bandeira, me disse que estava rezando pela pronta recuperação de todas as famílias gaúchas”, expressou João Pedro Stedile à época.

João Pedro Stedile e Papa Francisco. Foto: Reprodução/Vatican Media

Foi um fiel defensor da ciência e do apoio aos mais vulneráveis durante a pandemia de covid-19. “Se a luta contra a covid-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível lutando nas perigosas trincheiras. Um exército que conta apenas com as armas da solidariedade, da esperança e do sentido de comunidade que renasce nestes dias nos quais ninguém se salva sozinho”, afirmou em carta às organizações sociais à época.

O Papa Francisco também enfrentou os fortes setores conservadores da Igreja Católica. Promoveu uma profunda renovação dos cardeais, ao nomear religiosos de países marginalizados. Em 2016, Francisco disse que a Igreja Católica deveria desculpar-se com a comunidade LGBTQIA+. “Eu acredito que a Igreja não deve apenas se desculpar, não deve apenas pedir desculpas a essa pessoa que é homossexual e que foi ofendida, mas deve pedir perdão aos pobres, às mulheres exploradas, às crianças exploradas”, disse.

Sua última mensagem pública, feita durante as celebrações da Páscoa neste domingo, clamou pelo fim do genocídio em Gaza. Francisco denunciou “uma situação humanitária dramática e ignóbil” em Gaza e pediu um cessar-fogo. Também disse que “é preocupante o crescente clima de antissemitismo que está a se espalhar por todo o mundo”.

Exerceu seu papado de forma simples e despojada, abandonando muitos costumes luxuosos e teve sempre atitudes proféticas, como ao visitar Lampedusa (principal ponto de chegada na Europa dos refugiados da África), os presídios e os moradores de rua de Roma, entre outros atos. 

Bergoglio se despede sendo uma referência social e política para toda a humanidade. Guiou-se sempre ao lado dos mais pobres e marginalizados pelo capitalismo. O MST se despede do Papa na expectativa de que sua vida sirva de exemplo para lutadoras e lutadores populares. Que a Igreja e o próximo Papa siga o legado de Francisco e mantenha-se ao lado dos excluídos.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

São Paulo, 21 de Abril de 2025.