Recuperação Ambiental

Comunidade do MST prepara plantio de 1 milhão de árvores, no Paraná

A primeira área que será reflorestada pela comunidade tem 7 hectares, e já recebeu a preparação e os berços onde 3 mil mudas serão plantadas nos próximos dias

Preparação dos berços onde 3 mil mudas serão plantadas em Rio Bonito do Iguaçu. Foto: Thiarles França. 

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, a natureza fez chover e marcou de esperança o plano para o plantio de 1 milhão de árvores, assumido pela comunidade Herdeiros da Terra de 1° de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu, região centro do Paraná. 

Apesar das condições precárias das estradas de chão, danificadas pelas chuvas intensas dos últimos dias, centenas de moradores/as do pré-assentamento se reuniram para o ato de anúncio do plantio. A ação faz parte da 3ª Jornada da Natureza, realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, entre os dias 2 e 7 de junho, em todo estado. 

A primeira área que será reflorestada pela comunidade tem 7 hectares, e já recebeu a preparação e os berços onde 3 mil mudas serão plantadas ao longo dos próximos dias. O trabalho tem sido realizado em mutirão, com a participação massiva da comunidade. 

Primeiras mudas de árvores nativas foram plantadas nesta semana, durante a 3ª Jornada da Natureza. Fotos: Danielson Postinguer

Ivete de Mello integrante da direção da comunidade, reafirmou o compromisso do pré-assentamento em reflorestar áreas anteriormente desmatadas. “Nosso compromisso enquanto Herdeiros da Terra de 1º de Maio é de um milhão de mudas para nós estar plantando. E essas famílias abraçaram esse compromisso”, afirmou.

Ivete de Mello integrante da direção da comunidade, reafirmou em nome da comunidade o compromisso com o reflorestamento. Foto: Danielson Postinguer

Nilton Bezerra Guedes, superintendente do Incra-PR, participou do ato e reforçou a relação direta entre a Reforma Agrária e a questão ambiental. “Os projetos de Reforma Agrária precisam ser um exemplo de preservação. Só no estado do Paraná, nós temos mais de 100 mil hectares de áreas de reserva legal e APP (áreas de preservação permanente) [em áreas da Reforma Agrária]. É um grande potencial que temos na mão”, garantiu. 


Nilton Bezerra Guedes, superintendente do Incra-PR, participou do ato e reforçou a relação direta entre Reforma Agrária e questão ambiental. Foto: Danielson Postinguer

Segundo dados do Instituto Água e Terra do Paraná (IAT) sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), a média de cobertura vegetal nativa nos 333 assentamentos rurais no Paraná foi de 29,51% em 2021. Essa média está acima do que indica o Código Florestal, que é de 20% de reserva legal. Esses números da Reforma Agrária contribuem, de acordo com a engenheira florestal Claudia Sonda, do IAT, para proteger e restaurar o que resta da Mata Atlântica, uma das mais ricas em diversidade de espécies e ameaçadas do planeta. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente. 

Avançar na Reforma Agrária Popular 

Roberto Baggio, da direção estadual do MST, também reforçou a importância da produção de alimentos e da preservação ambiental como parte da luta pela Reforma Agrária, convocando os presentes para o compromisso com a conservação da natureza. “A jornada da natureza é uma luta também da Reforma Agrária. Para quê? Para que cada família acampada, assentada, ocupante tenha seu canto”.

Para ele, o assentamento das famílias é uma forma de garantir a soberania alimentar e o cuidado com o meio ambiente. “Imagine que cada lote de cada colono tem que ter uma bela fonte de água, pra tomar água boa, isso é a missão que só nós, colonos, podemos fazer. E plantar muita árvore”, disse.

Para Roberto Baggio, do MST, o assentamento das famílias é uma forma de garantir a soberania alimentar e o cuidado com o meio ambiente. Foto: Danielson Postinguer

O acampamento Herdeiros da Luta de 1º de Maio, que sediou o ato, é formado por 1.123 famílias que vivem há 11 anos na área, localizada entre os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Nova Laranjeiras. A principal luta da comunidade é pela formalização do assentamento. 

O deputado estadual, Professor Lemos, do Partido dos Trabalhadores, reafirmou a necessidade de avançar no assentamento das famílias no local: “A terra é um direito humano, porque nós não podemos ficar levitando suspensos no ar. Nós temos direito de viver na terra, pelo nosso lugar, para edificar nossa casa e viver com dignidade para nossa família”, disse.

 
“Nós temos direito de viver na terra, para edificar nossa casa e viver com dignidade”, disse Professor Lemos. Foto: Danielson Postinguer

O ato também teve a participação do representante do Ibama-PR, Valdeci Naconezi e do prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Cezar Bovino. Ao final do encontro, as crianças da comunidade entregaram mudas de árvores para as autoridades como símbolo do compromisso do Herdeiros da Terra de 1º de Maio, no cuidado com o meio ambiente, e também como reforço do papel dos órgãos públicos na preservação da natureza.


Crianças da comunidade entregaram mudas de árvores para cada uma das autoridades como símbolo do compromisso firmado. Foto: Danielson Postinguer

Projetos de Lei 

A Jornada da Natureza faz parte dos atos nacionais em torno do dia do meio ambiente, 5 de Junho, que este ano também realiza debates e críticas ao PL da Devastação, já aprovado no Congresso Federal. 

Entre os Projetos de Lei que oferecem alternativas para a conservação da natureza, em vez de sua devastação, o deputado estadual professor Lemos, listou os projetos de Lei que propôs na Assembleia Legislativa (ALEP) para fortalecer a produção da palmeira juçara e também para incluir a Jornada da Natureza e a Jornada de Agroecologia no calendário oficial do Estado. 

Outro projeto já em andamento e que vem sendo construído, a partir de articulação em torno da Jornada de Agroecologia, visa instituir a política estadual da agroecologia e da produção orgânica. O PL já foi aprovado em primeira votação no plenário da ALEP, e segue em tramitação. 


A Jornada da Natureza faz parte de atos nacionais em torno do Dia do Mundial do Meio Ambiente e crítica o PL da Devastação, já aprovado no Congresso Federal. Foto: Danielson Postinguer

3ª edição da Jornada segue até sábado (7)

As atividades da Jornada da Natureza nesta sexta-feira (6), ocorrem na comunidade José Lutzenberger, em Antonina. E o encerramento do evento será neste sábado (7), como a inauguração de um viveiro de mudas e horto medicinal no assentamento Contestado, na Lapa. 

O viveiro terá capacidade para produção de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista, a conhecida floresta de araucária. Já o horto de plantas bioativas prevê a produção de 5 mil mudas por ano, além de funcionar como espaço pedagógico para o aprendizado, cultivo de matrizes, manejo e propagação das espécies e produção de matéria-prima para fitoterápicos. 

A ação integra o projeto Bem Viver, que desenvolve capacitações e implantação de práticas agroecológicas e agroflorestais, em todo o estado. O projeto é resultado da parceria entre o Instituto Contestado de Agroecologia (ICA) e a Itaipu Binacional, por meio do Programa Mais que Energia, que também conta com apoio do governo federal.

Outras dezenas de ações acontecem em diversos municípios do estado, voltadas diretamente aos camponeses/as: são cerca de 20 oficinas e atividades práticas de recuperação de nascentes e de áreas degradadas, produção em agrofloresta, manejo e proteção do solo, homeopatia na Produção Animal, produção de mudas de erva mate, prevenção à deriva de agrotóxico e à influenza aviária, entre outras.

A 3ª Jornada da Natureza é organizada em parceria com a Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (ACAP); Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA); Polícia ROdoviária Federal (PRF); Instituto Contestado de Agroecologia (ICA), a  Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Laranjeiras do Sul; Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais; Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB); Instituto Água e Terra; Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Comitê de Cultura do Paraná; Prefeitura de Quedas do Iguaçu; Fundação Luterana de Diaconia (FLD); e Associação de Produtores Orgânicos de Quedas do Iguaçu Produzindo Vidas (APOQI). Este ano, mais uma vez, a Caixa Econômica e o Governo Federal são patrocinadores do evento.

Confira a Programação da 3ª Jornada da Natureza no PR, que ainda estão previstas:

06/06 – Comunidade José Lutzenberger (Antonina – PR): Semeadura aérea de 1 toneladas de Palmeira Juçara
10h: Conferência Formativa da Mata Atlântica
11h: Sobrevoo para semeadura de 1 toneladas de semente de palmeira juçara
13h: Almoço caiçara (trazer pratos e talheres)
14h às 16h: Oficina de música e conhecimentos do território litorâneo
14h às 16h: Plantio no Bosque Comunitário e Atração Cultural

07/06 – Assentamento Contestado (Lapa – PR): Conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular” e Inauguração do Viveiro de Mudas de Horto Medicinal
8h: Café e acolhida
9h: Conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular”
11h: Inauguração do Viveiro de Mudas e Horto Medicinal e 1º Mutirão de semeadura e plantio do viveiro
13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres).

*Editado por Solange Engelmann