Feira em Campinas
Ato em defesa da Reforma Agrária marca a cooperação entre campo e cidade na luta contra a fome
A atividade é marcada pela entrega de 5 toneladas de alimentos às Cozinhas Solidárias

Por Aline Antunes
Da Página do MST
A Feira da Reforma Agrária Neusa Paviato já virou uma marca em Campinas, uma cidade que é o centro de importantes debates sobre a agricultura no Brasil. Mesmo tendo pautas capturadas pelo agronegócio, Campinas acolheu e produziu elaborações para a agricultura familiar e camponesa no país.
Para selar os compromissos da Feira, foi realizado na manhã de domingo (05), na Estação Cultura, o Ato Político “Reforma Agrária: Em defesa da alimentação saudável e combate à fome”. O momento reuniu militantes do MST, apoiadores da Reforma Agrária, Rede Livres, representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais (CEAGESP) e da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA).
João Paulo Rodrigues, da Direção Nacional do MST, propôs durante o ato a reflexão sobre qual modelo de Reforma Agrária queremos desenvolver e debater e, dentro desta reflexão, ele questiona: “quais necessidades temos, e quais os tipos de políticas públicas são necessárias para aumentar a nossa produção de alimentos?”

Neste contexto, o dirigente do MST sugere a construção de um processo para organizar o futuro, e para isso Rodrigues destaca 10 pontos indispensáveis para a luta pela terra no Brasil:
1- Pautar a necessidade de democratização das terras;
2- Nova agenda ambiental, com camponeses no centro do debate;
3- Construção de fábricas de bioinsumos;
4- Mecanização agrícola compatível com a agricultura familiar e camponesa;
5- Construção de agroindústrias para as redes produtivas;
6- Estudar e se apropriar das tecnologias e IAs para melhorias no campo;
7- Fortalecer as cooperativas;
8- Aliança com as cidades e periferias;
9- Agroecologia como modo de produção;
10- Não se faz Reforma Agrária sem luta. Defender alimentos saudáveis é defender as lutas, ocupações, e combater o agronegócio.
Importante destacar que pontos como tecnologia, agenda ambiental, agroecologia, mecanização e industrialização não podem ficar de fora dos debates em torno da construção de políticas de Reforma Agrária. Principalmente após os desmontes realizados durante o governo Bolsonaro, como foi o caso da CONAB.
De acordo com o Diretor Executivo de Operações e Abastecimento da CONAB, Arnoldo de Campos, “não podemos abrir mão de estruturas públicas na área da alimentação. Se temos o Banco do Brasil e a Petrobras, por que ainda somos carentes de estruturas para tratar a distribuição de alimentos no Brasil?”, pontuando que lutar por soberania nacional passa também pela luta pela produção e distribuição de alimentos saudáveis no país.

Neste sentido, a Superintendente do MDA, Patrícia Apolinário, traz os desafios enfrentados pelo Ministério que se reconstruiu no governo Lula após ser extinto na gestão Bolsonaro, e reforça a importância de trazer para o centro do debate a pauta da agricultura familiar, e que a produção por si só não basta, é preciso garantir a comercialização e distribuição dos alimentos. “Quando falamos de comercialização estamos falando de feiras, ações nos territórios, mas é importante também que compras públicas e institucionais possam acontecer!”
O Ato foi encerrado com a entrega simbólica de 5 toneladas de alimentos para Cozinhas Solidárias da cidade de Campinas. É importante destacar que não se trata de doação, mas sim da realização de uma política pública que garante aos produtores saberem para onde estão destinando os alimentos, e a oportunidade de quem os recebe conhecer e saber sobre a origem dos produtos recebidos. As Cozinhas que foram beneficiadas são: Cozinha Solidária São Marcos; Cozinha Solidária Pródigo; Lar São Vicente de Paula; Cozinha 16 de Outubro; Cozinha Centro de Estudos Apolônio de Carvalho.
Todo o alimento repassado está na política realizada pela CONAB: o Programa de Aquisição de Alimentos/PAA de Ação Simultânea, com a produção in natura; e o PAA de Compra Direta, com os alimentos beneficiados pelas cooperativas. “Esse encontro de quem está produzindo com aqueles que vão receber só é possível pois estamos falando de política pública. Uma política pública qualificada”, ressalta Delwek Matheus, do Setor de Produção do MST no Estado de São Paulo.
Para Matheus “é o encontro do campo com a classe trabalhadora urbana que faz esse país andar”, ressaltando um dos pontos destacados por João Paulo Rodrigues na construção de um novo futuro para o Brasil, em que campo e cidade possam trabalhar em cooperação na luta contra a fome, contra todas as formas de opressão, e na preservação dos bens comuns.
*Editado por Fernanda Alcântara