Vera, Presente!
Nossa despedida para quem semeou girassóis
À companheira Vera Aguiar Cotrim

Da Página do MST
Companheira,
Nossas palavras são feitas de terra revolvida. Nossa despedida é também um reencontro, você fica inscrita nas frestas dos cadernos que você desabrochou, na lousa de nossas salas de aula que você transformou em trincheira de ideias, no silêncio atento de cada uma de nossas companheiras Sem Terra, naqueles rostos curiosos nos quais brotavam inquietações, na espera e na ação para a revolução.
Sentimos em Vera a inquietude de quem nunca se contentou com a superfície das coisas. Diante de nós sempre esteve uma educadora popular, pesquisadora-militante que mergulhou fundo, de dedo em riste, de mente acesa, até encontrar o fio vermelho que tece a história da luta de classes, não como um capítulo velho, mas como o motor que range e pulsa nas entranhas do presente. No prato vazio, na luta, no tapa no rosto das mulheres, na falta da terra e da liberdade.
Você chegou e nos reafirmou que é virtude tomar partido, é ético e necessário denunciar o opressor e que é revolucionário ser feminista. Que bom que você chegou e que sua voz se fez foice e flor no campo do saber, e que pudemos te ter, com sua sabedoria e voz convicta, celebrando e enaltecendo com ciência a mulher trabalhadora, a mulher negra, a mulher Sem Terra.
Vera Cotrim foi professora universitária, mas também foi e continuará sendo a nossa Vera, marota, riso de menina, inquieta e afetiva, com raiz profunda, com a força que sustenta a árvore da luta e faz nascer novas sementes para as que ainda estão por vir.
Vera nos fez perguntas, nos fez perguntar, e soube nos oferecer a chave da leitura crítica da realidade. Reafirmou conosco que o capitalismo precisa ser banido, mas que o patriarcado e o racismo também precisam ser derrotados. E que a humanidade irá desvendar o mundo, não pelas mercadorias que parecem brilhar, mas pelas mãos que produzem, que cuidam, que lutam, pelas mãos que seguram firmes a bandeira vermelha da justiça social.
Vera foi radical no sentido mais belo da palavra: foi raiz. Uma semeadora de sementes férteis, obstinada. É nosso girassol e semente, que se espalha longe. Soube romper as paredes das salas de aula, plantou jardins em territórios de esperança. Se espalhou nos sulcos da terra molhada da luta pela terra e pela emancipação humana.
Vera carrega o sol no peito. Plantou girassóis de rebeldia. Porque o girassol não busca a sombra: ele se volta, intencional e radicalmente, para a luz do sol e resiste, teimando em crescer em solo difícil.
Nossa eterna gratidão, companheira Vera, por cada aula, por cada prosa, por cada defesa feita com a força de um abraço, por ser presença viva entre nós, por seres corpo e alma na defesa intransigente do amanhã, onde a justiça não seja promessa, mas chão firme sob nossos pés.
Querida Vera, espalharemos em nossas lutas os girassóis que você plantou. De onde estiveres, continuará vivendo nas sementes espalhadas por tantos cantos e rincões desse nosso país, em cada acampamento e assentamento em que brota uma nova flor de resistência, consciência e luta.
Vera Aguiar Cotrim, Presente, Presente, Presente!
Com amor, admiração e compromisso,
Das Mulheres Sem Terra do MST