Socialismo

José Carlos Mariátegui: intelectual pioneiro em adaptar o marxismo à América Latina

Nesta sexta-feira (14), completa-se 130 anos de nascimento, do intelectual peruano que colocou no centro do debate marxista temas como o comunismo indígena
José Carlos Mariátegui, em 1928. Foto: Wikimedia Commons

Da Página do MST*

O peruano José Carlos Mariátegui foi um escritor e jornalista marxista pioneiro ao reconheceu a necessidade de adaptar o marxismo para as condições latino-americanas, ao contrário de somente tentar transplanta-lo da Europa. Ele também coloca no centro do debate marxista temas como o do comunismo indígena.

Nesta sexta-feira (14) completa-se 130 anos do seu nascimento, em 14 de junho de 1894, em Moquegua, no Peru. Ele também foi um intelectual orgânico da luta marxista, atuando como importante dirigente comunista e com papel importante na construção do movimento trabalhista peruano, ao colaborar na construção das primeiras organizações da classe trabalhadora no país. Porém, morreu jovem aos 35 anos, em 16 de abril de 1930.

Mariátegui (2011) defendia um projeto de socialismo indo-americano, com uma matriz étnico-racial afro-americana e a luta feminista, comum em vários países da América Latina, a exemplo do Brasil.

Após um incidente na escola aos oito anos, Mariátegui foi privado dos primeiros quatro anos de escola. A doença o acompanhou ao longo de sua vida e foi a causa de sua morte precoce. Durante esse período de cama, passou a usar o tempo para ler. E aos quinze anos, iníciou um trabalho na gráfica do principal jornal de Lima, La Prensa. Em um ano, passou a escrever para o jornal como colunista e repórter. Ele também enveredou pela poesia e frequentou círculos literários de vanguarda em Lima.

Contribuiu na criação de revistas e jornais socialistas no Peru e passou um tempo na Europa após o golpe de Augusto Leguía, em 1919, no país. Em janeiro de 1924 foi preso ao participar de uma reunião entre intelectuais e alunos universitários. Em setembro de 1926, Mariátegui publicou o primeiro número da revista Amauta – palavra quéchua que significa sacerdote, sábio. A publicação divulgava as artes e as ideias socialistas, e contava com a colaboração de importantes intelectuais de vanguarda do Peru.

Em 7 de outubro de 1928, Mariátegui ajudou a fundar o Partido Socialista do Peru, sendo eleito seu Secretário-Geral. E no início de 1929 colaborou na organização da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru.

Obra

Devido a sua morte precoce o autor teve somente dois livros publicados em vida, deixando mais três escritos. A obra do autor discute temáticas da filosofia, historiografia, sociologia e economia, até a literatura, psicologia, crítica de arte e educação, entre outras áreas. Seu primeiro livro, La escena contemporánea, da editora Minerva, de 1925, apresenta uma seleção de artigos com foco em figuras e aspectos da realidade internacional, abordando temas como: fascismo, “crise” da democracia liberal e do socialismo reformista, literatura revolucionária, “fatos e ideias” da Revolução Russa e ensaios sobre povos do Oriente.

A segunda obra de Mariátegui, Sete ensaios de interpretação da realidade peruana, publicada em 1928 é a mais conhecida, com mais de sessenta edições e traduções para outras línguas. A obra pode ser adquirida no site da Editora Expressão Popular. A obra traz ensaios em que ele aplica o materialismo histórico para compreender a realidade de seu país, abordando assuntos como: a evolução da economia nacional, a “questão do índio” e “da terra”, a educação pública, o “fator religioso” na formação do Peru, o problema do “regionalismo” e do “centralismo” peruano e a literatura nacional.

Os escritos e a contribuição de Mariátegui demoraram uma geração para serem reconhecidos no movimento socialista e para além do Peru. Mas, com o avanço das lutas e resistência popular contra o neoliberalismo na América Latina, no início do século XXI, houve uma redescoberta de suas ideias políticas. A relevância de Mariátegui para os movimentos sociais está, especialmente na insistência em relação ao papel central das comunidades indígenas da América Latina na luta de classes.

Após décadas de sua obra na clandestinidade, nos anos de 1950, a pedido de sua viúva, Anna Chiappe e seus filhos, e por meio da Livraria e Editorial Minerva, foi iniciado um projeto editorial no Peru, com a publicação das Obras Completas de José Carlos Mariátegui, em vinte volumes populares.

Foto: reprodução editora Expressão Popular

Na Expressão Popular também estão à venda outras obras do autor, como: Revolução Russa – história, política e literatura, Por um socialismo indo-americano e Mariátegui – Vida e obra, de Leila Escorsim, sobre o autor.

Referências:

Yuri Martins-Fontes. O marxismo de José Carlos Mariátegui. Blog Expressão Popular, 2014 Disponível em: https://expressaopopular.com.br/2024/03/07/o-marxismo-de-jose-carlos-mariategui/

José Carlos Mariátegui. Por um socialismo indo-americano. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2011.

*Com informações da Revista Jacobin e Arquivo Marxists.