Trabalhadores protestam contra o latifúndio em Pernambuco

Cerca de 2000 trabalhadores rurais sem terra ligados ao MST, FETAPE e CPT protestam contra a ação criminosa do latifúndio com a conivência das autoridades. O ato foi realizado no Engenho Prado, município de Tracunhaém, Pernambuco, em 19 de maio. O local foi escolhido para uma mobilização unificada dos movimentos sociais que atuam no Estado por ser o exemplo do poderio do latifundiário.

A casa grande, que servia de apoio para a segurança particular do engenho, foi ocupada e incendiada pelos trabalhadores revoltados de tanta humilhação e situação de fome. Em mutirão, os sem terra estão replantando a roça destruída pelas máquinas do engenho.

Há mais de 6 anos, os trabalhadores plantam naquelas terras enquanto aguardam a sempre lenta ação do Incra para desapropriar o Engenho Prado, que não cumpre a constitucional função social. Com centenas de hectares de diversas lavouras, os trabalhadores retiram a sua sobrevivência e abastecem com alimentos naturais as feiras dos municípios de Tracunháem, Araçoiaba, Nazaré da Mata, Carpina e Paudalho.

Desde março que o Engenho Prado vem sendo palco de violência por parte da Usina Santa Teresa, do Grupo João Santos. Os capangas da Usina – com a proteção da Polícia Militar – terrorizam os trabalhadores, mulheres e crianças, e destroem as posses legítimas dos trabalhadores – as lavouras – deste imóvel improdutivo. Se já não bastam as ameaças, a milícia privada do Grupo João Santos contamina as fontes de água e plantações através do uso de herbicida e venenos altamente tóxicos.

Além da destruição dos sítios e lavouras, com a ilegal proteção de milícias privadas e da Polícia Militar, se chega ao absurdo de revistar professores e crianças para intimidar as famílias e para dar continuidade à estratégia de “choque e pavor” em defesa do latifúndio. O fato já foi denunciado aos vários escalões dos governos federal, estadual e municipal. Ofício relatando os últimos acontecimentos foi entregue ao Presidente da República, ao Governador do Estado, à Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, ao Ministério Público Estadual, ao Ministro da Justiça, à Presidência do Incra, à Promotoria Pública e à Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Algumas autoridades já visitaram a área algumas vezes, mas ainda não tomaram qualquer providência concreta para proteger a cidadania ameaçada.

Pernambuco junto com os Estados do Pará e Mato Grosso possuem o maior número de conflitos de terra do país. Em Pernambuco foram registrados, de 1995 até 2002, 17 trabalhadores rurais assassinados, 46 torturados, 235 presos, 428 foram agredidos fisicamente ou feridos, 932 conflitos de terra. (Fonte: CPT)

Apesar de tanto sangue dos trabalhadores, muito pouco se fez pela Reforma Agrária em Pernambuco. Os números de desapropriações e de famílias assentadas ficaram aquém da demanda das 35 mil famílias sem terra acampadas, isto sem contar uma multidão de trabalhadores rurais sem emprego e sem terra por conta da ganância dos usineiros e latifundiários, que apesar de falidos, sonegadores e improdutivos, usam a terra como forma de especulação política e financeira para a obtenção de mais subsídios e financiamentos públicos. O Grupo João Santos deve ao INSS cerca de 54 milhões de reais.

Nos últimos oito anos, em Pernambuco, foram desapropriados imóveis que assentaram pouco mais de 5 mil famílias, resultado insignificante diante de uma população total de quase 8 milhões e de postos de trabalho perdidos no campo contados em centenas de milhares.

Diante da violência e da agressão aos seus direitos, os trabalhadores se reuniram e exigem a retirada dos tratores e das máquinas pesadas e encaminhamentos concretos para a imediata desapropriação do Engenho Prado e de todas as áreas ocupadas em Pernambuco.