Via Campesina chega do Chile

Durante o terceiro Fórum Social Mundial, A Via Campesina Internacional tirou como proposta realizar um Seminário Internacional em comemoração aos 30 anos do golpe militar no Chile, que assassinou o presidente mais democrático e popular da história da América Latina, Salvador Allende. O Seminário Internacional Alternativas Populares e a Perspectiva Socialista na América Latina foi organizado pelo Comitê 30 Anos Allende Vive e contou com a presença de várias delegações como Argentina, Uruguai, Brasil, Estados Unidos, Cuba, México, Nicarágua, Venezuela e Peru.

O Seminário Internacional analisou os contextos e as formas atuais de dominação imperialista, quais alternativas os povos da América Latina poderiam utilizar para enfrentar as agressões e investidas contra os movimentos sociais que buscam construir novas alternativas para o atual sistema de dominação. Temas como Alca e a militarização da América Latina, esquerda e institucionalidade, movimentos sociais e políticos e a dialética atual entre a reforma e a revolução.

A via Campesina Brasil enviou uma delegação de 39 representantes de sete movimentos sociais: MAB, MPA, MST, PJR, MTST, CPT e MMTR. As atividades foram intensas. Além do Seminário, aconteceram simultaneamente palestras promovidas pela Central Unitária dos Trabalhadores do Chile, palestras em universidades, caminhadas a lugares simbólicos e intercâmbio com campesinos de três comunidades de reforma agrária.

Em 11 de setembro, às 17 horas foi realizado um grande ato que contou com a presença de 20 mil pessoas na Praça da Constituição, localizada atrás do Palácio de La Moneda onde Allende foi assassinado. A abertura do ato contou com a presença do cantor cubano Sílvio Rodrigues e de representações de várias organizações da América Latina.

No dia 12 foi realizada uma Romaria seguida de visitas aos familiares das vítimas das Províncias de Paine e Lonquem. Visitas a sede de organizações e grupos de famílias dos desaparecidos e executados políticos. A Romaria se dirigiu ao Sítio Lonquem onde foram encontrados os corpos de 15 executados políticos, desaparecidos em 7 de outubro de 1973 e encontrados em uma mina de cal abandonada. Os corpos só foram localizados 6 anos após o desaparecimento.

No dia 13 a delegação foi dividida em três grupos. A programação consistiu em visitas a organizações e intercâmbio de experiências produtivas de base em terras de reforma agrária. As visitas foram realizadas nas comunidades de El Monte, Melipilla, María Pinto e San Pedro. Foram realizados intercâmbio e troca de experiências entre os delegados campesinos locais e visitas políticas e culturais. Em 14 de setembro, os organizadores da Marcha foram surpreendidos por mais de 50 mil pessoas que se concentraram em frente ao Palácio de La Moneda e caminharam pela principais avenidas de Santiago do Chile rumo ao Mausoléu de Salvador Allende e das vítimas do golpe mais sangrento da história da América Latina. Lá foi realizado um grande ato em memória das vítimas do golpe e do pós golpe do Chile. A grande imprensa não divulgou mas, após o ato, a polícia reprimiu os manifestantes e deixou como saldo mais de trezentos feridos, aproximadamente 80 presos e 4 baleados.

A força do povo chileno é retratado nas canções de Victor Jara e Violeta Parra e nas belas poesias do poeta Chileno Pablo Neruda. “Ainda que os passos toquem mil anos este lugar, não se apagará o sangue dos que aqui caíram e não se extinguirá a hora em que caíram, ainda que milhares de vozes cruzem este silêncio”.