As mobilizações de abril

A Jornada Nacional pela Reforma Agrária, desencadeada na primeira quinzena de abril, mostrou mais uma vez, à sociedade brasileira, a necessidade e urgência em democratizar a estrutura fundiária do país. As milhares de famílias de trabalhadores rurais Sem Terra que participaram das caminhadas, das ocupações de latifúndios e dos acampamentos nas grandes cidades mostraram a disposição de lutar para permanecer no campo, produzindo alimentos. São famílias que se recusam a ir para as grandes cidades engrossar os cinturões de miséria das favelas urbanas. São brasileiros que reivindicam a garantia de acesso ao trabalho, moradia e educação. Exitosas, essas lutas serviram para reanimar nossa base social e aumentar a autoconfiança no poder transformador que tem as massas sociais organizadas e mobilizadas. Cresceu a certeza de que não basta eleger políticos comprometidos com as transformações. É preciso que ocorram as lutas sociais para que realmente essas mudanças se concretizem. O comportamento da mídia também não foi diferente das outras jornadas de lutas. Ela concedeu amplos espaços nos noticiários para as mobilizações que aconteceram, mas, em nenhum momento, abriu mão do seu posicionamento ao lado dos interesses do latifúndio.

Mentiras na mídia

A repercussão das lutas também fez com que aqueles intelectuais encarregados de fazer a defesa do latifúndio ganhassem novos espaços na imprensa. Alguns deles tratam de eliminar o problema da questão agrária simplesmente dizendo que ele não existe, uma vez que não há terras improdutivas ou latifúndios. Outros, do mesmo time, se esforçam para desmoralizar a própria organização dos trabalhadores, suas lideranças e suas propostas para a agricultura brasileira.

Da mesma forma, a jornada de lutas obrigou a classe política a se posicionar sobre a questão. Não os políticos já identificados com latifúndio, mas aqueles que usam uma retórica ambígua para “ficar em cima do muro”, pensando que agradam os latifundiários e os sem terras ao mesmo tempo.

A Reforma Agrária não será feita no grito e muito menos fora do que estabelece a lei, porém, ela precisa ser feita. E as nossas lutas, nossas mobilizações acontecem exatamente para que a Constituição Federal seja cumprida.

A importância da unificação das lutas

Mas, a influência desses acontecimentos não ocorreu apenas aos que se opõem à Reforma Agrária. Cresce, em outros setores sociais, do campo e da cidade, a certeza da necessidade de mobilização para obter conquistas sociais.

Vamos somar à luta pela Reforma Agrária a luta contra o desemprego, por moradia, saúde e saneamento básico; as reivindicações dos pequenos agricultores, a defesa das terras indígenas, a luta por um ensino público gratuito e de qualidade.

É importante, unificar todas as lutas dos que sonham com a transformação social deste nosso país.

Direção Nacional do MST

Breves

Festa popular valoriza sementes crioulas em Santa Catarina

A II Festa Nacional do Milho Crioulo e a Feira Nacional das Sementes Crioulas aconteceu de 21 a 25 de Abril, em Anchieta (SC). O evento reuniu cerca de 25 mil pessoas de diversos Estados e representantes de onze países para valorizar a agroecologia e as sementes crioulas, que são variedades rústicas cultivadas e conservadas pelos agricultores de geração em geração. Durante o evento, promovido pela Via Campesina, ocorreram também debates sobre transgênicos e a produção, distribuição e consumo dos produtos agrícolas.

Estudo com cerca de 15 mil famílias mostra os benefícios sociais e econômicos da Reforma Agrária

Lançado em 25 de abril, na Bienal do Livro, em São Paulo, um estudo amplo e profundo que aponta os benefícios sociais e econômicos gerados com a Reforma Agrária. O livro “Os impactos regionais da reforma agrária: um estudo sobre áreas selecionadas” é resultado de dois anos de pesquisa de uma equipe de 83 especialistas, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com recursos do Nead (Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural). As conclusões do estudo são que os assentamentos, objetos da pesquisa, melhoraram as condições de alimentação da população, elevaram o poder de compra das famílias, dinamizaram o comércio local, contribuíram para a recomposição dos laços familiares, aumentaram o poder de organização política dos trabalhadores, melhoraram o status social ao ex-sem-terra, diversificaram a pauta agrícola e geraram empregos. Veja o artigo de alguns dos pesquisadores envolvidos no estudo que sintetiza os principais resultados do trabalho.

Educação de Jovens e Adultos alfabetiza 5 mil pessoas em Pernambuco

O MST realiza, nos dias 29 e 30 de abril, a Certificação em Alfabetização de 5 mil jovens e adultos das áreas de assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária em Pernambuco. Os educandos fazem parte do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos “Brasil Alfabetizado”, desenvolvido pelo MST em convênio com o FNDE/MEC.

Participam do evento, no Ginásio de Esportes Geraldão em Recife, a educadora Ana Maria Freire, viúva de Paulo Freire; ministro da educação, Tarso Genro; o ministro das Ciências e Tecnologias, Eduardo Campos; o senador Cristóvão Buarque, e o prefeito do Recife, João Paulo.

Cartas

A luta do MST é de todo brasileiro, no meu trabalho refiro-me ao Movimento como a vanguarda da resistência contra toda forma de escravidão – esta chaga aberta que teima em sangrar. Meu campo de batalha é a sala de aula aonde cultivo, no coração dos meus alunos, a rebeldia como primeiro dever do cidadão. Marcos Palheta, professor de história e filosofia

Somente com as ocupações a sociedade brasileira ensaiará uma mobilização contra essa desigualdade. O MST é primordial para nosso país, pois abre os horizontes para o debate sobre nosso futuro como grande nação, justa e solidária! Gustavo de Castro

Quero externar a minha admiração por esses trabalhadores rurais que lutam por justiça nesse País. Considero o MST o movimento social mais importante já surgido na história do Brasil. Continuem sempre na luta pela Reforma Agrária e pela inclusão desses homens e mulheres que lutam por dignidade. Juraci Cunha