Sem teto e sem terra sofrem repressão no Paraguai

Fonte: Agência Carta Maior

Pelo menos dez pessoas ficaram feridas terça-feira (21), em Assumção, capital do Paraguai, quando cerca de 300 famílias sem-teto foram desalojadas pela polícia, à força, de um terreno privado ocupado há um mês em Luque, a 12 quilômetros da cidade. Os sem-teto afirmam que há irregularidades na posse do terreno. Os policiais ainda prenderam sete pessoas.

Cerca de 250 policiais e sete fiscais trabalharam no desalojamento. Houve resistência. Os manifestantes queimaram cobertores, o que criou uma cortina de fumaça. A polícia reagiu com disparos de armas com balas de borracha.

O clima também é tenso na área rural do país, onde movimentos de sem-terra estão mobilizados. Na terça, houve pelo menos 10 ocupações de terras particulares nas províncias de do Alto Paraná (no leste do país), Caazapá (centro) e San Pedro (norte). As ações foram coordenadas pela Mesa Coordenadora Nacional de Organizações Camponesas (MCNOC).

O governo paraguaio reagiu e prometeu que efetuará as desocupações “caso a caso”. “Mas vamos dar cumprimento a todas as ordens judiciais de desocupação, custe o que custar”, prometeu o vice-ministro de Segurança, Eustaquio Colmán, que citou como exemplo a desocupação da área ocupada pelos sem-teto, horas antes.

Segundo Eugenio Ramón Giménez, um dos líderes do MCNOC, a ocupação de propriedades privadas ocorre ante “a falta de respostas do governo”. O MCNOC integra a Frente Nacional de Luta pela Soberania e pela Vida (FNLSV), junto a sindicatos de trabalhadores e outras organizações sociais. A Frente exige, além das terras e de aumento salarial, a não-privatização das empresas públicas, a reforma do Estado e a rejeição da Alca.

O governo paraguaio argumenta que o amplo leque de exigências dificulta as negociações. O vice-presidente do país, Luis Castiglioni, propôs tratar os diferentes temas em mesas separadas, o que não foi aceito pelos dirigentes camponeses e sociais.

A Feprinco, a principal entidade empresarial, afirmou que tais discursos incentivam a violência e as invasões de propriedades privadas, a tempo de advertir sobre a possibilidade de uma “explosão social” e da “anarquia” no país.