Sociedade quer discutir transposição do rio São Francisco

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Sociedade quer discutir transposição do rio São Francisco

03/12/2004

Uma das regiões mais pobres do Brasil, o Nordeste carrega até hoje as marcas da escravidão, do genocídio indígena, da política do coronelismo, do latifúndio, da monocultura. Somado tudo isso à submissão do país ao capital internacional, permanece na região a imagem da seca, da pobreza e da fome.

Entretanto, o 1º Fórum Social Nordestino (FSNE), que aconteceu entre os dias 24 e 27 de novembro, no campus da Universidade Federal de Pernambuco, mostrou que o Nordeste de Zumbi, Francisco Julião, Chicão Xukuru – e tantos outros – continua vivo e disposto a transformar aquela realidade.

Durante quatro dias, mais de 8 mil pessoas participaram da intensa programação do evento, que incluiu uma grande marcha, com mais de 10 mil pessoas, pelo Centro do Recife. Dos inscritos, mais de 5 mil representavam uma das 672 entidades.

Com a criação de um Fundo de Apoio aos Movimentos Populares, foi possível aos movimentos indígenas e quilombolas ir ao Fórum.

Questões gerais

Apesar de regional, o 1º FSNE inseriu as discussões específicas em cenários mais amplos, do Brasil e do mundo. “O Nordeste tem problemas próprios, que precisam de um espaço para serem discutidos. Mas isso está vinculado à agenda política nacional e ao movimento global de resistência ao neoliberalismo”, diz Mônica Oliveira, da Associação Brasileira de ONGs (Abong ), e membro da coordenação do Fórum.

Foram três os eixos temáticos do evento: “O Desenvolvimento Que Temos e o Nordeste Que Queremos”, “Radicalizar a Democracia Contra o Neoliberalismo”, e “Afirmando os Movimentos Sociais do Nordeste”.
Para a coordenação do 1º FSNE, o evento também foi uma oportunidade importante para discussão das estratégias dos movimentos sociais na sua relação com o governo Lula.

Críticas

“Quando o governo fez opções que entraram em contradição com as aspirações da sociedade civil que o apoiou, a primeira reação foi de perplexidade”, disse Mônica, acrescentando que o diálogo com o governo também é difícil. Mas a sociedade está se reorganizando, superando as dificuldades e rearticulando suas forças políticas, observa ela.

Jaime Amorim, da coordenação estadual do MST de Pernambuco, não poupou o governo petista: “O governo Lula era a esperança da reforma agrária. No entanto, enquanto os 25 mil grandes proprietários recebem R$ 37 bilhões em crédito ao ano, os 4 milhões de pequenos agricultores recebem R$ 7 bilhões”, comparou.

“Ou se serve às elites, ou ao desenvolvimento regional. Ou a gente mobiliza a população, ou o governo vai ser este que aí está, vai ganhar um segundo mandato e manter o mesmo modelo. Precisamos mudar isso, já”, afirmou.

Betânia Ávila, da organização feminista SOS Corpo, lamentou a inexistência de qualquer sinalização de que o governo Lula esteja disposto a retomar seus compromissos históricos com as questões de justiça social.

Deixando eventuais diferenças de lado, as organizações e movimentos presentes ao Fórum apontaram para a urgente necessidade de mudança da atual política econômica e da construção de um modelo de desenvolvimento soberano para o Nordeste e o país, com distribuição de renda, participação popular e respeito aos direitos humanos.