Corporações da morte

Por Emir Sader

Doze das maiores companhias do setor químico dos Estados Unidos estão desenvolvendo uma campanha par desacreditar dois historiadores, que pesquisaram os esforços das indústrias para ocultar ligações entre seus produtos e o câncer. A denúncia, publicada na revista norte-americana The Nation deste mês, anuncia que o processo é movido, entre outras empresas, pela Dow, Monsanto, Goodrich, Goodyear e Union Carbide, que acusam por conduta antiética cinco acadêmicos que recomendaram a Editora da Universidade da Califórnia publicar o livro “Engano e desmentido: A política mortal da indústria da poluição”, de Gerald Markowitz e David Rosner.

As empresas buscam evitar que tenham que enfrentar demandas dos processos sobre câncer, caso se prova que este pode ser produzido pelo cloreto de vinil, matéria-prima usada por exemplo na produção dos sprays para cabelo. Os pesquisadores encontraram inúmeros processos de vítimas e familiares de vítimas de um tipo raro de câncer – o angiosarcoma do fígado –, causado pela exposição ao cloreto de vinil. Os dois pesquisadores universitários da Califórnia buscaram saber que informação tinham as companhias que fabricaram os produtos com o cloreto de vinil. E descobriram que já em 1973 elas sabiam que o produto causa câncer em animais, mesmo com um baixo nível de exposição. Como esse cloreto foi usado em centenas de produtos, a exposição é muito maior e maciça.

Os argumentos e os dados estão em um capítulo de outro livro que publicaram, chamado “Evidências de uma conspiração industrial ilegal”. A informação não foi criada por eles, mas tirada de um documento elaborado em 1973 por uma Associação de Empresas Químicas, preocupada com que a ação daquelas empresas fosse caracterizada como uma conspiração, se não fosse revelado ao público, ou pelo menos ao governo, os riscos dos produtos fabricados com o cloreto de vinil.

De forma cada vez mais freqüente esse tipo de processo vem ocorrendo nos EUA, conforme as vítimas se dão conta dos efeitos que a exposição de várias matérias-primas produz. O apelo à Justiça se faz também pela total ausência de controle do setor, conforme a Agência de Proteção à Saúde e ao Meio Ambiente, criada originalmente para proteger os trabalhadores e o público, foi sendo dominada pelas empresas industriais, fazendo com que aqueles tenham que apelar diretamente à Justiça.

As empresas tratam de sair do seu lugar de réus, para mover processos contra os pesquisadores, que teriam publicado acusações sem provas suficientes, caracterizando o que os seus advogados dizem ser comportamento antiético. Enquanto isso, milhões de pessoas continuam a sofrer a exposição a produtos que produzem câncer e, quando se derem conta, já terão sido vítimas irremediáveis dessas corporações da morte.