O trabalho, de novo!

Por Dom Demétrio Valentini

Desta vez, maio começa de domingo. Assim, o Primeiro de Maio recebe um reforço providencial para a sua celebração festiva.

Pode ser que o domingo salve a situação. Pois parece que o Primeiro de Maio já não entusiasma mais tanto. Quem ainda celebra o Dia do Trabalhador?

Tempos atrás o trabalho tinha a força galvanizadora de aglutinar “os trabalhadores e trabalhadoras”, de constituir uma classe social bem definida, uma causa política bem determinada.

Agora não. Os interesses se diversificaram. Os próprios trabalhadores acabam trombando entre si. O trabalho já não é mais bandeira que une.

Dos diversos temas levantados pela Quarta Semana Social Brasileira o que mais intriga são as mudanças profundas verificadas no mundo do trabalho. Pois são as que mais repercutem na vida das pessoas.

As grandes transformações mundiais tiveram uma incidência especial sobre o mundo do trabalho. É urgente compreender melhor o que está se passando. Podem ter mudado suas condições, mas o trabalho continua sendo a “chave” principal da questão social.

São muitas as mudanças acontecidas.

A nova realidade leva o trabalhador, com freqüência, a se sentir cooptado pelo capital. Desta maneira, ele se torna mais solidário com o patrão do que com seu companheiro de trabalho.

A competitividade entre os trabalhadores mina a solidariedade entre eles. E torna mais vantajosa a negociação individual, possibilitando assim que o neo liberalismo reedite as condições de barbárie existentes no início da revolução industrial, em que a falácia da “livre negociação” justificava a exploração praticada contra os trabalhadores.

Por sua vez, a grande rotatividade no emprego tira do trabalhador a perspectiva de fazer do seu trabalho a garantia do seu futuro. O trabalho é sempre mais visto com uma empreitada, a ser concluída na base de cálculo imediato, nada importando para a consolidação de direitos estáveis.

Em meio a tantas mudanças, permanece a pergunta central: quem tira proveito do trabalho? Que fica com a “mais valia”, como era colocada a questão nos tempos das discussões sindicais?

Aí entra o desafio maior para desvendar o que se passa hoje no mundo do trabalho. Os mecanismos de exploração se sofisticaram. Realizam-se de maneira indireta, aparentando decência, neutralidade, ou mesmo fatalidade. Sutilmente, a escravidão encontrou maneira civilizada de extorquir os frutos do trabalho, deixando os trabalhadores com a ilusão de liberdade, sem entenderem os prejuízos que amarguram.

Estes mecanismos atuam nas altas esferas da macro economia. Mas atingem diretamente o trabalhador. Tome-se o caso do agricultor que planta trigo no Brasil. O câmbio atual inviabiliza seu trabalho, ou lhe prepara prejuízo certo. Pois com o real valorizado, um saco de trigo acaba valendo só vinte reais. Mas seu custo de produção é de vinte e cinco. Enquanto isto, os que remetem ao exterior os dividendos dos seus investimentos especulativos estão felizes da vida. Com este câmbio conseguem enviar muito mais dólares para seus cofres privilegiados.

Quem paga o pato nesta situação? O trabalhador!

Formalmente, todos querem erradicar o trabalho escravo. Mas será que todos nos damos conta das teias da nova escravidão que envolvem hoje o trabalho humano?